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Apagão de desfiles faz TV investigar moda sem deixar programas de competição

Onda de documentários no streaming e nova programação da Fashion TV tentam despertar interesse sobre quem faz roupa

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São Paulo

A moda adora a vida na primeira fila. E também flashes, risos, tops e a ideia de que a existência pode ser melhor quando se veste alta-costura e o champanhe é liberado ao meio-dia. A TV e o cinema sempre espelharam essa casca fina, até um vírus interditar o desfile, apagar o flash, murchar o sorriso e transformar o pijama na “peça-desejo” desta estação.

O resto é história, e é ela a espinha dorsal de programas lançados por plataformas de streaming e pela TV paga, dedicados ao universo da costura. Enquanto na Netflix estão disponíveis cinco documentários de nomes desconhecidos do grande público, como o estilista Jeremy Scott –“Jeremy Scott: O Designer do Povo”– e a ex-editora da Vogue italiana, Franca Sozzani –“Franca: Caos e Criação”–, a Amazon Prime contra-ataca.

mulher de vestido leve branco sobre poltrona
Cena da série 'Sagrados e Profanos', da Fashion TV, com direção de Pedro Zimmermann - Tiago Lopes/Divulgação

Depois de “McQueen”, um tratado sobre o estilista Alexander McQueen, e "Dior e Eu", a respeito da relação do estilista Raf Simons com o legado do costureiro, a plataforma distribui o novo “Martin Margiela: Em Suas Próprias Palavras”, que tem como mérito descortinar a obra de um dos designers mais enigmáticos da história.

Na semana passada, o Fashion TV, canal de origem francesa licenciado no país pelo grupo Box Brazil, entra de vez na disputa pela atenção do público fashionista ao apostar alto nesse conteúdo voltado para quem faz e fez roupas.

É possível que a série de oito episódios “Sagrados e Profanos”, da produtora Okna, seja pioneira no país ao explorar a relação da moda com as artes visuais sob o ponto de vista dos estilistas brasileiros.

O assunto não é exatamente novo, porque é sabido que, por exemplo, o expressionismo, tema do primeiro episódio, influenciou a forma com que McQueen fazia suas roupas. Ou que Christian Dior pescou referências dos artistas impressionistas, assunto do segundo filme de 24 minutos, para criar a languidez de seus vestidos.

Mas ao jogar luz sobre o impacto dos movimentos estéticos no trabalho dos designers nacionais, como a moda festa de Rober Dognani e o “patchwork” atemporal de Marcelo Sommer, a direção de Pedro Zimmermann, a partir de recursos de editoriais de moda em movimento e entrevistas com profissionais da área, tenta aproximar o país da costura internacional.

Desfile de Rober Dognani na 37ª edição da Casa de Criadores, no Ginásio do Pacaembu - REINALDO CANATO/UOL

Segundo o diretor da Box Brazil, Ramiro Azevedo, a nova leva de programas é resultado de chamamentos bianuais para produtoras, financiadas pelo Fundo Setorial do Audiovisual, que, em 2018, foi consolidado. Dos 480 projetos enviados à empresa, 40 eram dedicados à moda. Oito foram aprovados para distribuição, um recorde para o audiovisual fashionista.

“Rodei várias feiras explicando ao mercado a necessidade e o espaço vago para investir nesse tipo de conteúdo. O que exibimos agora é resultado disso”, ele conta. E foi um alívio para o canal.

Quando a pandemia bloqueou a realização de festas e desfiles, as mais de cem horas de imagens festeiras enviadas todo mês pela matriz francesa viraram duas.

Se não houvesse séries como a “Amazon Fashion”, exibida no primeiro semestre e que mostra a produção de vestuário na Amazônia, e “Teu Armário É Show”, que Azevedo adianta estrear em novembro revelando como artistas da música montam seus figurinos de palco, sua audiência passaria a ver as mesmas roupas e caras em reprises.

Um projeto sobre customização e moda sustentável também está confirmado para a grade.

A prova de fogo para essas produções começou neste mês, quando a Box assinou contrato com o Ibope para mensurar a audiência da moda depois que, segundo o executivo, o mercado publicitário passou a ver oportunidades no formato. Antes, só o canal Travel Box tinha a regalia.

O esforço é para se diferenciar da concorrência, que mesmo diante da impossibilidade de transformar em ícones novos rostos da moda num cenário de pandemia e crise econômica da indústria, se vale do termo em realities de competição como “Next in Fashion”, da Netflix, “Heróis da Moda”, do TLC, e “Making The Cut”, da Amazon Prime, e o nacional “Born to Fashion”, do E!.

Há, claro, espaço para o sonho, mas ele parece cada vez mais descolado da realidade. A maioria desses programas foram filmados no pré-pandemia, e eles agora servem mais como relíquias visuais de um tempo distante, quando o sonho de ganhar US$ 1 milhão para produzir uma coleção, capas de revista e múltiplas passarelas parecia factível.

A julgar pelos anúncios de que a maior parte das semanas de moda de Milão e Paris, neste e no próximo mês, será online, e que a São Paulo Fashion Week cancelou na semana passada os eventos presenciais de sua edição de novembro para transmitir conteúdo online, a casca de glamour, pelo menos por enquanto, continuará presa em reprises da história recente.

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