'Meu trabalho é energia positiva diante da tristeza', disse Moraes Moreira à Folha

Músico, que morreu nesta segunda (13), conversou com o jornal em 1978, quatro anos após sair dos Novos Baianos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

"Há toda uma vivência de comunidade com os Novos Baianos. Isso foi parte da minha geração, uma vivência única. Aprendi a dividir as coisas, em todos os níveis, material ou não", disse o cantor Moraes Moreira à Folha em 1978, quatro anos depois de deixar os Novos Baianos

Cantor, compositor e fundador dos Novos Baianos, Moraes morreu nesta segunda (13), aos 72 anos, no Rio de Janeiro. Segundo a família do músico, a causa da morte foi um infarto no miocárdio.

"Minha música não diz 'abaixo a ditadura', mas falo sobre minha maneira de viver, que pode ser a que não interessa ao sistema", disse Moraes na entrevista no fim dos anos 1970. "Cada um tem sua arma, a minha é o violão. Meu trabalho é energia positiva diante da tristeza."

Na época, ele tinha 30 anos e falava sobre o início de sua vida artística, a formação dos Novos Baianos, sua saída do grupo e a carreira solo.

"Para continuar o que Caetano e Gil haviam começado, era preciso ter muita ousadia. E nós tivemos, aguentamos a barra e vendemos 200 mil discos em 1972", afirmou o músico, que nasceu em Ituaçu, no interior da Bahia, e sempre se interessou pela música.

"Sou da gração dos cabeludos, a geração da da cabeça desfeita que escuta tanto João Gilberto como Jimi Hendrix."

Aos 18 anos, ele se mudou para Salvador e conheceu Tom Zé, que o incentivou a fazer shows no Teatro Vila Velha e o apresentou a Luiz Galvão.

No final de 1960, formou a banda Novos Baianos, que tinha como integrantes Luiz Galvão, Baby do Brasil, Pepeu Gomes, Dadi Carvalho e Paulinho Boca de Cantor —além de Moraes.

"Começamos a assumir o comportamento novo que estava pintando para a juventude brasileira", disse o músico, que, na entrevista, definiu os Novos Baianos como pró-tropicalista e "um toque de coisa meio marginal".

Segundo o artista, a banda nunca foi um conjunto de rock, e sim "de vanguarda". O álbum "Acabou Chorare" é a prova viva de que os integrantes faziam um trabalho a partir de sua própria cultura, afirmava o cantor.

A saída de Moraes dos Novos Baianos ocorreu em 1970 porque, segundo ele, o grupo tinha chegado a um ponto que "estava criando sem espontaneidade". E em 1978, ano em que o texto foi publicado na Folha, o artista lançava seu terceiro disco solo: "Alto-Falante".

"De 1968 pra cá [1978] rolou muita água. Continuo com a mesma fé, a mesma vontade de criar. Só que agora o trabalho é muito mais consciente. Tudo que antes era projeto já foi realizado. Da maneira mais louca, mais sofrida e mais alegre também. E se houve essa possibilidade, é poque existe alguma verdade no que defendemos, na nossa maneira de fazer música, de ser, de viver. Tudo isso pode não ser reconhecido pelos donos da música brasileira –a Novos Baianos sempre teve um toque de coisa meio marginal–, mas eu dou valor", disse Moraes.

Leia aqui a íntegra do texto de 1978, no Acervo Folha.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.