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Veja os melhores discos de 2022, segundo críticos convidados pela Folha

Gloria Groove, Poze do Rodo, Planet Hemp, Xênia França, Bad Bunny, Kendrick Lamar e Rosalía estão entre os citados

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São Paulo

O ano de 2022 na música foi marcado por mortes de artistas brasileiros, como Gal Costa, Elza Soares e Erasmo Carlos, além das disputas políticas motivadas pela eleição e do retorno dos shows e festivais após um período pandêmico. Mas também marcou o lançamento de uma enxurrada de álbuns.

Entre discos publicados no Brasil e no exterior, seis críticos convidados pela Folha escolheram, cada um deles, cinco obras lançadas ao longo de 2022 para destacar. São álbuns que de alguma forma contemplam o melhor do que foi lançado este ano.

Show de Gloria Groove no Espaço Unimed, em São Paulo, no lançamento da turnê 'Lady Leste 2.0'
Show de Gloria Groove no Espaço Unimed, em São Paulo, no lançamento da turnê 'Lady Leste 2.0' - Rafael Strabelli/Espaço Unimed/Divulgação

A lista compreende 24 discos diferentes, já que alguns deles se repetiram nas listas individuais —como "Lady Leste", de Gloria Groove, citado três vezes e sendo o trabalho mais lembrado pelos críticos.

Mas a ideia é apresentar visões diversas da música que foi lançada em 2022, incluindo uma variedade de gêneros que vão do pagode carioca ao pós-punk britânico, passando pelo singeli tanzaniano.

Veja abaixo todas as indicações, em ordem alfabética.

Bernardo Oliveira
Crítico de música e idealizador do selo QTV

'O Sábio', de MC Poze do Rodo
Brasil. Mainstreet Records

O principal artista da vanguarda negra popular carioca confirma sua força. Timbre de voz singular, flow capaz de levantar qualquer faixa. Um disco de trap-funk, curto, dramático, inescapável. O sábio sabe —vida que segue.


'Mr Mixondo', de DJ Travella
Tanzânia. Nyege Nyege Tapes

Oriundo de Dar es Salaam, aos 19 anos DJ Travella vem conduzindo o singeli tanzaniano a um outro estágio, tornando sua sonoridade mais perturbadora e o seu balanço ainda mais veloz —algumas faixas chegam a 200 batidas por minuto.


'Que le Baile Yo', de Ceferina Banquez
Colômbia. OM Producciones Music

Autora das dez faixas do álbum, a cantora camponesa original de Guamanga mostra mais uma vez por que é considerada "a rainha do bullerengue sentao", ritmo tradicional nos palenques e quilombos colombianos.


'O Mundo de um Cirandeiro', de Mestre Bi e a Ciranda Bela Rosa
Brasil. Matinada Records

Para ser chamado de Mestre em Nazaré da Mata, em Pernambuco, terra do maracatu rural, é preciso dominar a arte do improviso. Acompanhado pela Ciranda Bela Rosa, Mestre Bi mostra que também entende de cantar coco e ciranda.


'Ama Gogela', de Phelimuncasi
África do Sul. Nyege Nyege Tapes

Completando dez anos em atividade, o trio durbanês retorna com um trabalho que aprofunda suas características hipnóticas. Batucada eletrônica para escutar em alto volume e com o subwoofer em dia.

Felipe Maia
Crítico de música

'Lady Leste', de Gloria Groove
Brasil. SB Music

Por que não chamam Gloria Groove de rapper? Talvez porque ela seja, além disso, cantora de R&B, cantora pop e MC de funk. "Lady Leste" é agênero como música, ecoa a São Paulo de vilas, quermesses com pagode e bailes de MC Daleste e MC Hariel —outro nome de destaque no ano. Pop desavergonhado num disco que funciona de cabo a rabo na festa.


'Un Verano Sin Ti', de Bad Bunny
Estados Unidos. Rimas Entertainment

O disco consolida o múltiplo Coelho Mau como maior nome da música em espanhol atual. É festivo e lamurioso, tem braggadocio sensual e declarações românticas e reclama identidades como manifesto político também no festejo —caso do clipe-documentário "El Apagón". É um disco feito para "perrear" por fora e chorar por dentro, de raiva ou tristeza.


'Em Nome da Estrela', de Xênia França
Brasil. Independente

Vanguardista como quem vai para frente, Xênia França une no disco tambores falantes oeste-africanos, harmonias eletrônicas e acústicas e orquestrações complexas. Junto de Lourenço Rebetez e Pipo Pegoraro, a artista abrasileira faz abordagens de Erykah Badu e Janelle Monáe e torna pop diálogos de Itamar Assumpção e Gilberto Gil.


'Mr. Morale & The Big Steppers', de Kendrick Lamar

Kendrick Lamar tem caneta avançada e postura contida, um incomum laconismo na era das redes que contrasta com seu rap grandiloquente. Em "Mr. Morale", vai de heterônimos a "punchlines" inesperadas, aprofunda o jazz e expões as vísceras psicológicas do homem negro —é o apogeu do gênero nesse tema, porque será difícil repetirem esse nível.


'Mr. Money with the Vibe', de Asake
Nigéria. YBNL Nation/Empire

Há quase duas décadas a música nigeriana vem se mostrando frutífera fonte do pop global com o afrobeats. Asake é o mais novo dessa leva em um álbum que retrata a juventude cosmopolita de Lagos. Presta reverência a Fela Kuti, mescla culturas iorubá e igbo e traça até diálogos com as batidas do amapiano —mais recente criação eletrônica sul-africana.

Kamille Viola
Crítica de música

'Senhora das Folhas', de Aurea Martins
Brasil. Biscoito Fino

Artista que começou cantando na noite, Aurea Martins precisou se reinventar algumas vezes na carreira. "Senhora das Folhas" é mais um desses movimentos, e o resultado é comovente. A artista de 82 anos reluz ao interpretar incelenças, bendito medieval, sambas e até rap em um disco que soa, ao mesmo tempo, ancestral e contemporâneo.


'O Dono do Lugar', de Djonga
Brasil. A Quadrilha

Djonga é um dos melhores rappers de sua geração. Com rimas cortantes e um senso de humor muito próprio, neste álbum ele mostra maturidade sem perder a capacidade de meter o dedo na ferida.


'Agda', de Agda
Brasil. Independente

As paisagens do agreste se descortinam à medida que vai se ouvindo o álbum de estreia dessa paraibana radicada na região. Um disco ao mesmo tempo delicado e profundo, sensorial, que nos revela sons, cheiros e gostos dos caminhos percorridos pela artista, que, ao mesmo tempo, dá continuidade e atualiza a tradição poético-musical da região.


'Sambas do Absurdo Volume 2', de Rodrigo Campos, Gui Amabis e Juçara Marçal
Brasil. YB Music

Experimentalismos dialogam com o samba tradicional, de maneira ao mesmo tempo original e reverente nesse segundo disco do projeto. Menos existencialista e mais ligado ao cotidiano do que o primeiro, o trabalho conjuga beleza e melancolia como, afinal, tem hora só o samba sabe fazer.


'Alto da Maravilha', de Russo Passapusso e Antonio Carlos & Jocafi
Brasil. Máquina de Louco

Não por acaso um quilombo na Bahia dá nome ao disco —são os ritmos afro e a própria Bahia que dão a tônica desse bem-sucedido encontro de duas gerações de artistas baianos. Afrobeat, ijexá, samba de roda, funk, forró, pop —tem tudo isso na alquimia da dupla de três, que, em uma conexão entre passado e futuro, soa contemporânea e original.

Kenya Sade
Jornalista, podcaster e apresentadora do Multishow

'Lady Leste', de Gloria Groove
Brasil. SB Music

O disco "Lady Leste" é um bom resumo dos 20 anos de carreira artística da cantora Gloria Groove. O álbum representa a versatilidade e os diversos alter egos da artista. Pode ser considerado o grande álbum pop do momento, esbanja coesão ao longo de 13 músicas que vão do pop ao funk, do rap ao pagode.


'Numanice #2 (Ao Vivo)', de Ludmilla
Brasil. Warner

Este é o ano da Ludmilla! "Numanice", projeto de pagodes da cantora, conquistou o Brasil e o mundo. "Numanice #2" é continuação de trabalho que cantora de 27 anos apresentou ao público em 2020. Entre as dez músicas autorais presentes no álbum, a faixa "Maldivas", que homenageia a mulher Brunna Gonçalves, é uma das mais tocadas do país.


'Bom Mesmo É Estar Debaixo D'Água Deluxe', de Luedji Luna
Brasil. Independente

O disco tem um caráter de lado B da versão original de "Bom Mesmo É Estar Debaixo D’Água", álbum lançado em 2020, em que Luedji Luna canta o amor na perspectiva de mulheres negras. A cantora produziu o álbum ao lado de um dos expoentes do jazz africano contemporâneo, o queniano Kato Change, e ainda contou com o musicista e produtor John Key, baterista que também fez a produção do álbum "When I Get Home" de Solange Knowles. Ele assina as faixas "Pele" e "Tempos Artificiais".


'QVVJFA?', de Baco Exu do Blues
Brasil. 999

O quarto álbum de estúdio do rapper soteropolitano traz no nome uma provocação —"Quantas Vezes Você Já Foi Amado?". O disco é um registro mais introspectivo sobre as afetividades e a masculinidade negra. Nas 12 faixas, o artista expõe temas como amor-próprio, autoestima, solidão do homem negro e religiosidade.


'Em Nome da Estrela', de Xênia França
Brasil. Independente

Cinco anos após o lançamento de seu primeiro álbum, a cantora baiana traz neste disco o afrofuturismo transcendental que só Xênia Erica Estrela França poderia produzir. O título faz uma alusão ao próprio nome da cantora. Nas letras, a ancestralidade africana serve como alicerce para unir o passado e o futuro com o objetivo de contar uma nova história de possibilidades e existências negras vivas.

Leonardo Lichote
Crítico de música

'Sim Sim Sim', de Bala Desejo
Brasil. Coala Records

Evocando a musicalidade ao mesmo tempo sofisticada e pop da MPB de fins dos 1970 e início dos 1980, o jovem quarteto fez um álbum que vibra na frequência da parcela indie de sua geração, mas com uma consistência rara nesses fenômenos. A plateia que lotou seus shows, apoiados na visualidade do desbunde, comprova.


'Moacir de Todos os Santos', de Letieres Leite e Orkestra Rumpilezz
Brasil. Rocinante

O maestro baiano morreu em 2021, em decorrência da Covid-19. Teve tempo, porém, de deixar gravado este tributo a Moacir Santos, lançado apenas em maio deste ano. Com autoridade de quem sabe onde pisa, ele e sua Orkestra Rumpilezz tornaram ainda mais evidentes as Áfricas guardadas na música de Santos, no litoral paulista.


'Motomami', de Rosalía
Espanha. Columbia Records

Há muitas ideias e muitas sonoridades lançadas nos 42 minutos de "Motomami". Rosalía, porém, consegue (des)organizar tudo de forma coesa, fazendo com que mesmo fragmentado ele não soe confuso ao cruzar reggaeton e bachata, escola de samba e experimentalismo eletrônico. Em vez disso, o álbum é direto, focado, comovente, quente. Vivo, enfim.


'The Overload', de Yard Act
Reino Unido. Universal

O disco de estreia da banda pós-punk revival britânica tem jeito de disco de estreia de banda pós-punk revival britânica. Aquela certa frouxidão na execução e na originalidade —o que quase sempre é defeito, mas, nos melhores casos, e este é um deles, é o solo fértil onde a banda planta em letra e música uma leitura ácida, sagaz e fresca da Inglaterra, da Europa, do mundo neste 2022.


'Mil Coisas Invisíveis', de Tim Bernardes
Brasil. Coala Records

Desde o primeiro disco de sua banda, O Terno, lançado há dez anos, Tim Bernardes se mostra um dos compositores mais talentosos de sua geração. A cada trabalho, essa impressão se solidifica e ganha novos contornos. É assim em "Mil Coisas Invisíveis", em seu minimalismo exuberante de refinamento pop.

Roberta Martinelli
Crítica de música e apresentadora da TV Cultura

'Jardineiros', de Planet Hemp
Brasil. Som Livre

O disco marca a volta da banda em estúdio depois de 22 anos. Lançado às vésperas da eleição mais importante do Brasil, as músicas mostram o clima do momento. Arte, vida em 2022 e política –tudo junto, misturado e tacando fogo.


'Motomami', de Rosalía
Espanha. Columbia Records

Grande sucesso da música mundial, Rosalía lançou um disco repleto de hits, subverteu e renovou a música pop e rodou o mundo com um show impecável. Artista, como falam. Concordo demais.


'Mil Coisas Invisíveis', de Tim Bernardes
Brasil. Coala Records

O artista lançou seu segundo trabalho solo com composições profundas e cada vez mais visuais. Tim Bernardes se firma como um grande cantor fazendo sua voz chegar a novos lugares e a composição que já voava para outros artistas chega ainda mais longe.


'Lady Leste', de Gloria Groove
Brasil. SB Music

Um dos lançamentos mais aguardados do mundo pop, Gloria Groove cumpriu todas as expectativas com "Lady Leste". Produção, composição e visual impecáveis.


'Alto da Maravilha', de Russo Passapusso e Antonio Carlos & Jocafi
Brasil. Máquina de Louco

O encontro de gerações, sonoridades agregadas e mil mundos construídos no alto da maravilha. Russo Passapusso vinha cantando esse projeto faz tempo e finalmente tá aqui. Melhor do que imaginado.

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