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Célebre maquiador do terror, Tom Savini não sabe narrar biografia

'Vida Monstruosa' traz reflexões do autor sobre sua carreira nos filmes de gênero, mas funciona melhor para iniciados

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Claudio Gabriel

Tom Savini: Vida Monstruosa

  • Preço R$ 129,90 (304 págs.)
  • Autor Tom Savini e Michael Aloisi
  • Editora Darkside Books
  • Tradução Paulo Cecconi

"A Noite dos Mortos Vivos", "Sexta-Feira 13", "Despertar dos Mortos", "Um Drink no Inferno", "Creepshow", "Chamas da Morte". Se você é fã de terror e apaixonado pelo cinema dos anos 1970 até 1990, provavelmente já ouviu falar de ao menos um desses filmes. Todos eles têm o dedo, de uma forma ou de outra, do maquiador, técnico em efeitos especiais, diretor e ator Tom Savini.

Para os fãs de produções B, o nome de Savini não é desconhecido. Hoje com 76 anos, ele revolucionou completamente a indústria de maquiagem do terror. Se hoje muito se fala do realismo nas mortes do cinema, especialmente no uso de próteses, isso se deve ao que ele construiu ao longo do tempo.

Tom Savini com diversas próteses e bonecos que fez nos filmes ao longo da carreira
Tom Savini com diversas próteses e bonecos que fez nos filmes ao longo da carreira - Divulgação

Parte desse trabalho e de como começou a se interessar pelo horror está em "Vida Monstruosa", sua autobiografia escrita com Michael Aloisi, lançada agora no Brasil pela Darkside Books.

O grande problema do livro é ser muito mais um caderno de anotações e ideias de Savini do que realmente uma biografia. Por exemplo, o desenvolvimento de suas técnicas de membros decepados e mordidas realistas —mudando o que era feito no gênero dos zumbis—, que estiveram muito presentes nos trabalhos junto com o cineasta George Romero, ocupam pouquíssimas páginas.

Ou até mesmo a sua fascinação pelo universo das maquiagens no horror, que surge quando ele assistiu a "O Homem das Mil Faces", de 1957, é transcrito de uma forma um tanto quanto simplista.

Faz falta dentro da obra, em suas quase 300 páginas, um maior detalhamento sobre propriamente a vida dentro do cinema de Savini. Um dos momentos que mais se sente falta disso é quando o maquiador fala de "Sexta-Feira 13".

Um dos grandes marcos do cinema "slasher" —aquele em que um assassino persegue as vítimas—, especialmente devido ao vilão Jason Voorhees, está, novamente, em poucas descrições. Ele não cita, por exemplo, a técnica do sangue coagulado —em que o vermelho aparece quase solidificado— dentro da franquia, apesar de ter sido algo bem inovador para as produções de terror.

Apesar disso, o aspecto confessional de parte da escrita dá um tom bem interessante para Savini. É como se ele não se vivesse em alguns momentos como uma pessoa no mundo, e sim como um de seus personagens, de suas criaturas.

Dessa forma, o trecho inicial do livro, formado quase todo por capítulos de até cinco páginas, trazem perspectivas e olhares dele em um momento presente da vida. Vira um diário, trazendo desde pensamentos sobre o porte e posse de armas nos Estados Unidos, até mesmo construindo sua imagem bizarra, por assim dizer, ao relatar quando viu um disco voador de verdade.

Nesses trechos que o diretor do remake de "A Noite dos Mortos Vivos", em 1990, também aborda quando serviu o Exército como fotógrafo na Guerra do Vietnã —marcas que estão, de uma forma ou de outra, da maneira como ele enxerga o cinema atualmente.

Do mesmo jeito, sua vida pessoal também aparece de maneira mais direta, com ele assumindo certas culpas pelos três casamentos que teve e do distanciamento da família. Savini se mostra arrependido por tudo isso, mesmo sem deixar de ser bem honesto ao falar que também conseguiu apreciar essa mesma época.

Esse caráter confessional também aparece no momento mais divertido da leitura, quando Tom Savini traz alguns "diários de bordo" sobre filmes que trabalhou como ator, além de dar alguns pitacos como maquiador.

O que toma mais espaço é o projeto "Grindhouse", um grande filme repartido em dois e dirigido por Quentin Tarantino e Robert Rodriguez. Os dois são "Planeta Terror" e "À Prova de Morte".

Nesse trecho, o ator fala do dia a dia da gravação das cenas e da relação que estabeleceu com Rodriguez e Tarantino —ele viria a participar dos dois "Machete" e de "Django Livre", também comentados nos diários de set.

"Vida Monstruosa" soa mais como um material de apreço para os que já conhecem um pouco do trabalho e da vida de Tom Savini. Como apresentação, parece mais um prelúdio para sua carreira, que é marcada por grandes momentos, mesmo que a maior parte deles parece ter sido deixada de lado pelo artista.

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