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Filmes mostra de cinema

Festival de Tiradentes quer restaurar a força do cinema brasileiro unido

Evento aposta na inventividade e audácia dos cineastas, mas também na diversidade de propostas e da origem dos filmes

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Este não será um festival como os outros. A mostra de cinema de Tiradentes, em Minas Gerais, que costuma inaugurar o circuito de festivais no Brasil, volta ao formato presencial nesta 26ª edição, depois de acontecer duas vezes online por causa da pandemia.

Mais do que isso, abre um período que pretende marcar o fim de quatro anos de hostilidade franca do governo federal ao audiovisual.

Não por acaso, a ministra Carmem Lúcia, do STF, o Supremo Tribunal Federal está confirmada na sessão de abertura. Do ponto de vista simbólico, a visita funciona como confirmação da importância que vem sendo dada à recriação do Ministério da Cultura e à reorganização da Secretaria do Audiovisual.

Cena do filme 'A Alegria é a Prova dos Nove', de Helena Ignez
Cena do filme 'A Alegria é a Prova dos Nove', de Helena Ignez - Divulgação

Essa sessão é a que abre o primeiro Fórum de Tiradentes, que reunirá em cinco grupos temáticos 50 profissionais, que procurarão diagnosticar pontos críticos do setor e formular sugestões para sanar os problemas.

Não será uma atividade fútil, já que Alex Braga, o diretor-presidente da Ancine, a Agência Nacional de Cinema e Audiovisual, estará presente e que não faltam pontos de estrangulamento à atividade. O mais evidente —e talvez mais urgente— deles é a absoluta ausência de regulação para o streaming. Mas, da formação de profissionais à preservação, não faltam problemas urgentes a encaminhar e, se possível, resolver.

Dito isso, Tiradentes não abandona sua vocação de ser um lugar de descoberta ou consolidação do trabalho de realizadores independentes. Como todo ano, a mostra Aurora apresentará filmes de novos cineastas, em seu primeiro ou segundo filme.

O conceito desenvolvido pelos organizadores é o de "risco estético" dos filmes. O que significa que daí se pode esperar o melhor e o pior. A referência mais forte para este ano é "As Linhas da Minha Mão", de João Dumans, colaborador habitual de Affonso Uchoa, de "Arábia", que ganhou o Festival de Brasília em 2017.

A seção Olhos Livres acolhe cineastas normalmente habituados ao "risco estético", casos de Helena Ignez, que vem com "Alegria É a Prova dos Nove", Paula Gaitán, com "O Canto das Amapolas" e Luís Alberto Rocha Melo, ex-crítico da revista Contracampo, "O Cangaceiro da Moviola", entre outros.

Outro filme muito esperado está na seção Autorias. "Amazônia, a Nova Minamata?", de Jorge Bodanzky. Importa não apenas por trazer a Amazônia ao centro das discussões como por trazer uma denúncia do envenenamento de povos indígenas munduruku a partir de investigações de cientistas da Fiocruz e da líder Alessandra Korap, mas também por ser de um dos autores do clássico "Iracema, uma Transa Amazônica", de 1975.

No total, serão apresentados 38 longas e nove curtas ao longo de nove dias, representando 19 estados, Como se vê, Tiradentes mantém a tradição dos festivais mineiros deste século de fugir à midiatização, buscando compensação não só na inventividade e audácia dos cineastas, mas também na diversidade de propostas e mesmo da origem dos filmes.

Por fim, a temática da mostra, neste ano, é "cinema mutirão". Normalmente a temática acaba abafada pelos filmes propriamente ditos. Desta vez, no entanto, a palavra "mutirão" pode se impor —ela contém a ideia de restauração do sistema de produção, distribuição e exibição de filmes brasileiros, praticamente imobilizado durante o governo passado. Talvez isso só possa mesmo acontecer a partir de um esforço coletivo que abranja produtores, técnicos e, por que não, Estado.

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