Irmãos Campana mostram no Rio móveis que refletem exuberância do Brasil

Exposição no MAM tem mais de 80 peças criadas pela dupla em seus 35 anos de carreira

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Rio de Janeiro

É difícil segurar o ímpeto de deitar sobre uma enorme massa roxa de fios grossos de veludo cintilante que parece tão confortável. E o sofá "Boa" é só uma entre outras tentações da exposição dos irmãos Campana que será aberta neste fim de semana, no Rio de Janeiro.

“É atraente sobretudo para crianças, vai ser um problema para a segurança do museu”, brinca Fernando Campana, metade da dupla com o irmão Humberto, enquanto caminha pelo espaço do Museu de Arte Moderna do Rio.

Na maior mostra dos designers brasileiros já feita no país, estão expostas mais de 80 peças, entre poltronas, sofás, tapetes, lustres e móveis, todas criadas nos 35 anos de trabalho da dupla. Cerca de 80% delas nunca foram expostas no Brasil.

Há ainda esculturas de cada um deles em trabalho solo, como uma série de Fernando composta por bonequinhos de soldados que são, na verdade, apontadores de metal, e por miniaturas de monumentos famosos no mundo, como a torre Eiffel e o Big Ben, ou um cachorro engolindo lixo desenhado por Humberto e feito em cerâmica portuguesa Bordallo Pinheiro.

A italiana Francesca Alfano Miglietti organizou a mostra como uma espécie de floresta, com altas torres cobertas de faixas de piaçava que criam setores com nomes como tempo, amor, sonho e metamorfose. Das torres saem as vozes dos irmãos Humberto e Fernando, que lêem os textos sobre seu trabalho escritos por Alfano Miglietti.

Eles comentam que a italiana, assim como eles, não vê diferença entre design e arte. “Hoje não existe mais fronteiras entre as artes, a pessoa pode ser performática mesmo sendo jardineiro. Nós trabalhamos com figurino, cenografia, paisagismo, arquitetura, esculturas”, diz Fernando.

Cadeira 'Vermelha', peça dos irmãos Campana, que abrem exposição no Rio de Janeiro - Divulgação

Tampouco fazem distinção entre arte e artesanato. “Nós somos artesãos, não vejo artesanato de forma pejorativa, porque, quando é bem pensado, o artesanato é design. Nosso trabalho às vezes parece casual, mas tem uma construção da casualidade”, diz Humberto.

“O mundo hoje quer trazer de volta valores que buscam a não pasteurização, é importante criar peças singulares, incluir as comunidades na cadeia produtiva, e ter responsabilidade social”, completa.

Em 2009 os irmãos fundaram o Instituto Campana, que busca resgatar técnicas artesanais, trabalhar com inclusão social e preservar a obra da dupla. Há na mostra uma poltrona feita com ursinhos de couro confeccionados por mulheres ligadas a homens que estão no sistema carcerário no interior de São Paulo ou um tapete com bonecos de tecido costurados por mulheres do interior da Paraíba.

A obra mais antiga da mostra é uma cadeira de 1989, da coleção "Desconfortáveis", feita de ferro. Humberto conta que, naquele momento, queriam questionar o modernismo. “Será que o modernismo é a melhor escola para representar o país? Passamos a pesquisar o Brasil profundamente, as culturas africana e indígena”, diz. “E o que está em vias de desaparecer”, completa Fernando.

Há ainda uma enorme poltrona cinza cintilante que lembra um peixe, chamada "Sereia", feita em bronze e pele de pirarucu, e um sofá em que cadeiras de plástico se misturam ao vime.

“O Brasil não é um país cartesiano, é cheio de misturas”, diz Fernando, sobre como o país inspira o trabalho dos dois.

Kendall Jenner, uma das irmãs das Kardashians, comprou um "Boa" há quatro anos. Se o leitor não é amigo de Kendall, e nem de outros que tenham Campanas em casa, pode ao menos observar a beleza e conforto que as peças dos irmãos brasileiros transmitem.

Quem visitar o MAM pode ainda conferir, em meio à mostra do acervo do museu, uma sala dedicada à carioca Wanda Pimentel, morta em dezembro. São pinturas, serigrafias, desenhos e objetos da artista da nova figuração selecionados por Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes.

Segundo Cocchiarale, graças à ressignificação que está sendo feita quanto ao papel das mulheres nas artes, o trabalho de Pimentel está numa fase de reconhecimento crescente. Seus trabalhos, em cores chapadas que dialogam com a comunicação de massa dos cartazes, mostram pedaços de figuras de mulheres em ambientes íntimos recortados, exalando sensualidade numa visão feminina.

Irmãos Campana – 35 Revoluções

  • Quando De ter. a dom., das 10h às 17h. A partir de 14/3, às 15h; até 17/5. Wanda até 24/5
  • Onde MAM - Rio (Museu de Arte Moderna), av. Infante Dom Henrique, 85, Parque do Flamengo. Tel. (21) 3883-5600
  • Preço R$14 (quartas: grátis)
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