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Cinema

Filme usa sobreposições de imagens para discutir valores atuais e dinheiro

O fluxo de 'Caminhos Magnétykos' é conduzido pela mistura de dor e solidão que um homem experimenta

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Caminhos Magnétykos

  • Classificação 14 anos
  • Elenco Dominique Pinon, Albano Jerónimo, Alba Baptista
  • Produção Portugal, Brasil, França, 2018
  • Direção Edgar Pêra

Edgar Pêra, cineasta português, faz filmes desde os anos 1980 do século passado. Não sabemos disso porque, por alguma razão, nos achamos no dever de esnobar Portugal (talvez seja um efeito tardio do colonialismo). O fato é que assistir a “Caminhos Magnétykos” equivale a pegar um bonde andando.

Não é fácil: o caminho de Pêra é o da experimentação. Trata-se de menos de desenvolver uma ficção do que tomar um ponto de partida e trabalhar sobre ele. O ponto de partida, digamos assim, diz respeito a um pai (Dominique Pinon) em sua relação com a filha (Alba Baptista), entregue contra a vontade dele a um casamento com um homem rico e, talvez, sem grandes escrúpulos.

O fluxo das imagens é conduzido pela mistura de dor e solidão que o pai sente em vista da experiência humilhante. De certa forma, é diante de um melodrama que nos encontramos, apenas que conduzido com outros. Raramente, Pêra consente em usar uma imagem que não seja sobreposta a outra (ou a outras).

Mas não é a questão anedótica que baseia o filme: se as superposições frequentes permitem ao autor representar o estado mental do pai, o fundamento do filme parece estar em outra parte. Mais exatamente, na discussão sobre os valores contemporâneos. A saber, por que o único real valor que tem eficácia é o dinheiro? Por que valemos o que vale a conta bancária de cada um?

Não é uma discussão fútil. Não se trata de voltar a um tema eterno. O tema tem uma pertinência contemporânea. Se o dinheiro sempre foi valor seguro e fonte de poder no mundo capitalista, por que nas últimas décadas tornou-se o valor dos valores?

É como se esse filme em que as sobreposições, fusões, efeitos são tão presentes buscasse nelas uma explicação para um momento da humanidade em que outros valores se apagam em favor de uma imagem, a do dinheiro, e de uma dor, a de não possuí-lo.

Não é um filme que faça exultar. Mas, sim, é intrigante.

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