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Cinema

Filme de Woody Allen diverte mesmo com temas requentados

O elemento realmente original de 'Um Dia de Chuva em Nova York' é a figura da detestada mãe

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Um Dia de Chuva em Nova York

  • Classificação 14 anos
  • Elenco Timothée Chalamet, Elle Fanning e Selena Gomez
  • Produção EUA, 2019
  • Direção Woody Allen
  • Estreia Nesta quinta (21)

Sabemos quanto, em Woody Allen, os sentimentos são voláteis. Sabemos como as jovens são capazes de se deixar levar por homens mais velhos, se possível um tanto sábios, bonitões e charmosos.

Parece que desta vez não será assim com Ashleigh Enright, garota rica e caipira, namorada de seu colega de faculdade, Gatsby (Timothée Chalamet), com quem vai passar um fim de semana em Nova York, onde entrevistará um famoso diretor de cinema.

Em "Um Dia de Chuva em Nova York", Gatsby é nova-iorquino e com Ashleigh forma um casal apaixonado. Independentemente disso, ele pretende impressioná-la com dias cheios de atrações da cidade. Logo, porém, vemos que não será bem assim: a garota se deixa fascinar pelo diretor. E este parece disposto a se aproveitar disso tanto quanto puder.

Mas ele não é o único. O dia de Ashleigh parece povoado de homens capazes de deslumbrá-la e fasciná-la. Na verdade, o que a fascina é a fama, antes de tudo: ela faz com que se sinta importante, com aqueles homens lhe dando tanta atenção.

O certo é que, inadvertidamente, a garota vai descombinando tudo o que havia combinado com o 
pequeno Gatsby. Este dedica o tempo vazio a seu esporte favorito, a jogatina (tem imensa sorte ou competência, tanto faz).

Quando não, enche a cara de ciúmes, ou se empenha em detestar a mãe autoritária, que fará uma festa à qual ele não pretende comparecer. Também passeia pela cidade e faz figuração no filme que um amigo está rodando —nessa ocasião encontra a irmã mais nova de uma ex-namorada com quem antipatiza de imediato.

A rigor, Gatsby experimenta uma tremenda frustração, por conta dos desencontros com Ashleigh e, especialmente, porque seu cuidadoso planejamento desmorona a cada tábua que recebe dela.

Em poucas palavras, Woody Allen está no lugar de que mais gosta, Nova York, com os personagens que aprecia, no gênero em que melhor se dá, a comédia romântica, e diante de um tema que sabe desenvolver como poucos: a fragilidade de nossas relações e, sobretudo, de nossos sentimentos.

E, no entanto, algo parece falhar: é como se desta vez Woody requentasse temas e personagens que já trabalhou sem lhes acrescentar nada de significativo, a não ser a multiplicação das situações que envolvem os dois protagonistas.

Sim, somos volúveis, frágeis, deixamos nos levar por aparências, somos umas ruínas ambulantes, nunca alcançamos o que sonhamos etc. Isso, Woody Allen nos ensinou filme após filme, desde, praticamente, que começou a filmar. Impossível não gostar de reencontrar as mesmas angústias e o mesmo humor. Impossível não se decepcionar por essa variante oferecer tão pouca variação.

Não importa que seja um tanto requentado: Woody sempre encontra, aqui e ali, atalhos para nos divertir. No entanto, é sempre a mesma menina fascinada, os mesmos homens sedutores, o mesmo namorado perdido.

O elemento realmente original deste novo Woody Allen é a figura da detestada mãe. É ela que, entrando apenas no final, amarra todo o resto e dá nova face ao conhecido ceticismo do cineasta em relação à espécie humana: somos seres do acaso, que parece dirigir nossos descaminhos. Mas desse desenvolto acaso faz parte até nossa herança genética.

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