Casa SP-Arte abre na vila de Flávio de Carvalho com mostra de Hélio Oiticica

Primeiro espaço permanente da feira resgata projeto arquitetônico modernista em exposição repleta de cores

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São Paulo

Em meio a ruas arborizadas, trânsito intenso, prédios residenciais e comércio diversificado no miolo do bairro dos Jardins, a Vila Modernista, com projeto arquitetônico de Flávio de Carvalho, vai abrigar o primeiro espaço permanente da tradicional feira SP-Arte. O local funciona em parceria com a Gomide & Co, que se mudou da casa para a avenida Paulista.

A inauguração neste sábado (18) começa com a mostra "Hélio Oiticica: Mundo-Labirinto", com 18 peças dos momentos cruciais da obra do neoconcretista, todas distribuídas pelo térreo e pelo andar superior da casa. A organização é assinada por Luisa Duarte, da Gomide & Co.

Fachada da Casa SP-Arte, no bairro dos Jardins, em São Paulo - Divulgação

"A casa é uma pequena joinha incrustada nos Jardins", diz Fernanda Feitosa, diretora da SP-Arte, evento que começa na quarta-feira (29). "Será um palco de encontros, visitas, círculos, estudos, lançamentos. E, eventualmente, também para o design."

A proposta é trabalhar em parceria com outras galerias, curadores e editoras de livros, inclusive indo além do eixo Rio-São Paulo.

O lugar passou por obras para resgatar o projeto arquitetônico de Carvalho, desenvolvido na década de 1930. Agora, quase cem anos depois, a casa —uma obra de arte de por si só— é a única dos 17 imóveis da vila que se mantém fiel aos traços do arquiteto modernista.

"O Flávio foi um artista inquieto e visionário, assim como o Hélio", afirma a diretora. "Uma exposição dele realmente faz a inauguração perfeita para essa nova fase da casa."

"Mundo-Labirinto" é uma mostra enxuta, concebida para o ambiente doméstico, diz Duarte, a curadora. A essência inovadora, alegre e experimental do artista, que morreu em 1980 aos 42 anos, está presente nesse conjunto de peças pequeno em escala, mas grande na ambição.

"A mostra faz você se lembrar que tem um corpo, da dimensão tátil e sensível do mundo. Você pode tocar e andar dentro das obras. O Hélio nos convoca a uma experiência avessa à rotina acelerada do cotidiano saturado por telas", afirma a curadora. "Se ele estivesse vivo, ele acharia graça nessa quantidade de telas. O Hélio era um apaixonado por televisão e novidades tecnológicas."

Logo na entrada, o visitante vai se deparar com uma cópia de exibição da obra "PN1", da série "Penetrável", de 1961, a peça central da mostra. Trata-se de uma grande caixa de madeira na qual pessoas podem entrar e mover portas em uma estrutura labiríntica. É uma homenagem ao crítico de arte Mário Pedrosa.

Obra de Hélio Oiticica exposta na Casa SP-Arte - Divulgação

Outra peça importante é uma versão inédita de uma "Cosmococa", projeto que completou 50 anos nesta semana, que leva a assinatura do cineasta Neville D'Almeida —Oiticica a planejou em vida, mas morreu antes de ver o projeto concretizado. A peça homenageia os irmãos Augusto e Haroldo de Campos, criadores da poesia concreta com o poeta e intelectual Décio Pignatari.

O poema "Dias, Dias e Dias", de Campos, é lido numa gravação por Caetano Veloso, com música do compositor John Cage toca ao fundo.

Os "Bólides" também estão na mostra. Embora os visitantes não possam tocar neles, poderão ver de perto as combinações de cortes e texturas nessas caixas de madeiras pintadas, tecidos, pedras e plásticos.

A série de parangolés —espécie de capas coloridas definidas por Haroldo de Campos como asa-delta para o êxtase— conta ainda com dois exemplares na exposição. Enquanto um não pode ser tocado, outro é uma reprodução livre para ser usada pelos visitantes.

O artista brasileiro Hélio Oiticica diante de uma caixa, em seu estúdio, encarando a lente da câmera
O artista brasileiro Hélio Oiticica - Divulgação

A obra de Oiticica, ligada a buscas pelo corpo ideal para cores, também é uma intersecção entre variadas formas de arte. A mostra é a oportunidade para quem entra em contato pela primeira vez com o artista. "Há uma sala com livros que os visitantes podem consultar para conhecer mais sobre ele", diz Duarte.

Hélio Oiticica: Mundo-Labirinto

Erramos: o texto foi alterado

Versão anterior do texto afirmava que Hélio Oiticica morrera em 1960. O artista morreu em 22 de março de 1980. O texto foi corrigido.

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