Descrição de chapéu Obituário Martin Amis (1949 - 2023)

Morre o escritor britânico Martin Amis, autor de 'Zona de Interesse', aos 73

Autor enfrentava um câncer no esôfago e morreu um dia depois da exibição de um filme em Cannes inspirado em um de seus livros

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São Paulo

Considerado um dos principais escritores britânicos do pós-guerra, Martin Amis, que examinou o submundo do sexo e das drogas, morreu na sexta-feira (19) em sua casa em Lake Worth, na Flórida, nos Estados Unidos. Isabel Fonseca, sua mulher, informou que um câncer no esôfago causou a morte do autor.

O escritor britânico Martin Amis - Reuters

A morte foi anunciada um dia depois da exibição do longa "The Zone of Interest" no Festival de Cannes. O filme, dirigido por Jonathan Glazer, foi inspirado no livro homônimo escrito por Amis, um dos principais de sua carreira literária.

No Brasil, "Zona de Interesse" foi lançado em 2014 pela editora Companhia das Letras. A expressão que nomeia a obra é uma referência ao modo como os nazistas chamavam a área de 40 quilômetros que circundava o enorme campo de concentração de Auschwitz.

À crítica literária, ele é reconhecido pela trilogia formada por "Grana", de 1984, "Campos de Londres", de 1989, e "A Informação", de 1995.

Sua obra se distinguiu pelo tom mordaz com que descrevia o cotidiano de seus personagens. O escritor se interessava, sobretudo, pelo submundo —lojas de fast-food, casas de strip-tease e revistas pornográficas. Para a conquista do próprio estilo, ele se inspirou nos romances de Vladimir Nabokov e Saul Bellow.

Nascido em Oxford, Amis cresceu à sombra do pai, Kingley Amis, escritor reconhecido por "Lucky Jim", publicado em 1954. Seu pai foi, primeiro, uma influência ensurdecedora. Depois, os dois começaram a seguir os próprios caminhos, tendo compreensões distintas sobre arte e política.

A suposta rivalidade entre pai e filho alimentava os tabloides do Reino Unido e a curiosidade de todo o leitorado. Com o tempo, Martin Amis foi considerado um dos principais romancistas do pós-guerra.

Nos anos 1990, os mesmos tabloides o tornariam ainda mais conhecido. Em 1994, ele causou celeuma no meio literário ao trocar a agente Pat Kavanagh, mulher de seu amigo Julian Barnes, por uma rival. O episódio causou um estremecimento entre os autores. Sua presença na mídia foi estratégica. Em entrevistas, ele discorria sobre um vasto leque de assuntos, da guerra do momento ao livro que estava lançando.

No que se restringe à literatura, contudo, Amis havia publicado dois importantes livro ainda nos anos 1970. "Os Papéis de Rachel" é um romance autobiográfico sobre um jovem sardônico e obcecado sexualmente por sua colega de classe, Rachel.

O relacionamento se passa ainda no colégio, enquanto os dois se preparavam para a semana de provas. Com o livro, o autor ganhou o prêmio Somerset Maughan. Foi então que mudou de patamar e ganhou reconhecimento como um nome da nova geração. Nos Estados Unidos, porém, a crítica não se entusiasmou tanto com a obra a princípio, classificando-a como uma "saga de uma adolescência tardia".

Amis demorou a ganhar reconhecimento nos Estados Unidos. Só era lembrado por outro escândalo midiático, envolvendo plágio. Amis acusara Jacob Epstein, filho de Barbara Epstein, a fundadora da The New York Review of Books, de copiar passagens de seus livros "Os Papéis de Rachel" em "Wild Oats", de 1980.

Entre seus romances, destaca-se também "Bebês Mortos", talvez sua obra com humor mais macabro, sobre o consumo de drogas e relações sexuais numa comunidade de jovens que vivia na zona rural. Há ainda "Grana", que a revista Time classificaria como "um dos cem melhores romances escritores em língua inglesa".

O romance é narrado por John Self, um diretor comercial que acaba se envolvendo no projeto de um filme. Refletindo o estilo do escritor, o personagem é um homem hedonista que faz a todo tempo observações cáusticas sobre a realidade.

Outra obra que chamou atenção foi "Os Campos de Londres", que traz a ambiência de um mundo em transformação, antecipando os debates sobre as mudanças climáticas com tinturas apocalípticas e "A Informação", em que Amis examina a linguagem num processo de experimentação, contando a história de uma dupla de escritores.

Ao todo, Amis publicou 15 romances, um livro de memórias intitulado "Experiência", de 2000, algumas obras de não ficção e coletâneas de contos.

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