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Chico Felitti, de 'A Mulher da Casa Abandonada', quer elites responsabilizadas

Jornalista participa da Flip para lançar 'Rainhas da Noite', livro sobre mulheres trans que dominavam a vida noturna de SP

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São Paulo

O jornalista Chico Felitti, autor e narrador do podcast "A Mulher da Casa Abandonada", produzido pela Folha, quer que sua série leve a sociedade a responsabilizar a elite brasileira por abusar das pessoas mais fragilizadas, que não têm seus direitos trabalhistas reconhecidos.

"Para mim, a casa abandonada é a história do Brasil, e não é coincidência que essa pessoa [Margarida Bonetti] nunca tenha sido julgada por esse crime, tem muitas pessoas como ela no Brasil", disse o jornalista, em mesa na Casa Folha, com moderação da repórter especial da Folha Teté Ribeiro.

Homem de amarelo fala a uma platéia, ao lado de uma mediadora ruiva; no painél atrás dele lê-se Casa Folha - Flip 2022
Debate na Flip com o jornalista Chico Felitti , autor do podcast 'A Mulher da Casa Abandonada', ao lado da mediadora Teté Ribeiro, na Casa Folha, no centro histórico de Paraty (RJ) - Zanone Fraissat/Folhapress

A série, que teve 3 milhões de downloads e bateu recordes nas plataformas de áudio, partiu de uma curiosidade do autor sobre uma mansão degradada num bairro rico de São Paulo para contar a história de Margarida Bonetti. A brasileira foi acusada de manter uma empregada doméstica em condições análogas à escravidão durante 20 anos nos Estados Unidos, mas fugiu do país e nunca foi julgada.

Felitti contou para uma plateia cheia na Casa Folha, com 160 pessoas, que ficou muito assustado com a gigantesca repercussão da série, que gerou reportagens em toda a imprensa, tomou conta da internet e levou multidões de curiosos e jornalistas até a casa. "Meu medo real era que alguém fizesse um justiçamento, entrasse na casa e matasse a mulher", disse.

Ele contou que não teria condições de pôr o podcast no ar se a Folha não tivesse acreditado no projeto. "Se não tivesse alguém dizendo vamos injetar uma grana nessa história e apoiar editorialmente e juridicamente, eu não teria feito", disse. "É um pepino fazer um documentário sobre uma pessoa que fugiu do FBI em dois países e nem sequer foi julgada."

Felitti está na Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, para lançar o livro "Rainhas da Noite", pela Companhia das Letras. A obra narra a história real de quatro mulheres trans que dominavam a vida noturna de São Paulo e atuavam como uma espécie da máfia.

Felitti, que é gay e casado há dez anos, falou sobre a homofobia que ainda se enfrenta no Brasil, mas ressaltou as mudanças na sociedade e no jornalismo. "Com as redes sociais, não existe mais possibilidade de um jornalista projetar uma imagem neutra –eu tenho orientação sexual, eu tenho partido", diz. "O jornalista investigativo era sempre um homem branco falando com um político. Eu apuro as reportagens com a camisa aberta e mostro foto pelado", brincou.

O jornalista contou que é difícil investigar os poderosos. "Outros casos que estou investigando envolvem bilionários e eu penso milhões de vezes se vou publicar, pensando se tenho respaldo jurídico."

A moderadora afirmou que alguns jornalistas criticaram o podcast, dizendo que a apuração era fraca e que Felitti estava fazendo sensacionalismo. "Você acha que isso é inveja ou acusação legítima", indagou Ribeiro.

Felitti afirmou que muita gente que critica nem sequer ouviu o podcast, só ficou conhecendo a história pelo TikTok e pela TV aberta e formou sua opinião em cima disso. "E acho sólida a apuração que fiz, com o tempo e os recursos que tive", disse ele, que levou mais de seis meses para fazer a série. "Tem um repórter americano fazendo uma matéria grande sobre o assunto e ele descobriu que tem um juiz da Suprema Corte americana envolvido nessa história."

Felitti também negou ter deixado sua indignação interferir na apuração da história. "Muita gente achou que eu perdi completamente as estribeiras na entrevista com a Margarida, mas eu somente a confrontei com a verdade", diz. "Muita gente me disse que eu fui grosseiro, eu discordo; você liga na CNN e vai ver a Christiane Amanpour [famosa correspondente internacional], ela chama os entrevistados na chincha."

O jornalista, que é autor de outros dois livros e já fez vários podcasts, disse não ter ficado rico. "Por enquanto, não ganhei nada além do que fui pago para fazer o podcast, que era suficiente para quatro meses dos seis que levei, ou seja, dei uma pagada para trabalhar", brincou, acrescentando que está em discussões com vários interessados nos direitos da série para transformá-la em filme. "Foi um salto de projeção para mim, mas, com o sucesso, causei o mal-estar em certas pessoas."

Felitti já está trabalhando em um novo podcast, sobre uma seita que aliciou jovens milionários, que largavam tudo para viver com o mestre. Ele disse que ainda não podia revelar o nome do podcast, mas que a série iria estrear em breve, em seu próprio canal do YouTube, que será criado.

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