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'O Filme da Escritora' é joia na Mostra de SP que vê poesia dos encontros

Longa do diretor sul-coreano Hong Sang-soo retrata relação prosaica entre autora e atriz com pitadas de comédia

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São Paulo

O Filme da Escritora

  • Quando Em cartaz na Mostra de SP: Espaço Itaú Frei Caneca, sáb. (22), às 16h20; Reserva Cultural, qui. (27), às 14h; Cinesesc, seg. (31), às 14h
  • Classificação 14 anos
  • Elenco Lee Hye-young, Kim Min-hee e Seo Young-hwa
  • Produção Coreia do Sul, 2022
  • Direção Hong Sang-Soo

Tudo é familiar nos filmes dirigidos pelo sul-coreano Hong Sang-soo. Alguns diriam que é familiar demais, já que o cineasta é conhecido por fazer sempre o mesmo filme, sendo uma espécie de Ramones do cinema oriental.

Sim, é verdade. Mas convém retomar o historiador português João Bénard da Costa e dizer que é sempre o mesmo filme, mas a cada vez é diferente.

A atriz Kim Min-hee em cena de 'O Filme da Escritora', do diretor sul-coreano Hong Sang-soo, exibido na Mostra de São Paulo - Divulgação

O bom de pisar em terreno já bem pavimentado é que a chance de erro é menor, embora seja menor também a chance de se fazer algo realmente especial. Como sempre, são as variações da narrativa e o modo de filmá-las que farão a diferença, para menos ou para mais.

Em "O Filme da Escritora", felizmente, é para mais. Trata-se de um dos melhores filmes de Hong Sang-soo nos últimos anos. Uma variação especialmente inspirada dos encontros que o cineasta filma de maneira tão prosaica que nem parecem criações.

As protagonistas de "O Filme da Escritora" são Junhee, a escritora do título, uma mulher de meia-idade vivida por Lee Hye-yeong, e a famosa atriz Kilsoo, vivida por Kim Min-hee. A primeira atriz estava no longa anterior do diretor, "Perante o Teu Rosto", de 2021, e participa do seguinte, "Walk Up", exibido neste mês no Festival do Rio. Já Kim Min-hee é uma das atrizes mais constantes na obra recente do diretor.

Elas se encontram por acaso. Hyojin, um cineasta vivido por Kwon Hae-hyo, reconhece a atriz. Sua mulher e a escritora vão atrás, e a atriz logo reconhece a escritora, num movimento que indica serem elas as protagonistas.

Junhee questiona Hyojin, que cobrava de Kilsoo mais participações em filmes. Ela argumenta que nem todo mundo pensa só em dinheiro, fala desafiadora em tempos de neoliberalismo também no campo das artes.

Depois disso, a escritora convida a atriz para o que seria sua estreia no cinema, e que resultaria num média-metragem de 47 minutos.

O título passa a ser então uma brincadeira com a outra função da cineasta que realiza o filme dentro do filme. Ela pode fazer um média-metragem, ou até um longa. Mas é mais conhecida como escritora, e assim permanecerá, até que realize uma carreira mais prolífica no cinema, como a genial Marguerite Duras.

Um momento especial explica a poética de Sang-soo. As duas almoçam num restaurante quando uma menina as começa a observar da janela. Kilsoo se dirige à calçada e não ouvimos a conversa dela com a garota. Depois ambas saem do quadro, deixando Junhee sozinha.

O que teriam falado? Num detalhe inesperado, Junhee começa a comer os restos da comida que a atriz deixou em seu prato. É espetacular em sua simplicidade. O humor de Hong Sang-soo tem uma estranheza que desafia os códigos da boa comédia.

Com filmes simples que podem passar despercebidos, o prolífico diretor é capaz de joias como esta, um dos pontos altos desta 46ª Mostra.

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