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Moda questiona prazo de validade da roupa e conceito de velho na SPFW

Com Ney Matogrosso e homenagem a Copacabana, coleções exploram atemporalidade e desejo por menos novidades

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São Paulo

Quantas roupas já foram deixadas de lado porque, depois de alguns meses, não cabiam mais, não estavam mais na moda ou não supriram a carência por novidades de quem a comprou. Parte das marcas que se apresentam nesta São Paulo Fashion Week quiseram mostrar que roupas podem envelhecer sem prazo de validade.

Neste sábado (7), a Modem apresentou em seu filme-desfile um compilado de seus parcos cinco anos de existência, mas para além da comemoração, o estilista André Boffano fez uma espécie de manifesto a favor do uso de peças antigas, que quando recombinadas assumem imagem fresca.

Peças de arquivo da grife foram colocadas em primeiro plano, enquanto modelos falavam sobre o que imaginam ser velho ou novo, passado e presente. Foi uma forma poética de tratar sobre o descarte de ideias e de tecidos que é comum nesse mercado.

As formas atemporais, a cartela de cores sóbria e os acessórios de linhas bem definidas são o forte da moda de Boffano, que também é estilista da Bobstore e, em sua marca própria, tem nas mãos o poder de questionar o próprio ambiente em que atua profissionalmente.

Essa relação sobre a perenidade da roupa também foi explorada pela Amapô, que é tida por muitos fashionistas como a marca que tem o jeans com o melhor caimento do país.

Foi ele a estrela do fashion filme das estilistas Carô Gold e Pitty Taliani, no qual modelos performam com mãos, pernas e poses como numa propaganda de jeans daquelas antigas dos anos 1980, quando modelagem, caimento e tecidos valiam mais na tela do que o rosto de quem as vestia.

As peças apresentadas por elas foram parcialmente recicladas de estoques e dos arquivos da marca, que se em temporadas anteriores explodia cores, agora prioriza os tons de índigo da Vicunha, maior têxtil de jeans do país e que apoiou a apresentação das designers.

Há uma espécie de faxina geral nesta temporada que termina hoje. Na sexta-feira (6), por exemplo, outra marca querida do público da moda, a carioca Handred, limou ruídos de sua moda passada e fez uma coleção enxuta de peças leves, com muita seda e estampas geométricas inspiradas no bairro de Copacabana, patrimônio do Rio e do imaginário do estilista André Namitala.

Os tons de areia de seus prédios, que mesmo antigos não perdem o posto de cartão postal carioca, preenchem o vídeo filmado na areia e também alguns dos looks em silhueta reta, camisões, calças e chapelões que são a cara do estereótipo solar das elites.

Até o branco gelado alguns tons mais baixos do chamado “off-white”, que tinge o símbolo daquele bairro, o Copacabana Palace, parece ter servido de mote para a coleção atemporal da marca.

Temporalidade. Essa palavra resumiu de todas as formas a última coleção apresentada na noite deste sábado, quando o cantor Ney Matogrosso começou a declamar os versos do capixaba Sergio Sampaio em sua música “Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua” (1973).

O vídeo do estilista Lino Villaventura foi dirigido pelo fotógrafo Miro, um dos maiores responsáveis pela iconografia fashion do século 20 no Brasil, e filmado nos bastidores de um palco vazio, em silêncio pelo esvaziamento dos espetáculos imposto pela pandemia.

A lamúria paulatinamente cede lugar ao renascimento do drama, seara pela qual Villaventura se tornou famoso –ele, aliás, assinou o figurino da última turnê de Ney Matogrosso, “Bloco Na Rua”, iniciada no ano passado.

Todas as texturas, nervuras e tons sanguinolentos pelos quais sua moda é reconhecida foram exploradas no vídeo, com as modelos trajadas com esses figurinos de palco que, mesmo não sendo a roupa padrão do asfalto, tem clientela cativa de mulheres e homens que transitam pela noite.

Essa sim, sempre viva, atenta aos sinais de dias melhores que podem chegar.

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