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Rock in Rio

Justin Bieber no Rock in Rio virou ídolo dos héteros com Deus e trap

Astro que já foi alvo de piadas homofóbicas, 'Justin Biba' é hoje um cristão que sobe ao palco para pregar sobre amor e justiça

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Justin Bieber encabeçou o domingo do Rock in Rio num show conduzido com um semblante tão tranquilo que às vezes parecia até entediado. Ele segurou o microfone por uma hora e meia cantando sobre Deus, amor e justiça acompanhado pelo coro da multidão. Mas sua vida nem sempre foi sossegada assim.

Bieber tinha só 15 anos quando despontou com "One Time", um de seus primeiros sucessos. Numa época em que faltavam rostinhos bonitos de homens na indústria da música pop, não demorou para que ele virasse febre entre as adolescentes e fizesse meninos gays ou bissexuais perceberem que talvez houvesse mesmo algo de diferente com a própria sexualidade.

O cantor Justin Bieber, que se apresentou no Rock in Rio neste domingo (4) - Angela Weiss/AFP

Acontece que, no início dos anos 2010, ser gay era um tabu muito mais forte do que é hoje. Qualquer artista do sexo masculino que fugisse dos padrões da heteronormatividade virava alvo de deboche. Depois de lançar "Baby", ainda com uma voz fininha e a franjona perfeitamente alinhada, Bieber ganhou de vez a antipatia dos homens heterossexuais. Virou moda chamá-lo de "Justin Biba". Homem de verdade não podia ser visto nem murmurando suas canções.

As mulheres criaram uma base de fãs enorme, resistente e duradoura. Não à toa, milhares delas, já quase trintonas, algumas mães há anos, estavam espremidas nas primeiras fileiras da plateia do Rock in Rio.

Mas, diferente de suas outras passagens pelo Brasil, a multidão também estava repleta de homens, inclusive os heterossexuais. Foi a prova derradeira de que Bieber precisou mesmo mudar seu som para conquistar a confiança deles. Megahits como "Baby" até estavam no set-list do show, mas pareciam muito mais um agrado aos fãs nostálgicos do que o que ele realmente queria cantar.

Crescer em meio ao show business tem seu preço, e Bieber protagonizou uma série de escândalos públicos, mas parece que as turbulências só fizeram sua carreira crescer. Ele destratou paparazzis e foi até preso por dirigir embriagado. No Brasil, em 2013, chegou a ser expulso do Copacabana Palace depois de quebrar objetos do quarto e tentar entrar no hotel com prostitutas.

Isso tudo o afastou do trabalho. Demorou cinco anos para que ele lançasse um disco novo, "Changes", que saiu em 2020. Cheio de influências do trap, este álbum fez Bieber virar ídolo dos héteros, ao lado de rappers consagrados como Travis Scott e Post Malone.

Os homens héteros que zombavam de Bieber há anos, agora mais velhos —e mais maduros, espera-se—, podem se identificar também com as letras que exaltam a mulher. "Changes", por exemplo, é cheio de serenatas à sua mulher, Hailey Bieber.

A mudança de sonoridade marcou também o período em que o cantor começou a discutir sua relação com a religião. Num evento em que apresentou uma prévia do disco a jornalistas e membros da indústria musical, Bieber afirmou que foi Deus que o retirou "do lugar escuro" onde estava e o "amou mesmo durante o pior momento".

"Eu não acho que sequer deveria estar vivo, muito menos prosperando", afirmou o cantor na época. Na canção que dá título ao disco, ele diz que está passando por mudanças, mas que não sabe se realmente vai mudar.

O tema da superação seguiu em "Justice", disco lançado um ano depois, em 2021, no qual Bieber até volta a flertar com o pop, mas se mantém colado ao trap e ao R&B. Em "Holy", ele canta que o jeito que sua amada o abraça é sagrado, e com "Hold On" pede que aguentem firme porque o paraíso não é um lugar tão distante assim.

Ambas as canções foram cantadas no início do show deste domingo, logo após um vídeo exibido nos telões com imagens que mostram Bieber entre florestas e estrelas, enquanto uma narração fazia referências a Jesus e a expressões como "jornada".

Bieber adiou shows de sua turnê em junho depois de ter uma paralisia em metade do rosto e ser diagnosticado com uma doença rara chamada síndrome de Ramsay Hunt. De lá para cá, ele melhorou, mas ainda não parece estar vivendo seus melhores dias.

O cantor, que teve uma depressão em 2019, parece estar novamente com a saúde mental debilitada. Seu show até foi animado, mas ele não aparentava estar de corpo e alma em cima do palco, depois de ter chegado em cima da hora no Brasil e ser visto com cara de poucos amigos enquanto ia para o festival. Foi a prova de que Bieber ainda deve cantar muita superação pela frente, o que parece agradar tanto suas fãs de longa data quanto os novos admiradores.

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