Seria possível dizer que mais uma era clássica chegou ao fim —uma era muito curta.
Uma ordem executiva assinada pelo ex-presidente Donald Trump nos dias finais de seu governo, que buscava transformar a arquitetura clássica em estilo oficial de novas edificações federais, foi revogada nesta semana pelo presidente Joe Biden, como parte do desmonte pela Casa Branca das políticas adotadas sob o governo anterior.
Ainda que a ordem promulgada por Trump não chegasse a proibir que projetos em estilo mais moderno fossem considerados, ela foi fortemente criticada por diversos arquitetos e associações arquitetônicas importantes —como o Instituto Americano de Arquitetos e o Fundo Nacional de Preservação Histórica— por buscar impor um estilo oficial predeterminado.
A ordem executiva de Trump, que ele assinou em dezembro depois de derrotado em sua tentativa de reeleição, tinha o título “promovendo uma arquitetura cívica federal bela” e elogiava a arquitetura greco-romana como “bela”, enquanto ao mesmo tempo definia projetos modernistas como “feios e incoerentes”.
Os defensores da ordem a saudaram como um retorno a uma era passada de estilo federalista. O Instituto Americano de Arquitetos, que havia se declarado “consternado” pela decisão de Trump, elogiou a decisão de revogar a medida.
O debate não girou exclusivamente em torno de estética.
“Ao revogar a ordem, o governo Biden restaurou a liberdade de escolha de design das comunidades, que é essencial para o projeto de edificações federais que sirvam melhor ao público”, afirmou Peter Exley, presidente do instituto, em comunicado. “Isso é fundamental para o processo de trabalho de um arquiteto e para obter edifícios da melhor qualidade possível."
Michael Kimmelman, crítico de arquitetura do The New York Times, havia condenado a medida quando ela foi debatida, em fevereiro do ano passado. “Ter de participar dessa discussão é degradante”, ele escreveu.
A ordem executiva do presidente Biden, assinada na quarta-feira, instrui as autoridades a “considerar prontamente medidas para rescindir quaisquer ordens, regras, regulamentos, diretrizes ou políticas, ou porções deles”, que possam ter implementado a ordem de Trump.
A ordem também determina a abolição de quaisquer “posições de trabalho, comitês, grupos de estudo ou outras entidades estabelecidas” para pôr a ordem em prática.
Não está claro que impacto mais amplo a revogação pode ter sobre o relacionamento entre o novo governo e os integrantes indicados por Trump que restam na Comissão de Belas Artes dos Estados Unidos.
Justin Shubow, indicado por Trump e eleito recentemente para a presidência da comissão, disse que era “decepcionante” ver revogada a ordem do ex-presidente, porque ele havia defendido sua adoção.
Como um dos maiores críticos da arquitetura moderna e presidente da Sociedade Nacional de Arte Cívica, Shubow desempenhou papel chave em levar a questão à atenção de Trump. Em seu site, a organização lastima estilos modernistas como o brutalismo e os define como “bolharquitetura” e “parasíticos”.
Shubow declarou em entrevista que a sociedade “pretende trabalhar com o governo Biden a fim de promover mudanças que construam uma arquitetura verdadeiramente democrática”.
Ao se opor à ordem proposta, no ano passado, o Fundo Nacional de Preservação Histórica divulgou um comunicado no qual afirmava que, embora apreciasse os edifícios tradicionais e clássicos, qualquer tentativa de “sufocar o registro pleno da arquitetura americana ao requerer que edificações sejam projetadas, ou mesmo alteradas, de forma a seguir uma lista estreita de estilos é incoerente com os valores da preservação histórica”.
Tradução de Paulo Migliacci
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