Fãs se despedem do Anexo Itaú da rua Augusta, mas esse não é bem o fim

Cinema anunciou que fará últimas sessões gratuitas de 'A Última Floresta' até a próxima quarta-feira (22)

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São Paulo

Demorou apenas 16 minutos para que todos os ingressos da última sessão comercial, do filme "A Última Floresta" do Anexo do Espaço Itaú da rua Augusta se esgotassem, nesta quinta-feira (16).

A comoção era visível no público, que aguardava com paciência a liberação das entradas. Abraços e conversas animadas se acumulavam no pequeno Café Fellini, que ocupa o espaço central do lugar e é quase a alma do cinema vizinho da avenida Paulista.

Fila para última sessão antes do fechamento do Anexo Itáu, na rua Augusta
Fila para última sessão antes do fechamento do Anexo Itáu, na rua Augusta - Pedro Strazza/Folhapress

Mas quem esperava uma multidão de pessoas frustradas pela desproporção da procura com o tamanho das salas se surpreendeu. Diante da alta procura, Adhemar Oliveira, empresário por trás do espaço, organizou mais três sessões na noite. Além de abrir a segunda sala do anexo, foram programadas sessões extras depois do fim das primeiras, às 21h30.

Além disso, a despedida do local foi estendida para a próxima semana. Até o próximo dia 22, o filme dirigido por Luiz Bolognesi passa diariamente às 17h e 20h nas salas do cinema. Doações podem ser feitas via Pix para a ONG de Davi Kopenawa, dedicada ao socorro do povo yanomami.

Todas essas informações foram dadas pelo próprio Oliveira na entrada do anexo aos passageiros da fila. Formada desde às 16h20, ela serpentava para fora do espaço e, há 20 minutos do início da distribuição, quase alcançava a esquina mais próxima da avenida Paulista.

Com o cenário dado, o público não poderia estar mais tranquilo —filas tímidas se formaram nas duas entradas, mais por preocupação por um bom lugar. Restou a um dos espectadores, um dos primeiros a receber o ingresso, a perguntar onde era o banheiro do cinema.

Tanto na entrada, administrando a fila para garantir os ingressos, quanto na sala de cinema, Oliveira era enfático sobre a afinidade entre o anexo e o povo yanomami registrado pelo documentário.

"A gente está na mesma situação que o povo do filme que vocês vão assistir, a diferença é apenas geográfica", explicou durante a apresentação de uma das sessões.

Ee explica que a ameaça da perda do cinema para a especulação imobiliária se equipara à resistência dos yanomamis no norte do país, trocando-se apenas a floresta pelo espaço urbano.

"Como eles, nós não somos contra o ouro, mas o capital quer fazer coisas de um jeito que somos contra."

Diretor do filme e presente na sessão, Bolognesi divide a opinião de Oliveira, e inclusive levou como motivação para disponibilizar o documentário para o evento.

Na apresentação, o cineasta lembrou no discurso das últimas eleições, sobretudo da derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro para o atual, Luiz Inácio Lula da Silva, para dizer que haverá resistência.

"Nem que tenhamos que ocupar, não vamos entregar", disse Bolognesi; "Hoje não é o último dia, mas o primeiro de uma nova fase deste cinema."

O diretor diz que o ato de ceder a cópia ao cinema foi motivado pela promoção do encontro de resistência entre o público do cinema e os yanomami. "Nós estamos na mesma luta, temos apenas que aprender a fazer resistência com os povos indígenas. "

Oliveira ainda comentou no evento que a discussão sobre o futuro do anexo está com a sociedade civil, confirmando que há movimentações em favor da permanência do espaço. Mais detalhes não foram divulgados.

Apesar disso, a declaração explica a frase que o diretor de programação usou para abrir o discurso na noite, com um esboço de felicidade sobre a lotação do cinema: "A gente tem que sorrir mesmo que o dia seja triste."

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