Marcio Scavone faz retratos oníricos de metrópoles em fotolivro e exposição no MIS

Fotógrafo sobrepõe figuras humanas a cenários urbanos importantes para sua formação e seus 50 anos de carreira

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São Paulo

Uma mulher de biquíni, com o rosto coberto por um chapéu, curte a areia da praia de Ipanema enquanto barracos de favela se amontoam ao redor. Outra, com óculos de grau sobre o rosto agigantado, se confunde com o vaivém de pessoas na estação de trem Grand Central, em Nova York.

Como essas imagens atestam, as fotografias de Marcio Scavone no livro "Fuga" habitam um lugar entre o real e o imaginário, o onírico e o concreto urbano com carne e osso. Sobrepostas, elas compõem um ensaio que evoca a subjetividade da memória.

"Acho quase impossível contar uma história com uma imagem só. Então, procuro várias", diz o fotógrafo e escritor de 67 anos que tem parte de suas fotografias exposta no Museu da Imagem e do Som até 30 de abril, em uma mostra homônima derivada do livro.

Foto do livro 'Fuga', de Marcio Scavone
'Berço Esplêndido', foto do livro 'Fuga', de Marcio Scavone - Divulgação

Seu espírito cosmopolita se reflete nas imagens em preto e branco, que trazem registros de passagens do artista por Londres, Paris, Rio de Janeiro, Tóquio, Cidade do México, Roma, Nova York e São Paulo. São viagens, diz Scavone, que colaboraram de maneira decisiva em sua formação como fotógrafo.

Fuga, ele afirma, tem três significados. Pode significar a música clássica feita com contrapontos polifônicos, o momento em que o obturador da câmera se fecha após o registro da imagem ou quando a foto é assimilada pelo próprio fotógrafo.

Os filmes "Rashomon", de Akira Kurosawa, "Morangos Silvestres", de Ingmar Bergman, e "O Poderoso Chefão", de Francis Ford Coppola, também fazem parte da colagem de referências proposta pelo autor no projeto, chamado "City Visions".

"Hoje as pessoas se sentem muito sozinhas, mas nosso subconsciente está entrelaçado com o de outras pessoas. Estamos sendo bombardeados pelas mesmas imagens. Temos as mesmas referências", afirma.

A fotografia 'New York Minute', de Marcio Scavone, presente no livro 'Fuga' e na exposição do MIS em São Paulo
A fotografia 'New York Minute', de Marcio Scavone, presente no livro 'Fuga' e na exposição do MIS em São Paulo - Divulgação

Scavone, que fotografa há 50 anos, misturou imagens recentes com outras antigas, o que proporcionou uma oportunidade de revisitar memórias e reinterpretar as cidades por onde passou com o olhar da maturidade. A capital britânica, por exemplo, foi onde ele estudou fotografia nos anos 1970.

Embora "Fuga" trate do que percorre sua subjetividade, Scavone não se furta de fazer comentários sociais. "Berço Esplêndido", que traz a mulher de biquíni rodeada pela favela, é exemplo disso, por rechaçar a ideia de que as areias de Ipanema sejam democráticas. "Dizem que são porque todo mundo está de maiô e sunga e você não sabe quem é rico ou pobre, mas Ipanema está cercada de favelas", afirma.

Além do livro e da exposição, Scavone planeja realizar, com "City Visions", um documentário, palestras, workshops e um segundo livro que deve trazer registros de outras sete cidades —Berlim, Istambul, Buenos Aires, São Petersburgo, Havana, Barcelona e Lisboa.

A partir de maio, "Fuga" parte para Roma e vai passar por todas as cidades que aparecem no primeiro livro.

'Fuga'

  • Preço R$ 200 (216 págs.)
  • Autor Marcio Scavone
  • Editora Alice Publishing e Ipsis Editora

'Fuga'

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