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Filmes maternidade

'Papai É Pop' é bem dirigido, mas peca pelo vazio dos personagens

Filme baseado no livro do humorista Marcos Piangers é comédia dramática que tenta ensinar o homem a deixar de ser imaturo

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Papai É Pop

  • Quando Brasil, 2021
  • Classificação 12 anos
  • Elenco Lázaro Ramos, Paolla Oliveira e Elisa Lucinda
  • Direção Caio Ortiz

No meio das desgraças que enfrenta há alguns anos, da pandemia ao governo Bolsonaro, o cinema brasileiro, em especial o de entretenimento, continua tateando em busca de saídas e, sobretudo, de seu público.

Passou o tempo do consumismo que ditava o ritmo das comédias nos governos do PT, passou também o momento em que Paulo Gustavo, sozinho, salvava os resultados do ano. Até agora, apenas abordar o racismo (não só, mas sobretudo) e o autoritarismo deu certo, ao menos em "Medida Provisória", de Lázaro Ramos, e trouxe um público razoável de volta ao cinema.

Resta a família como núcleo a ser tentado, e é esse o caminho que "Papai É Pop" busca percorrer. Aqui temos de volta Lázaro Ramos, agora como ator: ele é Tom, o jovem marido alegre e razoavelmente irresponsável, que em dado momento se vê diante da circunstância sempre tão inesperada quanto definitiva de ser pai. O filme é baseado no livro do humorista Marcos Piangers.

Cena do filme 'Papai É Pop' com Paolla Oliveira e Lázaro Ramos
Cena do filme 'Papai É Pop' com Paolla Oliveira e Lázaro Ramos - Stella Carvalho/Divulgação

Ele se encanta com a criança, é verdade, mas seu comportamento continua o mesmo. Ele continua a tomar suas cervejas com os amigos e a curtir os jogos de futebol (os em que joga e os a que assiste). Enquanto isso cabe a Elisa (Paolla Oliveira), sua mulher, levar o barco, ou seja, trocar fraldas, fazer a criança parar de chorar, dar mamadeiras etc. A crise matrimonial que se segue é previsível.

Como se vê, "Papai É Pop" assume então o ponto de vista da mulher, o que não é estranho. Sabe-se que uma parte mais que considerável de famílias existe, ou sobrevive, por causa das mulheres. É então que entra em cena, decisivamente, a mãe de Tom (Elisa Lucinda). Ela sabe por panos quentes tanto quanto ajudar. Ela sabe criar um filho, afinal criou o próprio Tom quando o pai deu no pé (logo após o nascimento dele).

Existem ainda os pais de Elisa. Não ajudam muito. O pai, coronel, logo que a criança nasce, vai logo advertindo o "soldado" de que agora em diante deve estar preparado para a guerra. O tom está dado. Os sogros do rapaz, basicamente, sumirão do mapa.

Está aí um argumento que não é mau, num filme em que os atores estão bem dirigidos e não se pode reclamar das posições de câmera escolhidas pelo diretor Caito Ortiz. Não é nenhum Bergman, mas está ok. A produção não passa vergonha nunca.

O problema principal é mesmo o roteiro. Passemos pelo fato de que segue à risca os famosos manuais. Mesmo esses supõem que os três atos previstos e tudo mais devem ser preenchidos por alguma coisa. E que "Papai É Pop", depois de uma boa sequência inicial (Tom descobrindo após o futebol os mil recados deixados pela mulher e tentando chegar à maternidade em tempo para o parto), cai numa espécie de abismo, tal o vazio das personagens.

Para Tom nada melhor se consegue do que um amigo perfeitamente bobo, com quem o rapaz tem conversas idem. Já Elisa, quando contemplada pelo marido com um dia de folga, encontra as amigas, mas o fato é que nem mesmo têm nada a dizer umas às outras depois dos meses de afastamento.

Nada, enfim, preenche o vazio entre os acontecimentos centrais, exceto o vazio mesmo. Entrementes, a mãe de Tom tenta salvar o casamento periclitante, com sua sabedoria e os atores fazem o melhor possível para salvar os móveis até que chegue o desenlace, ocasião em que o filme volta a subir.

"Papai É Pop" tem a inconveniência (ou a sabedoria, conforme o resultado da bilheteria) de um título que promete uma comédia, mas não é o que entrega. Está mais próximo do drama ligeiro, por vezes da comédia dramática.

Mas é pelo didatismo que no fim das contas se afirma: trata-se de ensinar aos homens como deixar de ser imaturo e assumir as responsabilidades da paternidade. Tudo isso com a delicadeza necessária para que ele não se recuse a ir ao cinema quando a mulher convidá-lo para ver o filme. Lembrando que a companhia do (s) filho (s) não será indesejável: o filme também se dirige, de certo modo, às crianças da casa, responsáveis, diretas ou indiretas, pela educação do papai.

"Papai É Pop" não sofre, em suma, de desonestidade. Se não fosse a falta de trabalho no roteiro teria chegado a resultado bem melhor.

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