Kraftwerk e Underworld transformam o C6 Fest em uma pista de dança

Grupo alemão que popularizou a música eletrônica enfileirou sucessos e homenageou o Brasil em projeções em telão

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São Paulo

A nave espacial do Kraftwerk pousou em São Paulo na noite deste sábado (20). Foi o que exibiu o telão do influente quarteto alemão durante seu show na área externa da construção feita pelo C6 Fest na área externa do auditório do parque Ibirapuera.

O grupo alemão Kraftwerk em apresentação do C6 Fest no parque Ibirapuera, em São Paulo
O grupo alemão Kraftwerk em apresentação do C6 Fest no parque Ibirapuera, em São Paulo - Adriano Vizoni/Folhapress

Milhares de pessoas que ignoraram o friozinho da capital paulista bebiam cerveja, fumavam e paqueravam enquanto o DJ Juan Atkins se apresentava. Apesar de bem ocupado, o espaço para 10.000 pessoas não estava lotado. Como na sexta-feira, era fácil circular até perto do show.

O palco, montado atrás do auditório, tinha um sistema de som excelente e um telão imenso. Foi bonito de ver as projeções que acompanham as músicas sobre o telão colado no prédio de Oscar Niemeyer.

O show do Kraftwerk foi um espetáculo audiovisual 8-bit. A música eletrônica vintage dos alemães fez muito mais sentido acompanhada das projeções de discos voadores e computadores dos anos 1980 que tomaram o telão.

Vestindo roupas adornadas com neons que trocavam de cor de acordo com a música, o quarteto que ajudou a popularizar a música eletrônica num momento em que ela era sinônimo de vanguarda fez homenagens ao Brasil. Na clássica "Autobahn", o telão mostrou imagens computadorizadas de fuscas em estradas do país.

Mais cedo, na tenda Heineken, Mahamadou Souleymane, o Mdou Moctar, tocou seu rock do deserto para uma plateia que começou desértica, mas evoluiu até ficar quase cheia. Todos assistiram ao show com muito interesse.

Souleymane, cujo disco mais recente leva o nome de "Afrique Victime", faz um folk inspirado nas tuareg guitar, estilo com inspiração decolonial profunda. Ele cantou em tamasheq, dialeto berbere, e se apresentou vestindo uma túnica.

Antes dele, artistas brasileiros tomaram o palco da tenda. O show foi aberto com Kaê Guajajara, rapper indígena criada no complexo de favelas da Maré, no Rio, que entrou no cantando acompanhada de vocalizações de Russo Passapusso e BNegão e da Nomade Orquestra. O grupo, criado em 2012 no ABC Paulista, regeu toda a apresentação, feita especialmente para o evento, com os vocalistas.

O show teve um público menor do que o da primeira apresentação da noite de sexta, da banda Dry Cleaning, mas contava com a concorrência do palco da área externa, que não havia funcionado no dia anterior. A resposta do público à música brasileira, no entanto, foi muito superior à vista em todos os outros shows da tenda.

A soma da big band com os três vocalistas resultou numa apresentação rica musicalmente, com solos instrumentais e a poderosa união dos repertórios de Guajajara, BNegão e Os Seletores, além de BaianaSystem, grupo liderado por Passapusso.

Outra das principais atrações deste sábado, Jon Batiste subiu ao palco da tenda com cerca de 20 minutos de atraso, enquanto o Underworld tocava na área externa. Ele não poderia contrastar mais com o Kraftwerk. Se os alemães são duros como robôs, o americano fez um show balançado até o talo.

Batiste aqueceu sua entrada ao som de uma bateria carnavalesca de escola de samba. Os apitos e batuques não comoveram, à princípio, a plateia blasé, que só foi se animar mesmo —e muito— depois que o artista entrou no palco vestindo uma regata de trama larga e calça pantalona de cintura alta.

De fato, há algo de carnavalesco na performance de Batiste, que venceu o Grammy de melhor álbum no ano passado com "We Are", disco que baseou o show deste sábado. Ele foi acompanhado por uma banda de 16 integrantes, que se alternam entre o virtuosismo em seus instrumentos e performances meio teatrais que lembram um musical.

Ainda na primeira música, "Tell the Truth", Batiste tocou guitarra, saxofone e piano, em uma performance que não deixou dúvida do quanto o C6 é herdeiro do Free Jazz. Com pouco mais de uma hora de duração, o show foi todo baseado em gracejos e exibicionismos –aos quais o público reagiu em êxtase.

Houve ainda o Underworld, que transformou o festival em uma grande pista de dança, oferecendo uma dose de melodia e emoção depois do som matemático e minimalista do Kraftwerk. Era difícil ficar parado com a mistura de techno e trance do duo inglês. Todo o show do Underworld teve clima de rave, mas a apoteose veio, com era de se esperar, em "Born Slippy", faixa que faz parte da trilha sonora de "Trainspotting".

A reta final deste sábado de apresentações ficou reservada para Lia de Itamaracá, ícone da ciranda pernambucana, que subiu ao palco da tenda, como havia feito no dia anterior, no Rio. Aos 79 anos, ela cantou músicas como "Janaína", "Quem Me Deu Foi Lia", "Meu São Jorge" e "Vi Mamãe Oxum na Cachoeira", acompanhada pela banda americana, e de mãos dadas com um Batiste sorridente.

Para aguentar a maratona de shows, havia barracas de comida na área externa e uma praça de alimentação entre a tenda, o auditório e a pista eletrônica. O preço do chopp Heineken é R$ 16 o copo de 500 ml e não destoou de outros eventos do tipo. A caixinha de água, de meio litro, sai por R$ 8.

Espalhados pelo evento, restaurantes de alto padrão vendem porções pequenas de seus pratos. O cone de camarão crocante do Myk sai por R$ 45, o arroz de cogumelo do Quincho é vendido a R$ 35 e o nhoque com molho funghi do Eataly pode ser adquirido por R$ 37, enquanto um hambúrguer do Bullguer custa R$ 33. Entre os drinques, há opções como o Fitzgerald do Cineclube Cortina por R$ 33, o moscow mule do Flora por R$ 42 ou o cariñito do Pina pelo mesmo preço.

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