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LGBTQIA+

'Strange Loop' e revival de 'Company' são as maiores apostas do Tony

No Brasil, a transmissão da cerimônia será feita pelo canal por assinatura Film & Arts, a partir das 21h

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João Lourenço

O teatro foi um dos segmentos artísticos que mais sentiu os efeitos do isolamento provocado pela Covid-19. Em Nova York, cerca de 41 teatros ficaram fechados por 19 meses. A Broadway apagou as luzes das marquises e os espetáculos precisaram ser encenados digitalmente pela plataforma Zoom, além de transformados em vídeos, jogos interativos ou em episódios de podcasts.

Até mesmo "Hamilton", o musical mais disputado e premiado da última década, ganhou versão para streaming. Mas, com a diminuição de casos de Covid, há cerca de um ano as luzes dos palcos voltaram a brilhar. Porém, para se manter relevante, as atualizações desenvolvidas na pandemia precisaram refletir nas produções em cartaz.

cinco atores pulando no palco
Cena do musical "Strange Loop", campeão de indicações ao Tony Awards em 2022 - Sara Krulwich/The New York Times

Criticada por ser uma indústria elitista e excludente, a Broadway retornou mais acessível e passou a promover novas vozes e histórias para o público. O esforço coletivo de produtores, atores e dramaturgos será reconhecido na cerimônia de 75 anos do Tony Awards, marcada para este domingo.

Além de ser a maior premiação do teatro mundial, a edição deste ano se destaca pela diversidade e ineditismo nas nomeações. No Brasil, a transmissão da cerimônia será feita pelo canal por assinatura Film & Arts, a partir das 21h.

L Morgan Lee faz história como a primeira pessoa transgênero a ser indicada ao prêmio de atriz. Ela concorre com veteranas como Patti Lupone, indicada por "Company" e duas vezes ganhadora do Tony —por "Evita", em 1986, e "Gipsy", em 2008. Lee concorre pelo musical "Strange Loop".

"Pessoas trans sempre existiram, então é difícil pensar que a gente nunca esteve presente nesses lugares. Testar a representatividade é possível e necessário", defende Lua Lamberti, pesquisadora e primeira professora travesti de artes cênicas na Universidade Estadual de Maringá, no Paraná. No musical, Lee se desdobra em diversos papéis —conselheira, médica e até como fantasma de Whitney Houston.

O musical pelo qual Lee é indicada é dos maiores representantes da nova repaginada da Broadway. "Strange Loop" é a campeã de indicações ao Tony. Além de concorrer a 11 categorias, recebeu o Pulitzer em 2020. E chega à Broadway como um "grande musical americano queer e negro". "Strange Loop" é um dos primeiros musicais a apresentar um elenco inteiramente negro e LGBTQIA+.

Além das decisões inclusivas de produção e elenco, o musical inova ao apresentar uma história original sobre um jovem gay negro chamado Usher que trabalha como lanterninha em um teatro e está tentando escrever um musical chamado "Strange Loop" sobre um gay negro tentando escrever um musical.

homem negro de óculos sorri
Michael R. Jackson chega a celebração de gala da revista Time - Caitlin Ochs/Reuters

A trajetória é composta por um coral grego que ocupa o lugar dos pensamentos sabotadores do autor. Em uníssono, eles insistem que Usher se venda e escreva uma peça popular e acessível sobre a identidade negra americana.

A indecisão do protagonista se traduz em números que passam por gospel e hip-hop. Os números lidam com as questões de violência, exclusão e pertencimento que corpos negros e queer encaram diariamente na América do Black Lives Matter. O musical é inspirado levemente na vida do dramaturgo, que também trabalhou como lanterninha em musicais da Broadway.

Dessa forma, a grande batalha desse Tony Awards fica entre o dramaturgo Michael R. Jackson e o outro Michael Jackson. "MJ", musical baseado na vida do rei do pop, foi indicado a dez categorias. Porém, não passa de mais um musical estilo jukebox com músicas conhecidas do público.

Entre os indicados também se destaca a releitura de "Company", musical escrito por Stephen Sondheim que ganhou fôlego após a morte do autor no fim do ano passado. Esta temporada ilustra que o poder de grandes estrelas não é suficiente para trazer o público de volta. O espectador espera mais do que revisões de sucessos passados, como "Mrs. Doubtifire" ou "Diana, The Musical".

Ambos receberam apenas uma indicação e tiveram baixo retorno nas bilheterias. Fazer a arte da presença acontecer neste ano requer uma maior simbiose entre atores e audiência. Não basta sonhar com mundos novos, é preciso construir juntos esses mundos. Assim como diz a personagem de L Morgan Lee em "Strange Loop", "é preciso contar a sua história com verdade e sem medo".

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