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A esquerda precisa aprender a lidar com a direita, diz Antonio Prata na Flip

Em bate-papo com leitores, colunista da Folha defende diálogo menos elitista com evangélicos e conservadores

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Paraty (RJ)

O escritor e roteirista Antonio Prata, colunista da Folha, pressentiu que algo pode estar começando a mudar no Brasil na tarde da última quinta-feira (24), mais precisamente no momento em que o atacante Richarlison fez seu segundo gol contra a Sérvia.

"Pela primeira vez em muito tempo vi as camisas amarelas na rua e não me deu engulhos", disse Prata nesta sexta (25), durante um bate-papo com leitores na Casa Folha, às margens da programação oficial da Flip. "Richarlison fez isso por nós. É o novo ídolo da esquerda."

Antonio Prata em debate na Casa Folha durante a Flip, no centro histórico de Paraty - Zanone Fraissat/Folhapress

Ele conversou sobre o ofício de cronista, a política brasileira e o livro que lançou em setembro, "Por Quem as Panelas Batem", que reúne crônicas dos anos tempestuosos que vão dos protestos de junho de 2013 e até os últimos meses do governo Jair Bolsonaro (PL).

O escritor, que se definiu no passado como "meio intelectual, meio de esquerda" e agora se considera também "meio coxinha, meio burguês", disse que era impossível ignorar a situação política do país em suas crônicas, mas apontou os textos como um desvio.

"Não gosto de escrever sobre política", afirmou. "A profissão do cronista é fugir da notícia, ele está no jornal para quebrar a seriedade do noticiário. O cronista está ali para divertir o leitor, e a política brasileira dos últimos anos não divertiu muito ninguém."

Respondendo a uma pergunta da repórter da Folha Anna Virginia Balloussier, mediadora do evento, Prata reconheceu que ele e a esquerda subestimaram Bolsonaro e sua capacidade de aglutinar o eleitorado conservador. "A esquerda ainda não entendeu com o que está lidando", disse.

Pedindo licença para não ofender ninguém na plateia tomada por visitantes do principal evento literário do país, ele criticou os simpatizantes do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que foram às redes sociais pedir votos exibindo seus livros prediletos.

"Fazer o 'L' com um livro pode funcionar dentro da nossa bolha, mas só serviu para afastar eleitores que queríamos conquistar, tratá-los como ignorantes e otários, como se fôssemos superiores, em vez de buscar diálogo com eles para mudar seus votos", disse o escritor.

Quando a mediadora quis saber se ele estava otimista com a eleição de Lula, que venceu Bolsonaro por margem estreita nas eleições de outubro, Prata disse que se sente menos pessimista do que antes, mas ainda sofre do que definiu como "estresse pós-traumático".

Ele também apontou a dificuldade da esquerda de dialogar com os evangélicos. "A esquerda é muito arrogante e elitista, e muitas vezes quer decidir o que os pobres devem pensar", afirmou. "Pastores e milicianos falam com essas pessoas e nós só falamos com nós mesmos."

Prata acha que a defesa de valores considerados progressistas, dos direitos humanos ao casamento de pessoas do mesmo sexo, também precisa ser repensada. "O politicamente correto está atingindo seus objetivos, ou o remédio está sendo pior que a doença?", perguntou.

Ele mesmo respondeu. "Acho que está dando errado, porque está fazendo as pessoas ficarem com mais ódio", disse. "O bolsonarismo permitiu às pessoas fazer piadas com essas coisas. Precisamos contar uma piada melhor e convencer essas pessoas a vir para o nosso lado."

Instado a apontar seus cronistas prediletos, elegeu Rubem Braga (1913-1990) como o maior de todos. "Tem Rubem Braga e tem os outros", disse. "Ele sempre será o dono da bola, do campo, do país. É quase impossível contar uma crônica dele e o efeito que produz no leitor."

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