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Livro policial pioneiro escrito por autor negro é divertimento de primeira

Rudolph Fisher elaborou 'A Morte do Adivinho' em 1932, com mistério sobre assassinato de rei africano no Harlem

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A Morte do Adivinho

  • Preço R$ 59,90 (304 págs.)
  • Autoria Rudolph Fisher
  • Editora HarperCollins
  • Tradução João Souza

Primeiro título da recém-lançada coleção Clube do Crime —que resgata livros de mistério inéditos ou pouco conhecidos no Brasil—, "A Morte do Adivinho" é considerado o primeiro romance policial escrito por um afro-americano, o médico Rudolph Fisher. Os detetives, os suspeitos e as vítimas vivem no Harlem, o bairro negro de Nova York.

Eis um divertimento de primeira. E não só pelo ambiente, retratado pelo autor com cores e falas vivas, mas também pela trama cheia de reviravoltas e cuja solução só se revela nas últimas páginas. Os amantes do gênero —que era o mais consumido no mundo até o advento do fenômeno da autoajuda— não vão se desapontar.

sombra de homem de terno e chapéu
Ilustração de capa do livro 'A Morte do Adivinho', de Rudolph Fisher - Divulgação

Publicado em 1932, "The Conjure-Man Dies", no original em inglês, é uma típica obra de transição entre dois modelos consagrados ao longo do tempo, mesclando elementos do romance de mistério ao modo inglês, que predominou entre os anos 1880 e 1930, e do estilo hard-boiled americano que, em fins da década de 1920, revolucionou a literatura criminal injetando ação ao suspense.

Há uma dupla encarregada de desvendar o crime, lembrando o esquema de Arthur Conan Doyle e Rex Stout, mil vezes copiado. O médico John Archer, que tem a mesma profissão do autor do romance, não é tão cerebral e perspicaz como Sherlock Holmes ou Nero Wolfe, embora tenha alguns vislumbres de dedução.

O par se completa com o detetive de polícia Perry Dart, responsável pelos interrogatórios. Dart trabalha no Harlem porque "não poderia, sob nenhuma circunstância, ser confundido com nada além de um negro; ou talvez, como os colegas insistiam, o escolheram porque sua pele, generosamente pigmentada, o tornava invisível no escuro".

Os dois vão investigar o assassinato (ou o que parece ter sido um assassinato) de uma figura sinistra, N’Gana Frimbo, rei africano que, depois de estudar em Harvard, se instala em Nova York e se torna um "conjure-man", termo usado no sul dos Estados Unidos para designar adivinhos, feiticeiros e curandeiros.

Frimbo foi encontrado em sua câmara de trabalho com uma pancada na cabeça e um lenço branco com bordas azuis enfiado na garganta.

O relato assume tom de paródia quando um dos suspeitos resolve, ele próprio, descobrir o culpado. Desempregado e vivendo de pequenos golpes, Bubber Brow se faz passar por detetive particular, uma espécie de Philip Marlowe precarizado; no cartão de visitas, ele promete "evidências encontradas em assuntos do coração" e "atenção especial para traidores e caluniadores".

Ao fazer o romance sair dos cômodos fechados e ganhar a liberdade das ruas, o personagem apresenta ao leitor a vida no gueto negro, com sua linguagem de gíria e sua gente invisível —cafetões e prostitutas, jogadores de sinuca, cantoras de inferninhos, viciados e traficantes de droga, batedores de carteira e pregadores religiosos.

foto antiga de homem de negro de terno claro
O escritor e médico Rudolph Fisher, autor de 'A Morte do Adivinho' - Alamy Stock Photo

Sem abrir mão do entretenimento e do jogo de descobrir quem é o assassino, Fisher antecipa a literatura noir e ao mesmo tempo social de Chester Himes, criador nos anos 1950 da dupla de policiais Coffin Ed Johnson e Grave Digger Jones, conhecidos no Brasil como Ed Caixão e Jones Coveiro, cujas histórias também têm o Harlem como cenário.

"O Jogo do Assassino", de Ngaio Marsh, é o segundo volume da coleção editada pela HarperCollins. O terceiro está no prelo —"O Mistério da Cruz Egípcia", de Ellery Queen, que sairá em maio. Curiosidade —o compositor Aldir Blanc, fanático por literatura policial, apontava esse romance de Queen como o de final mais perfeito na história do gênero.

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