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Cinema

Discussão de fé e atuação soberba alavancam polonês indicado ao Oscar

'Corpus Christi' perdeu a estatueta de filme internacional para o sul-coreano 'Parasita'

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Corpus Christi

  • Onde Cinema Virtual
  • Preço R$ 24,90 (locação)
  • Classificação 16 anos
  • Elenco Aleksandra Konieczna, Barbara Kurzaj, Bartosz Bielenia e Eliza Rycembel
  • Produção Boze Cialo, Polônia, 2019
  • Direção Jan Komasa
  • Link: cinemavirtual.com.br
  • Duração 115 min

Sendo um filme polonês, não é estranho que “Corpus Christi” esteja impregnado pelo catolicismo. Nem é estranho que bem e mal, possessão e santidade, culpa e inocência convivam na mesma pessoa. Em Daniel (Bartosz Bielenia), no caso: ele é um jovem que, tendo cometido um crime e pretendendo se tornar padre, descobre, ao receber a condicional, que nenhum seminário o aceitará.

A solução é trabalhar na serraria de uma pequena cidade junto com outros ex-presidiários. Com isso, seu sonho de se tornar padre chega ao fim. Ou não. Chegando ao lugar, Daniel desvia-se da serraria e vai à igreja local, onde se apresenta como padre. O velho cura local engole a história. Pior, pouco depois cai doente e cabe a Daniel a tarefa de substituí-lo.

Ora, o que se vê então pode ser raro, mas não surpreendente. A experiência de Daniel na marginalidade o credencia a ser justo e tolerante, ao mesmo tempo em que alguns fatos passados no lugar escondem tensões insuperáveis, que ele tentará enfrentar, no sentido de pacificar o lugar.

Certamente, o diretor Jan Komasa não pretendia limitar seu filme a um caso único ou especial. Sim, a fé está presente com toda a angústia que se pode imaginar: em Daniel existe o homem puro (o padre), mas também o pecado original (o crime) inscrito em sua pele —pele que exibirá aos fiéis em dado momento, como uma espécie de prova da dualidade que existe em cada homem.

Ou, um pouco além: da dualidade que existe no próprio Deus, de onde emanam tanto o bem como o mal, o sagrado e o demoníaco. O corpo de Daniel é, na visão de Komasa, um pouco o corpo de Cristo pregado na cruz, com toda a dor e seus dois lados: o santo e o demônio que existem nele.

Pelo menos desde “Madre Joana dos Anjos” (1961), de Jerzy Kawalerowicz, conhecemos bem o tamanho da angústia do catolicismo, tal como praticado (vivido seria uma palavra melhor) na Polônia. O de Daniel não parece dever muito à alma intransigente do pontífice João Paulo 2º. Parece mais próximo de Francisco, o santo. E no entanto está a léguas de distância do franciscanismo tal como visto por, digamos, Roberto Rossellini em “Francisco, Arauto de Deus” (1950).

Filme digno, embora não original (trilha o terreno que Hitchcock visitou tantas vezes), não raro áspero (mas com andamento ágil o bastante para concorrer ao Oscar, onde perdeu o título de melhor filme internacional para “Parasita”), “Corpus Christi” acrescenta à dolorida dualidade de Daniel aquela de Eliza, a moça que o ama, cujo destino parece ainda mais nebuloso que o de seu mentor. Seja qual for, é do lado da tolerância que se coloca este filme que depende, em grande medida, da soberba atuação de Bartosz Bielena, espetacular como Daniel.

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