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Mostras de arquitetura testam modelos para seguir com relevância

Caráter propositivo, maior influência dos curadores e exploração do potencial da tecnologia são alguns dos caminhos possíveis

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Saber que a Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo completa uma dúzia de edições causa estranhamento —ou indiferença— ao público geral, que não os arquitetos e um grupo de interessados. 

Inexiste a expectativa de costume, já que a regularidade do evento foi várias vezes perdida. A mostra inaugural ocorreu em 1973; a seguinte, 20 anos depois. Prevista para anos ímpares, não se realizou em 1995, 2001 e 2015. O desconhecimento recente justifica-se também pela parca repercussão da edição de 2017.

Ainda é preciso lembrar que a BIA não mais ocorre no Pavilhão da Bienal no Ibirapuera. Desde 2011, a mostra teve diferentes sedes, como a Oca, o CCSP e as instalações temporárias do Sesc Parque Dom Pedro. Devido a conflitos financeiros entre instituições promotoras, a Fundação Bienal se desvinculou do evento.

A lista de dificuldades poderia continuar, mas vamos ao cerne —uma bienal de arquitetura ainda pode ser relevante? Segundo qual modelo?

Essas não são questões exclusivas do caso paulistano. O debate ocorre também nas bienais de arquitetura de Veneza —a mais célebre—, Chicago e Shenzhen — ambas com grande repercussão nesta década.

Por princípio, enquanto uma exposição de arte apresenta o trabalho em si, uma mostra de arquitetura exibe representações, seja de edificações ou de planos urbanos.

Tradicionalmente, a representação arquitetônica se compõe de desenhos técnicos, como uma planta, nos quais se assenta a autoridade do arquiteto. Saber fazê-los o distingue como especialista. O problema é que a leitura de tais desenhos recorrentemente entedia os não iniciados.

Croquis, maquetes, fotografias e vídeos são visualmente atraentes, mas a internet trouxe outra questão—por que ir a uma mostra para ver projetos reproduzidos em profusão de imagens em sites? Não faz mais sentido uma bienal de centenas de painéis com informações que precisam ser minuciosamente decodificadas para sua compreensão.

Esse modelo tem sido superado em recentes bienais, convertidas em mostras de caráter propositivo, especialmente em relação a questões que afetam a vida da população, como políticas públicas e a mobilidade nas cidades.

Com as bienais mais próximas de laboratórios de pesquisas da atualidade, a figura do curador ganha importância e, nesse sentido, cabe elogiar a iniciativa do Instituto de Arquitetos do Brasil de fazer um concurso de curadoria.

Também frequentes hoje, as chamadas abertas, convocando propostas a partir de um tema central, instigam arquitetos a encontrar alternativas de representação. 

Por vezes, tensionando as propriedades de materiais, por outras, explorando o potencial da tecnologia na produção de imagens, vemos trabalhos próximos do domínio da instalação artística com escala e índole arquitetônicas.

Mudanças à parte, o desafio continua sendo o de sensibilizar o visitante, seja ele quem for. Quando bem-sucedida, uma Bienal ainda tem o poder de fomentar debates na esfera pública, indicar temas para pesquisas acadêmicas e orientar a pauta dos jornais.

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