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Cinema mostra de cinema

Blockbusters e filmes infantis vão dominar o cinema pós-Covid

Quem gosta de dramas e comédias inteligentes está fadado a ficar em casa, já que salas menores serão atingidas em cheio

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Quem quiser especular sobre o impacto da pandemia de Covid-19 no cinema deve considerar filmes de animação, aventuras de super-heróis, thrillers de ação, comédias leves e o aparentemente infindável filão dos filmes de terror. Isso porque uma coisa é certa –a pandemia vai potencializar a infantilização do cinema.

Já faz algum tempo que Hollywood é uma enorme banca de gibis. As principais bilheterias ficam em poder de personagens de quadrinhos da Marvel ou da DC ou de adaptações de games. E, claro, animações infantis, que guardam na essência semelhança com os quadrinhos.

No isolamento social, mesmo em escalas diferentes, dependendo dos números da doença em cada país, as pessoas passaram a assistir aos filmes em casa e estão se acostumando com isso. Antes uma opção, foi o que restou diante das salas de cinema fechadas por semanas ou meses.

Mesmo com aparelhos de TV grandiosos, não é a mesma experiência de ir a uma sala com tela imensa e som Dolby. Mas traz vantagens de comodidade para quem prefere uma noite tranquila e barata. Assim, o cinema passa, rapidamente, a ser interesse apenas para quem faz da ida às salas um programa social, coletivo.

Esse público potencial tem duas grandes categorias, adolescentes e pais com filhos pequenos. É tarefa ingrata para os pais descobrir lugares para levar os pequenos. Esse problema se agravou demais na pandemia, então o cinema, que já era uma opção farta, agora é praticamente irresistível no “novo normal”. E os pais gostam de ver os filhos interagindo com outras crianças, numa sala com dezenas delas às gargalhadas.

Já os adolescentes vão em grupo ao cinema. Normalmente é apenas uma parada entre tantas que o programa noturno pode proporcionar. E a concentração para assistir aos filmes beira o zero absoluto. Eles querem namorar, fazer piadas, chatear uns aos outros. Daí a predileção por cinema barulhento –blockbusters de ação, histórias de super-herói e, sempre, filmes de terror, que nem precisam ser bons. Na verdade, na maioria das vezes não são. Mas alguns sustos gratuitos na trama já resolvem.

Como ficam os adeptos de cinema adulto, que gostam de dramas, biografias, comédias inteligentes, histórias sensíveis? Esses estão fadados a ficar em casa. Os filmes considerados “menores” estão há tempos enfiados em salas modestas. O problema é que o retorno inicial do público às salas vai atingir em cheio esse circuito.

Porque o distanciamento social deve permanecer obrigatório por um bom tempo, os cinemas reabrem com permissão para ocupação reduzida das salas, de 25% ou 35%. Assim, para um espaço que já é pequeno, a conta da venda de ingressos fica difícil de fechar. Muitos exibidores vão quebrar.

Os filmes para público maduro, aí entrando o grande vencedor do Oscar “Nomadland”, “Minari”, uma produção brasileira ou um novo Lars von Trier, serão naturalmente encaminhados para o streaming. Com orçamentos menores, produção mais ágil e distribuição rápida, global mesmo. Só quem torra milhões de dólares em efeitos visuais é que precisa do dinheiro dos ingressos.

Esse movimento já acontece. Durante a pandemia, em períodos de recuo de contaminação, foram lançados nas salas filmes como “Convenção das Bruxas” e “Monster Hunter”. O primeiro, uma animação para crianças. O segundo, um adaptação de game violento para adolescentes. Os dois com roteiros simplórios, o que pode ser posto na conta do público-alvo.

“Mulher Maravilha 1984”, que num período pré-pandêmico poderia passar de US$ 1 bilhão nas bilheterias, acabou indo praticamente direto para o streaming, num golpe forte para os circuitos exibidores pelo planeta.

Olhando para os próximos meses, o cinema terá suas grandes atrações infantojuvenis. Começando no dia 6 de maio, com “King Kong vs. Godzilla”, a lista tem “Cruella”, da Disney, o sci-fi “Um Lugar Silencioso 2”, o terror “Invocação do Mal 3” e outra franquia de volta, essa fortíssima, “Velozes e Furiosos 9”.

Em julho, mês de férias no hemisfério norte, se a pandemia não atrapalhar chegam “Cinderela” com atores, o quarto filme da franquia de animação “Hotel Transilvânia” e a continuação do mix de atores e desenho “Space Jam 2”, com Pernalonga e, no lugar de Michael Jordan, outra estrela do basquete, LeBron James.

A Marvel ataca com uma megaprodução, “Viúva Negra”, e dois filmes de orçamento menor, o segundo “Venon” e “Sang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis”, estreia de um personagem de gibi não tão conhecido, o Mestre do Kung-Fu. A DC contra-ataca com mais um “Esquadrão Suicida”, também com borderô enxuto.

As produções de ação mais baratas estão pipocando nos próximos meses. É a busca pelo público adolescente, com fortões do tamanho de Dayne Johnson como isca. O terror segue com dois ou três lançamentos a cada mês, com expectativa para “Malignant”, a nova obra de James Wan, atual mestre do gênero.

O mercado americano deve priorizar esse conjunto de ação, animação, super-heróis e horror. Nas salas dos shoppings brasileiros, essa é a boiada que deve passar. Resta ver se as salas pequenas vão buscar uma saúde financeira que permita ao público mais maduro sair de casa de vez em quando.

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