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Cinema

Temática aproxima diretor de um François Truffaut dos tempos de Tinder

Em 'Encontros', Cédric Klapisch retoma o tema dos relacionamentos truncados num cenário urbano

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Neusa Barbosa

Encontros

  • Quando Estreia quinta (3)
  • Elenco Ana Girardot, François Civil
  • Produção França/Bélgica, 2019
  • Direção Cédric Klapisch

Diretor com quase 30 anos de estrada, o francês Cédric Klapisch é um agudo observador de relacionamentos interpessoais em ambientes urbanos, cultivando um gosto pelo detalhe e o cotidiano dos relacionamentos que o aproxima de um François Truffaut transplantado aos tempos de internet, Tinder e robotização industrial. Como o cultuado diretor da nouvelle vague, Klapisch, roteirista dos próprios filmes, prefere a crônica da intimidade para falar de uma época em que tudo impulsiona a impessoalidade.

A rigor, não há nada de novo neste cinema que conjuga em seus personagens a inadequação pessoal, o desejo insatisfeito e os conflitos familiares, marca do diretor em sua trilogia “Albergue Espanhol” (2002), “Bonecas Russas” (2003) e “O Enigma Chinês” (2013).

Klapisch continua também fiel ao elenco de seus filmes, mantendo a dupla Ana Girardot e François Civil, protagonistas deste “Encontros” depois de atuarem em “O que nos Liga” (2017), assim como antes acompanhou a passagem da juventude à maturidade de seus atores-fetiche Romain Duris, Audrey Tautou e outros na citada trilogia.

Nem por retornar a tantos elementos de sua obra, incluindo a inserção de seus protagonistas nos exteriores de uma grande cidade —aqui é Paris, mais uma vez—, deixa de haver frescor neste novo filme do cineasta.

Isto decorre de sua sintonia fina com a temperatura do mundo moderno, do qual ele toma o pulso com atenção. É fácil enxergar em Mélanie (Ana Girardot), uma pesquisadora científica, e Rémy (François Civil), funcionário de uma empresa de entregas, protótipos de jovens adultos mergulhados em problemas de amor e trabalho iguais aos de quase todos os cidadãos do planeta hoje. Vizinhos, levam vidas paralelamente complicadas sem nunca de verdade conhecer-se —no máximo, passam um ao lado do outro, alimentando-se a expectativa de se um dia irão afinal comunicar-se. 

Essa identificação imediata é o grande segredo do sucesso do diretor, que aqui vale-se das intervenções de dois terapeutas (Camille Cottin e François Berléand) para assinalar o caminho de um humanismo possível em tempos sombrios. É assim, sem feitos heroicos, que se afirma este filme muito fácil de gostar mas que de óbvio só tem a aparência. 

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