Descrição de chapéu
Filmes mostra de cinema

Paula Gaitán leva filme sobre sucessão de gerações a Tiradentes

Sem esclarecer muita coisa, 'O Canto das Amapolas' é longa conversa entre a diretora e sua mãe, já idosa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O Canto das Amapolas

  • Classificação 12 anos
  • Elenco Dina Moscovici, Luise Busse, Cecilia Gil Mariño
  • Produção Brasil, 2023
  • Direção Paula Gaitan

"O Canto das Amapolas" pode ser resumido, em um nível, como uma longa conversa entre a diretora Paula Gaitán e sua mãe, Dina Moscovici, o que não diz muito nem sobre a personagem, nem sobre o filme. Dina é romancista e foi diretora do célebre Teatro Tablado, no Rio de Janeiro, o que também não esclarece muito sobre a conversa, nem sobre a personagem, nem sobre o filme.

Essa conversa entre uma filha e sua mãe já idosa não chega a ser esclarecedora sobre muita coisa. Não sabemos muito bem nem qual é a idade de Dina, porque ela foi registrada pelo pai como se tivesse cinco anos a mais do que tinha.

Mulher branca e loira deitada em um campo de flores vermelhas
'O Canto das Amapolas', filme de Paula Gaitán exibido na Mostra de Tiradentes - Divulgação

Aí algo começa a se delinear, na verdade. O pai era da antiga Tchecoslováquia. Na verdade, diz, era da Eslováquia. Sua língua era o alemão, talvez, o iídiche, talvez. Ao nomear os diversos parentes, Dina talvez não se confunda, mas o espectador, sim, pois passa a roçar a complexa história de uma família judaica.

Alguém vinha da Rússia. Falava iídiche. Mas o iídiche decorre do alemão, não? As perguntas da filha confundem a mãe, vez por outra. Mas a confusão de certa forma esclarece, e isso é que de algum modo importa aqui.

Na verdade, a confusão se duplica na imagem: um quarto, fotos, imagens antigas, poemas. O vento que bate e agita as longas árvores. Um lindo campo de amapolas, que a câmera percorre antes de se fixar e permitir que ao longe apareça uma família. Um piquenique no campo, talvez. Por que surge essa família? Vá saber.

Há coisas que não se esclarecem. Outras, sim. Como o túmulo que, de tempos em tempos, ressurge, em imagens rápidas. Parece um túmulo do século 18, a marcar a ancestralidade. E é disso que se trata aqui: de gerações que se sucedem, por mais que nós (e a filha) nos percamos no meio de tanta gente.

Uma família judia. Que não passou pelo holocausto, ao menos que se saiba. Mas isso importa pouco. A sucessão das gerações, as lembranças de família, dizem respeito a permanência e resistência. Um povo que não se abate, afinal.

Talvez seja a isso que a mãe, Dina, se refere quando diz que a ideia da morte não a atemoriza. Tudo é finito, afirma. É finito, mas permanece, na imagem do filme, na memória, na sucessão das gerações, pois não por acaso já no fim do filme aparece o neto, Eryk. Um belo nome, comenta a mãe. Um belo filme, também, estranho e sensível.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.