Melancolia pós-Trump dá o tom do novo show de Madeleine Peyroux no Brasil

Artista que se apresenta em SP neste sábado aposta nas letras politizadas para fugir do carimbo de cantora de jazz

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São Paulo

Madeleine Peyroux tem público fiel no Brasil. A cada visita ao país, trouxe um show diferente, no conceito e no repertório. A cantora americana de nome francês, de 45 anos, tem muitos recursos para cativar a plateia, podendo mudar facilmente os rumos de um show. Categoria de quem aprendeu muito cantando nas ruas.

Desta vez, o próprio repertório será um diferencial, mesmo para seu público mais fervoroso. Ela traz ao Brasil as músicas de “Anthem”, seu nono álbum e o primeiro com caráter mais político, tanto nas letras autorais como na escolha de regravações.

mulher de cabelo curto usando roupa vermelha
A cantora Madeleine Peyroux - Yann Orhan/Divulgação
 

Duas canções não autorais entram no álbum com um viés libertário. São hinos de poesia engajada. Do canadense Leonard Cohen, um de seus ídolos declarados, gravou a melancólica canção que dá título ao álbum. E “Liberté” é a versão musicada do poema de Paul Éluard sobre a ocupação nazista na França.
O repertório foi composto em 2016, quando Donald Trump ganhou a corrida presidencial nos Estados Unidos. O tom triste e político das letras veio naturalmente.

“Minha vida é simples, faço poucas coisas, e uma delas é cantar. Quando estou no palco, sinto que não posso deixar de falar sobre o que estou pensando. Viver na América na última eleição foi tão intenso que não é possível deixar de falar como ela afetou a vida das pessoas. Tive de escrever canções sobre isso.”

“Anthem” não é uma peça inovadora na carreira de Madeleine apenas pelas canções de letras contundentes. O método de gravação do disco foi configurado de uma maneira completamente nova para ela.

O disco veio de um encontro promovido pelo produtor Larry Kein, que já trabalhou muito com ela. Ele reuniu a cantora com compositores e músicos que já atuaram com grandes estrelas do pop e rock dito maduro: Patrick Warren (Bob Dylan, Bruce Springsteen) nos teclados, Brian MacLeod (Leonard Cohen, Tina Turner) na bateria e David Berwald (Joni Mitchell, Sheryl Crow) na guitarra. Todos participaram da concepção e da gravação do álbum.

“Foi muito especial ter cinco pessoas dentro de uma sala, em intenso brainstorm. Nunca tinha feito algo assim. No máximo tinha feito parcerias com uma ou duas pessoas. Ali, todos tinham com o que colaborar. Repassamos cada detalhe.”

Ela tem cinco álbuns produzidos por Larry Klein. “Eu acho que não tenho outra pessoa como ele, que carregue os mesmos desejos que eu tenho, compartilhamos metas musicais. 

E ele é de uma integridade que transforma nosso trabalho em algo único.”

O show em São Paulo terá boa parte do repertório de “Anthem” e alguns hits da carreira misturados a surpresas. “Mudo pouco, mas o tempo todo.”

O carimbo de cantora de jazz, que colou forte na artista e gera até comparações com Billie Holiday, é constantemente ultrapassado pelo trabalho da compositora. Sim, sua música é jazz, de altíssimo padrão, mas às vezes é também pop, folk, blues, soul e até funk.

Foi assim desde as apresentações nas ruas de Paris, quando tinha apenas 16 anos. Descoberta em 1996 pelo produtor Yves Beauvais, a transição para o mercado tradicional de música fez sucesso rápido e crescente.

“Nunca esperei ter uma carreira. Tudo bem para mim, eu entendo quem aplica esse rótulo de cantora de jazz. Eu apenas canto.”
 

Madeleine Peyroux

  • Quando Sábado (14), às 22h
  • Onde Tom Brasil, r. Bragança Paulista, 1.281
  • Preço De R$ 100 a R$ 360
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