SP-Arte volta com obras de mais de R$ 12 milhões e estandes de R$ 170 mil

Setor aposta alto no retorno da feira ao Ibirapuera, com pinturas de medalhões e expectativas comparáveis ao pré-Covid

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Obra de arte

'Rio', obra de 1992 de Luiz Zerbini que estará na SP-Arte Guilherme Gouvêa/Divulgação

São Paulo

A primeira SP-Arte presencial desde o início da pandemia, realizada no ano passado, já tinha sido marcada por um clima de euforia. Afinal, era o retorno dos galeristas para os estandes, com a expectativa de vender —e bem. Mas, com a 18ª edição, 2021 acabou ficando com cara de esquenta para o evento de 2022. Agora, sim, parece a volta para valer das vendas.

Esse clima não se dá só pelo retorno da feira ao Pavilhão da Bienal após uma edição reduzida na Arca, local que recebeu o evento pela primeira vez no ano passado. Pipocam pela cidade aberturas, festas e encontros, e galeristas também fazem investimentos altos em resposta a um mercado que parece animado para gastar.

Fernanda Feitosa, que comanda a SP-Arte, avalia que essa é a edição da feira em que finalmente há uma confiança de que "estamos todos bem" em relação à pandemia. Ainda que não tenha voltado com 200 eventos abrindo junto com a feira, como já aconteceu no ápice dessa agitação em outros anos antes da pandemia, a agenda parece ter voltado a uma normalidade, segundo ela.

A realização do SP-Arte Weekend, uma programação de aberturas por diversos espaços na capital paulista, já assinala que o termômetro está mais alto agora do que esteve no ano passado, afirma Feitosa.

Essa empolgação comercial aparece, por exemplo, no projeto de estande da Gomide&Co. Thiago Gomide, que celebra o retorno da feira para o prédio da Bienal por ser um espaço mais generoso, investiu no seu maior estande na SP-Arte até hoje, de 90 metros quadrados —sob um valor que ultrapassa os R$ 170 mil, considerando o metro quadrado a R$ 1.890.

"Senti o potencial do mercado e agora vou investir para fazer um projeto maior e mais especial. Tinha obras maravilhosas na Arca, mas não gastei nem um real no projeto daquele estande. Agora estou fazendo justamente o inverso", diz ele, que leva um Miró avaliado em R$ 12 milhões como sua peça mais cara. A Almeida e Dale também apresenta obras nessa cifra, de R$ 12 milhões a R$ 15 milhões.

O cenário, aliás, não parece positivo em termos de mercado só para parâmetros do período pandêmico. Para Gomide, o ânimo nas vendas se compara hoje a meados da década de 2010. "Mas mesmo assim não havia ali tantas pessoas interessadas por arte como hoje. As pessoas que colecionam e têm dinheiro para isso veem hoje que os museus e galerias estão cheios, estão sendo celebrados. Isso dá uma injeção de ânimo no setor", afirma ele.

Alexandre Roesler, sócio da Nara Roesler, concorda com ele e avalia que as galerias estão investindo pesado nessa edição.

O ânimo na capital paulista é reflexo de uma agenda internacional que também voltou com tudo. "A gente deve fazer de dez a 11 feiras internacionais, fora o programa enorme que temos em São Paulo, Rio de Janeiro e Nova York", conta Roesler, que apresenta obras inéditas de artistas como Jonathas de Andrade, que representa o Brasil na próxima Bienal de Veneza.

Uma série de outros artistas que estão em destaque no circuito agora vão aparecer nos estandes, caso de Adriana Varejão e Luiz Zerbini, que estão com grande exposições na Pinacoteca e no Masp.

Também nessa costura com a programação da cidade, a Pinakotheke, voltada a arte moderna, leva três obras de Alfredo Volpi, que ganhou uma mostra extensa no museu projetado por Lina Bo Bardi.

Nem tudo são flores no mercado brasileiro, no entanto, ainda mais se o cenário for comparado à década anterior. "As atividades presenciais no Brasil hoje são vítimas de circunstâncias mundiais, como a guerra na Ucrânia e o dólar mais alto, e da operação tartaruga [dos auditores fiscais nas alfândegas], que atrasa a entregada de mercadorias", explica Fernanda Feitosa.

Houve também o surgimento de outros polos, como a Ásia, que tiraram em alguma medida a atenção de grandes colecionadores da América Latina. Isso também se reflete numa queda, nos últimos anos, da presença de nomes internacionais na feira.

A feira responde em parte a isso ao tentar estreitar laços com os países vizinhos no projeto em parceria com a South South, uma comunidade online de artistas, galeristas, curadores e colecionadores do hemisfério sul, para divulgar nomes da América Latina.

Feitosa vê como uma das tendências das galerias nesta edição apresentar artistas ainda não conhecidos largamente pelo circuito comercial, tanto os que estão em começo de carreira quanto os com trajetórias mais consolidadas, como é o caso da artista Ana Amorim que passou a ser representada pela Galeria Vermelho.

Neste ano, a feira inaugura um espaço para obras de nomes que ainda não têm representação, no esforço de colocar no circuito artistas ainda à margem. Vale lembrar que galerias jovens, como a HOA, que estreou na feira, já levam para o circuito obras de artistas emergentes.

A próxima edição também terá uma nova apresentação dos estandes. Agora, as galerias mais jovens e as mais consagradas de arte contemporânea ficarão juntas no segundo andar.

​Adriano Casanova, dono da galeria que leva seu sobrenome, viu com bons olhos a mudança. "Todas as galerias têm seu espaço, todo mundo é parceiro. Na Arca isso ficou claro porque era todo mundo no mesmo andar", diz ele, que leva obras que vão de R$ 6.500 a R$ 50 mil.

O galerista selecionou trabalhos que resgatam técnicas manuais, mas que têm como resultado uma aparência do universo digital, em diálogo com esse circuito que viu explodir as vendas de obras nesse meio. Na galeria, ele inclusive lança um trabalho comercializado em NFT.

Para Casanova, os colecionadores estão interessados em "beber da novidade e entender o mundo que a gente vive". Isso pode ser reflexo também da chegada de uma nova geração de colecionadores jovens, que têm chamado a atenção do circuito.

E pelo jeito quem está chegando agora para colecionar obras de arte terá um universo grande para selecionar o que comprar em São Paulo com uma nova agenda de três feiras no primeiro semestre —além da ArtSampa, realizada na Oca no mês passado, e da SP-Arte, há ainda a ArPa, que acontece no Pacaembu, em junho.

"Acho que é importante para o desenvolvimento desse sistema que outras feiras aconteçam em São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, e que seja cada vez mais pulverizado", afirma Jaqueline Martins, que tem galeria que leva seu nome. Ela também reforça que há uma mudança de humor favorável para vendas nos últimos tempos, principalmente na última semana, com a queda do dólar.

Thiago Gomide, da Gomide&Co, também vê esse calendário agitado como uma "concorrência saudável". Mas lembra que a SP-Arte continua sendo o evento mais relevante da América Latina. "O reinado da feira está longe de ser ameaçado", diz ele.

SP-Arte em números

  • 133 galerias no total
  • 92 galerias brasileiras
  • 9 galerias internacionais
  • 32 galerias de design
  • 14 editoras

SP-ARTE

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