Quem é Caroline Polachek, diva vulcânica que rejeita ser só mais um nome do pop

Artista quer se firmar como vanguarda em esperado segundo disco sobre desejo depois de estreia frustrada pela pandemia

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A cantora Caroline Polachek

A cantora Caroline Polachek Divulgação

São Paulo

Caroline Polachek não tem medo de ser vista como diva. "Uma diva é uma mulher, não uma menina", diz a cantora americana em entrevista por videoconferência. Como um vulcão, imagem que permeia seu segundo álbum, "Desire, I Want to Turn into You", ela diz que as divas são poderosas e explosivas, mas que as pessoas dão poder a elas porque são figuras que levam vitalidade ao público.

Polachek, de 37 anos, se consagrou como nome forte de uma vertente mais vanguardista do pop no primeiro ano da pandemia, pouco depois de lançar seu primeiro álbum, "Pang", de 2019. Mas ela está na indústria musical há pelo menos 20 anos, compondo para outros artistas, como Charli XCX e Beyoncé.

Ela também encabeçou o grupo hipster Chairlift, criado em 2005 e com sonoridade tão para cima e otimista que foi descrito como um fenômeno da era Obama. A fama, porém, veio com a carreira solo, inaugurada com "Pang", que abriga hits como "So Hot You’re Hurting My Feelings", em que ela —literalmente— suspira por um crush, entre batidas românticas e súplicas para que ele mostre sua banana.

Caroline Polachek na capa de seu novo disco 'Desire, I Want to Turn into You'
Caroline Polachek na capa de seu novo disco 'Desire, I Want to Turn into You' - Divulgação

Foi com esse repertório que a cantora veio ao Brasil no ano passado, no festival Primavera Sound. Ela alterna tentativas de sensualidade com apostas em esquisitice plena —inclusive visualmente, caso das queimaduras na pele que lembram tatuagens tribais que marcam a era "Desire, I Want to Turn into You", permeada também pelo imaginário da Grécia antiga, com quimeras e vasos de barro.

Sobra espaço para breguice —botas prateadas, laços gigantes, maquiagem carregadíssima e calças de cintura baixa. Ela abraça tudo sem ironia.

A mesma atitude aparece em suas composições, elevadas pela voz etérea e potente que entoa letras sempre irreverentes e cafonas sobre corações partidos, carregadas de oceanos de lágrimas, torturas, noites de sono perdidas por amor, o pôr do sol e o sublime.

Misturadas ao instrumental majoritariamente pop, mas com acenos a sonoridades cerebrais, como a música barroca, gaita de foles, violão flamenco e ópera, o som ganhou ares cultos. À la prima donna, ela mesma rejeita a etiqueta de artista pop e se afasta da responsabilidade de representar o gênero.

O novo disco, diferentemente do inaugural, conta com uma turnê maximalista. A cantora incluiu até um vulcão na cenografia do palco, forma de compensar a frustração de interromper a promoção do primeiro disco, que viu apenas dez shows antes de o isolamento social se impor.

Mas foi neste cenário que "Pang" floresceu. "Parei de promover o disco, mas os fãs compartilharam por conta própria. Em 2021, quando os shows retomaram, de repente fui de um público de 500 para um de 6.000 pessoas", diz Polachek.

O sentimento de euforia e libertação transparece em "Desire, I Want to Turn into You". Regido por sonoridades e referências visuais europeias, caso dos vulcões e dos vasos gregos em seus clipes, ambientados em praias, o disco soa como uma erupção. "O desejo é o tecido do destino. É aquilo que nos puxa para o futuro", diz ela.

O álbum foi feito entre Roma, Sicília e Barcelona. Depois de um visto expirado na Inglaterra, ela precisou se mudar rapidamente, e a Europa continental foi o destino escolhido. Veio a calhar. "O deslocamento é uma parte da história da humanidade. Senti que era meu papel como artista manter esse sangue correndo vermelho. Usar instrumentações mais tradicionais era uma forma de conectar o presente e o passado."

A geografia acabou permeando "Desire, I Want to Turn into You" mais do que ela imaginava a princípio. Além do flamenco e da gaita de foles, o melodrama italianão kitsch bate ponto no disco, caso da faixa "Sunset", em que ela entoa que o amado é um "pôr do sol vermelho-fogo, para sempre sem medo".

"Me senti muito conectada a esse sentimento antigo de caos, guerra, doença do sul da Europa", diz. "Existe um humor e uma sensualidade que sempre foi parte dessa região para os quais acordei depois da pandemia."

Tudo isso cai como uma luva na tentativa de Polachek de abraçar a ideia da diva. Ela, que soava tão etérea em "Pang" a ponto de ser comparada —a contragosto— a uma fada, parece mais interessada em ter sangue correndo vermelho e quente pelas veias.

"Ter contradições é ser humano. A maior coisa que podemos fazer para garantir nossa humanidade enquanto mulheres é ter contradições", diz. É isso que a atrai para a figura da diva, que ela parece empenhada em construir. "Falamos de estrelas como divas porque a menor coisa já as desagrada e elas explodem. Todos sabem do que elas são capazes. Você pode destruir, mas também pode curar a dor do público."

Desire, I Want to Turn into You

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