'Aranha' de Bourgeois que ficou exposta no MAM será vendida pela Fundação Itaú

Expectativa é que obra seja arrematada por ao menos US$ 30 milhões, e fundos devem ser usados para manter Itaú Cultural

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São Paulo

Uma das esculturas da série de aranhas gigantes de Louise Bourgeois, que esteve exposta no Museu de Arte Moderna de São Paulo, o MAM, entre 1997 e 2018, será leiloada pela Sotheby's, em Nova York, no próximo mês.

A escultura "Aranha", de Louise Bourgeois, no MAM em 2011 - Marcelo Ximenez/Folhapress

A expectativa é que a escultura de três metros de altura por mais de cinco de comprimento seja vendida por algo em torno de US$ 30 milhões e US$ 40 milhões, cerca de R$ 152 milhões e R$ 202 milhões. A obra é parte do acervo da Fundação Itaú, braço cultural do Itaú Unibanco, o maior banco do país.

Segundo um comunicado da Fundação Itaú, a peça será leiloada para custear as operações do Itaú Cultural —o dinheiro da venda será revertido integralmente para o fortalecimento da estrutura e a perenidade do centro cultural paulistano.

Além disso, a coleção da fundação é focada em arte e artistas brasileiros, recorte no qual a peça não se encaixa.

Arrematada em 1996 pelo colecionador e cofundador do banco Olavo Setúbal, "Aranha" foi cedida para exposição numa gigantesca marquise do MAM, no parque Ibirapuera, até começar uma peregrinação por diferentes instituições de arte do Brasil.

Desde 208, foi exposta no museu Inhotim, em Minas Gerais, na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, e no Museu de Arte do Rio, no Rio de Janeiro, atingindo mais de 2,2 milhões de espectadores, de acordo com comunicado da Fundação Itaú.

O caso lembra a venda de uma tela de Jackson Pollock pelo Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, há quatro anos, também em Nova York. O leilão gerou polêmica por levar ao exterior a única obra do americano presente numa coleção latino-americana. A venda foi realizada para sanar as contas da instituição, que ia mal das pernas.

A estratégia foi depositar o valor num fundo e usar seus rendimentos para bancar a operação do museu, um caso raro em que uma instituição se desfaz de uma das joias de seu acervo na tentativa de manter as portas abertas. O Pollock foi vendido em 2019 por US$ 13 milhões, cerca de R$ 47,6 milhões à época.

No caso de "Aranha", a venda para um colecionador estrangeiro também representaria a despedida da série dos brasileiros. Outras peças da coleção hoje estão expostas em alguns dos principais museus do mundo, como o Guggenheim, em Bilbao, na Espanha, e a Tate Modern, em Londres.

Jones Bergamin, presidente da casa de leilões Bolsa de Arte, diz que é uma pena que a aranha seja retirada de circulação e que ela vai fazer falta. Segundo ele, a peça é mais importante que o Pollock vendido pelo MAM carioca e pode atingir mais de US$ 50 milhões, ou R$ 255 milhões, no leilão.

Ele questiona também o fato da escultura ser vendida no exterior e não no Brasil, e calcula que haveria dez possíveis compradores no país com bolso suficiente para bancar o valor da obra. "Um banco com fundos incríveis, não tem o que vá comprar que reponha uma Bourgeois desta qualidade", afirma.

A Fundação Itaú afirma que, pela relevância e perfil da obra, optou por vendê-la por meio de uma das casas de leilão mais importantes do mundo. A escolha por um pregão internacional conduzido pela Sotheby`s também confere legitimidade à operação, acrescenta. A obra já está nos EUA.

Por meio de nota, o MAM de São Paulo afirma que a exibição da obra foi um marco na história do museu e que sua importância vai além do contexto museológico. Diz ainda que não vai opinar sobre a venda da escultura, dado que ela não é parte de sua coleção.

David Galperin, chefe de arte contemporânea da Sotheby’s em Nova York, afirmou em comunicado que a obra se tornou um ícone global, reconhecida por todos devido à sua presença proeminente em instituições culturais ao redor do mundo. "Não é apenas um modelo de escultura moderna, mas também assumiu uma presença simbólica maior na cultura contemporânea internacionalmente."

Tomás Toledo, sócio da galeria Galatea, lembra que no Brasil não é tão comum quanto na Europa e nos EUA os museus e as coleções se desfazerem de obras para determinados fins. Ele diz não ver isso de forma espantada ou como uma ação errada, dado que as coleções têm metas e enquadramentos que podem mudar com o decorrer do tempo.

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