Primeira retrospectiva da pintora, escritora e escultora Leonora Carrington na Espanha, "Revelación" traz 188 obras da artista na Fundação Mapfre, localizada no bairro dos museus da cidade, próximo ao parque do Retiro.
Dividida em dez módulos, a mostra parte de seus desenhos ainda criança e adolescente, quando estudou em Florença, passa pela época em que foi casada com o artista alemão Max Ernst na Europa e chega até a maturidade, quando morou em Nova York e, principalmente, na Cidade do México.
Com uma visão já voltada à ecologia e aos direitos das mulheres, além de uma vida cheia de aventuras, Carrington se negou a ser a musa de pintores como Max —Ernst com quem se casou aos 20, quando ele tinha 46 anos e rompeu um casamento por ela— e assumiu o surrealismo como principal meio de expressão.
Em seus quadros, sempre muito coloridos, ela se representa com a figura de cavalos, enquanto seres de fábulas, feiticeiras, druidas, alquimia, elfos, gigantas e outros entes fantásticos povoam sua imaginação artística.
A maior parte da exibição é formada por quadros e desenhos, mas há livros, tanto os de sua biblioteca quanto os que escreveu, além de esculturas e tapeçarias. Ao final dos dois andares da fundação, está lá o enorme painel "O Mundo Mágico dos Maias", ao lado de uma série de desenhos preparatórios, realizados entre 1963 e 1964 para o Museu Nacional de Antropologia da Cidade do México.
"É uma oportunidade rara, pois quase todas as obras foram emprestadas por 60 colecionadores. De museus, vieram só umas dez", afirma a diretora de cultura da fundação, Nadia Arroyo Arce. A mostra foi realizada em colaboração com o Museu Arken de Arte Moderna da Dinamarca.
Nascida na Inglaterra, o cerne de sua criação partiu da mãe irlandesa, grande apoiadora de sua vocação, e da cultura celta. Com relação complicada com o pai, ela foi expulsa de duas escolas, sendo tachada de ineducável, conforma conta Arce. Já aos dez anos, a menina se identificou com o movimento surrealista, ao ver uma exposição em Paris com a mãe.
A guerra separou Carrington do alemão Ernst e, após uma sombria passagem por um sanatório na Espanha, seu pai decidiu interná-la em outra casa de saúde, desta vez na África do Sul. Prestes a embarcar, ela fugiu, refugiou-se na embaixada do México em Lisboa e convenceu o embaixador e poeta mexicano Renato Leduc a um casamento de conveniência para se ver livre do pai.
Foi desta forma que chegou a Nova York em 1941 e, no ano seguinte, ao México, destino de diversos artistas europeus durante a grande guerra que assolou o continente entre 1939 e 1945. Ela tinha 25 anos e viveria ali, com a exceção de algumas pequenas temporadas, até os 94 anos.
"No México, ela se conecta ainda mais com a cultura de magia e alquimia, pois esses temas eram muito mais comuns por lá do que pelos Estados Unidos e pela Europa", diz Arce.
Seu círculo, no entanto, sempre foi mais entre os expatriados e menos entre os artistas locais. Não se conhece uma colaboração mais profunda, por exemplo, entre Carrington e Frida Kahlo, apesar de ambas transitarem no mesmo movimento surrealista.
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