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Artes Cênicas

'Barnum' de Murilo Rosa diverte, mas roteiro causa estranheza

Versão brasileira de musical da Broadway acerta ao expor controvérsias do personagem, que ajudou a criar o circo

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BARNUM: O REI DO SHOW

  • Quando Até 28/11. Sex.: 20h30. Sáb.: 17h e 20h30. Dom.: 16h e 19h30
  • Onde Teatro Opus - shopping Villa Lobos, av. das Nações Unidas, 4.777
  • Preço De R$ 25 a R$ 200
  • Classificação Livre
  • Elenco Murilo Rosa, Kiara Sasso, Giulia Nadruz, Diva Menner
  • Direção Gustavo Barchilon
  • Duração 100 min.

Quatro anos atrás, a versão para cinema de "Barnum" foi frustrante. O filme procurou filtrar o que havia de ofensivo, aos olhos de hoje, no personagem-título e em seus espetáculos originais, de meados do século 19.

A exploração de irmãos siameses, anões, supostas sereias e outros foi transformada em retrato da diversidade —apagando o que era, trapaça comercial. Sem isso, o musical de 1980 perde o pouco caráter crítico que tem do capitalismo americano e sua indústria cultural.

P. T. Barnum foi o empresário, showman e "Príncipe dos Embustes", como ele dizia, que a partir de Nova York deu forma ao sensacionalismo que ajudou a estabelecer o circo itinerante americano, a própria Broadway, Hollywood et cetera.

Aquela pouca crítica ao showbiz está mais presente agora, na montagem brasileira, que não esconde se tratar de um protagonista controverso. Isso se deve em parte à interpretação de Murilo Rosa. É um ator que, se não alcança a estatura performática daquele que criou o personagem, Jim Dale, notório na Broadway dos anos 1980, se sobrepõe ao sorriso truncado de Hugh Jackman no filme.

Na cena talvez mais significativa, Rosa anda na corda bamba, como um artista de circo e como fazia Dale. Ele se arrisca, cai, mas tenta novamente e completa. Neste e noutros pontos, está presente, exposto, e isso torna o espetáculo mais próximo e vibrante.

Rosa tem extensão vocal, ainda que precise de maior controle sobre ela. Ele se retrai um pouco diante de suas principais parceiras de palco, Kiara Sasso, que faz a mulher de Barnum, e Giulia Nadruz, que faz a amante. O contraste parece sufocante para ele.

O triângulo amoroso que é base da história da peça é frágil, resultando em personagens também mal formados, mas as duas atrizes, quando cantam as músicas de Cy Coleman, estão entre os maiores prazeres de "Barnum".

Rosa tem empatia que faltou a Jackman e se integra bem ao amplo elenco. O que o espetáculo tem de mais envolvente, como peça dentro da peça, são seus artistas circenses, seu coro de malabaristas, acrobatas, dançarinos.

Alguns números empolgam a plateia. Chocam com saltos e outras ações de risco. Não há mais espaço para animais, como até recentemente, mas a experiência do circo está presente, na qualidade de artistas buscados nas lonas brasileiras.

Mesmo com tudo isso, não é musical de primeira grandeza. É entretenimento popular, diverte, mas não a ponto de vencer a estranheza causada por seu protagonista e por seu roteiro malformado.

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