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Cinema

'Being the Ricardos' está longe de fazer justiça à glória de 'I Love Lucy'

Cinebiografia, porém, cumpre tarefa de revelar detalhes íntimos da relação entre Lucille Ball e Desi Arnaz

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Being the Ricardos

  • Quando A partir de 21 de dezembro
  • Onde Disponível no Amazon Prime Video
  • Elenco Nicole Kidman, Javier Bardem, Nina Arlanda e J. K. Simmons

Lucille Ball ​foi a primeira superstar surgida na televisão. Atriz de sucesso mediano no cinema, ela viu os papéis minguarem à medida que se aproximava dos 40 anos de idade. Migrou primeiro para o rádio, e depois agarrou a chance de ter sua própria série no que era então um novo meio de comunicação.

Mas impôs uma condição –seu parceiro na sitcom seria seu marido, o músico cubano Desi Arnaz. A princípio, os executivos da rede CBS eram contrários à ideia, mas acabaram cedendo. "I Love Lucy" entrou no ar em 1951, mostrando as atribulações do casal Lucy e Ricky Ricardo. Um ano depois, já era o programa mais visto dos Estados Unidos, atraindo 60 milhões de espectadores toda semana.

O casal também inovou nos bastidores. Foi Arnaz quem decidiu que os episódios, que já eram gravados diante de uma plateia, fossem registrados por três câmeras simultaneamente. O chamado formato multicâmera sobrevive até hoje, tendo sido usado em séries como "Friends" e "The Big Bang Theory".

"I Love Lucy" está incorporado ao DNA cultural americano. Por isso, chega a ser surpreendente que Lucille Ball e Desi Arnaz ainda não tivessem merecido uma cinebiografia.

Este filme agora existe. É "Being the Ricardos", que chegou ao Amazon Prime Video, nesta semana. Escrito e dirigido por Aaron Sorkin, de "Os 7 de Chicago", o longa não segue a linha "do berço ao túmulo". Tem uma estrutura parecida com a de "Judy", de 2019. Ou seja, retrata um determinado momento da carreira de seus biografados, entremeado por flahsbacks.

Outra semelhança com "Judy", que rendeu um Oscar a Renée Zellweger pelo papel de Judy Garland, é o fato de os protagonistas de "Being the Ricardos" não desaparecerem dentro de seus personagens.

Nicole Kidman substituiu Cate Blanchett, inicialmente escalada. Não faltou quem reclamasse que uma escolha melhor seria Debra Messing, da série "Will & Grace", de fato muito parecida com Lucille Ball. Mas Kidman não busca a semelhança física com sua personagem. Prefere evocar Ball através de gestos e entonações de voz –e se sai bem.

Na verdade, interpreta dois papéis diferentes, o de Lucille Ball, a atriz de temperamento forte, e o de seu alter ego Lucy Ricardo, a dona de casa atrapalhada que sonhava com uma carreira no showbiz.

Javier Bardem, então, não lembra em nada o verdadeiro Desi Arnaz. Mas o ator espanhol entrega uma performance totalmente convincente. Seus números musicais em nightclubs são arrebatadores, e ele ainda traz um calor que contrasta com a frieza habitual de Kidman.

A ação se passa ao longo de uma única semana. Acompanhamos todo o processo de produção de um episódio, da leitura de mesa na segunda-feira até a gravação na sexta. Mas o show pode parar a qualquer momento, engolfado por uma tempestade perfeita de problemas.

O maior deles é a denúncia de que Ball pertence ao partido comunista, feita pelo colunista de fofocas Walter Winchell. Tecnicamente, é verdade. Ela assinou sua filiação 20 anos antes, para agradar ao avô, mas jamais se envolveu com política. Só que, nos Estados Unidos daquela época, uma acusação dessas era capaz de destruir carreiras.

Ball também suspeita que Arnaz a trai com outras mulheres. Além disso, teme que seu casamento vá a pique por ele não ser reconhecido como uma força criativa e um sagaz homem de negócios.

Ela está grávida e faz questão que essa gravidez seja incorporada ao programa, para escândalo dos diretores da CBS. "Como Ricky e Lucy vão ter um filho, se dormem em camas separadas?", pergunta um deles. Mas, mais uma vez, Ball prevalece. O episódio em que Lucy dá à luz foi ao ar no mesmo dia em que a atriz teve seu segundo bebê e bateu recordes de audiência.

Somemos a isso os perrengues habituais de qualquer set de filmagem –piadas que não funcionam, ensaios exaustivos, picuinha entre os atores. É preciso ter um especial interesse pelos meandros da televisão para se entreter com essas cenas, que podem espantar o público leigo.

Também é questionável se os jovens brasileiros de hoje sabem quem foi Lucille Ball. "I Love Lucy" sumiu há tempos da nossa TV aberta, e não está disponível em nenhum serviço de streaming. É uma pena. É simplesmente a nave-mãe de todas as sitcoms, a que consolidou o gênero e desenhou o mapa a ser seguido.

"Being the Ricardos" não chega a fazer justiça à glória que foi "I Love Lucy", mas cumpre a tarefa de revelar detalhes íntimos da relação entre Lucille Ball e Desi Arnaz. Que, aliás, não durou muito –o casal acabou se divorciando em 1960.

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