“Temos ódio à ditadura. Ódio e nojo. Amaldiçoamos a tirania onde quer que ela desgrace homens e nações. Principalmente na América Latina.”
Era 5 de outubro de 1988 e o deputado federal Ulysses Guimarães fazia um discurso veemente durante a cerimônia de promulgação da nova Constituição. Assim, ele reiterava seu papel central na política brasileira.
A Carta entrou em vigor durante o mandato de José Sarney, que foi de 1985 a 1990. Ele se tornou presidente com a morte de Tancredo Neves.
Nos anos Sarney, nenhum homem público teve tanto prestígio quanto o paulista Ulysses Guimarães, presidente da Câmara dos Deputados e do PMDB. Era visto pelos colegas da política e pela
opinião pública como uma espécie de primeiro-ministro.
O volume 22 da Coleção Folha trata da vitória da chapa Tancredo-Sarney em eleição indireta no Congresso Nacional, dando início à redemocratização. Aborda também a morte do político mineiro, que não chegou a tomar posse, e a administração do maranhense, marcada pela aprovação da Constituição e pelo combate mal-sucedido à inflação.
Escrito pelo jornalista Fernando Figueiredo Mello, o livro chega às bancas no próximo domingo, dia 9.
Como afirmou o próprio Ulysses, que presidiu a Assembleia Constituinte, a Carta “certamente não é perfeita”. Entre dezenas de problemas em meio a 250 artigos e 114 disposições transitórias, havia a determinação de “transferência de recursos tributários da União para estados e municípios sem equivalente transferência de responsabilidade”, como aponta o autor do livro.
Mas a Constituição Cidadã, como Ulysses a chamava, representava um avanço expressivo na defesa dos direitos individuais e no reconhecimento dos direitos políticos e sociais das minorias. A Carta de 1988 consolidava o desfecho de um regime autoritário que havia vigorado no país por mais de duas décadas.
No mesmo discurso de 1988, que abre este texto, Ulysses, emocionado, enfatizou a necessidade de respeitar a Constituição recém-promulgada. “Quanto a ela, discordar, sim. Divergir, sim. Descumprir,
jamais. Afrontá-la, nunca.”
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