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Feira do Livro volta a ocupar Pacaembu com mais verba, escritores e estandes

Evento literário tem programação gratuita com dezenas de autores, mas Davi Kopenawa desfalca abertura

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bordado forma rosto colorido de pessoa

Bordado da artista Flavia Bomfim ilustra a capa do livro 'Bem Mais que Ideias', de Patricia Hill Collins Divulgação

São Paulo

Pelo segundo ano, a literatura transitará por bocas, mãos e ouvidos em praça aberta no Pacaembu —mas agora, sobre pernas mais firmes. Se a estreia da Feira do Livro em São Paulo, em junho do ano passado, foi feita em esquema de mutirão, ela avança para se estruturar como um projeto cultural sólido.

O festival foi idealizado pelo editor Paulo Werneck, presidente da Associação Quatro Cinco Um, que publica a revista de mesmo nome, e o arquiteto Álvaro Razuk, da Maré Produções. A parceria ergue tendas e abre auditórios na praça Charles Miller a partir da tarde desta quarta até o fim do domingo de feriado.

tendas em frente a estádio
Último dia da primeira edição da Feira do Livro, no estádio do Pacaembu - Gabriel Cabral/Folhapress

A grande notícia da vez, diz Werneck, é que a feira conseguiu recorrer à Lei Rouanet —em 2022, quando deu seu pontapé inicial, o evento não pôde captar recursos junto à Secretaria de Cultura do Ministério do Turismo, então responsável pela área no governo Jair Bolsonaro.

O financiamento do projeto anual da Quatro Cinco Um, do qual o festival literário fazia parte, estava bloqueado e com processo correndo na Justiça.

Neste ano, uma proposta nova foi elaborada junto ao governo federal e, já no Ministério da Cultura do governo Lula, o evento obteve aprovação para captar até R$ 1,6 milhão, dos quais conseguiu colher cerca de metade junto a patrocinadores. Foi o bastante.

"É algo que ilustra como as políticas públicas são fundamentais para projetos de cultura", diz o editor, ressaltando também que nesta edição a prefeitura paulistana e o Sesc entraram como apoiadores. "Não seria viável fazer todo ano como da última vez."

O que ele quer dizer é que, quando foi inaugurada, a feira dependeu muito mais da cooperação e da boa vontade de editoras e parceiros para financiar a estrutura e trazer convidados. O que ainda acontece, em certa medida, mas agora há um colchão confortável que ampara um evento de maior porte.

Chamariz principal, a programação gratuita de encontros com autores começa com um desfalque de última hora. O líder yanomami Davi Kopenawa cancelou sua participação, em luto pela morte de sua ex-nora, que se suspeita ter sido assassinada em Roraima.

Responsável por "A Queda do Céu" e "O Espírito da Floresta" ao lado do antropólogo Bruce Albert, ele abriria o festival no que se anunciava como um grande ritual indígena com a pesquisadora Hanna Limulja, o músico Xavier Bartabaru e o jornalista britânico Tom Phillips, amigo de Dom Phillips, assassinado há um ano na Amazônia com o indigenista Bruno Pereira.

Os povos originários ainda estarão presentes no encontro de Txai Suruí e Jerá Guarani, no sábado de manhã, mas a mudança é um golpe duro numa feira que apostava em Kopenawa como um de seus destaques —vale lembrar que ele também havia suspendido sua participação em outro festival literário, a Flip, em novembro ao contrair Covid.

A escala de programação, contudo, segue robusta. Subirão aos dois palcos paralelos do evento, dentro e fora do estádio do Pacaembu, um total de 74 participantes, entre autores e convidados de outras áreas, como jornalistas, instrumentistas e fotógrafos.

Há nove presenças internacionais neste ano —algumas de relevo, como a socióloga Patricia Hill Collins, autora de "Interseccionalidade", a poeta francesa muçulmana Fatima Daas, autora de "A Última Filha", e dois vencedores do Pulitzer, o poeta Jericho Brown, de "A Tradição", e o biógrafo Richard Zenith, de "Pessoa". Em junho passado, os nomes estrangeiros mal davam para completar uma mão.

A programação de escritores nacionais, já forte na edição de estreia da feira, investe agora em medalhões como Sueli Carneiro, que acaba de publicar sua tese "Dispositivo de Racialidade"; João Silvério Trevisan, que tirou do forno o autobiográfico "Meu Irmão, Eu Mesmo"; e ficcionistas consagrados como Milton Hatoum e Geni Guimarães.

Fechando as noites de sexta e sábado, haverá dois encontros entre autores dos mais relevantes na cena contemporânea. Primeiro, o carioca Geovani Martins, dos contos de "O Sol na Cabeça" e do romance "Via Ápia", conversa com a paulista Luiza Romão, que venceu o prêmio máximo no Jabuti pela coletânea de poemas "Também Guardamos Pedras Aqui".

No dia seguinte, se reunirão a escritora Ana Maria Gonçalves, que publicou uma nova edição do já clássico "Um Defeito de Cor", e Itamar Vieira Junior, colunista da Folha que está rodando o Brasil para lançar seu "Salvar o Fogo".

E a feira termina com um "autografaço" que coroa o ciclo que começou com o projeto chamado "Um Grande Dia para as Escritoras", organizado por autoras como Giovana Madalosso no ano passado, agora tornado um livro que busca retratar a literatura feita por mulheres no país.

Para as crianças, uma boa pedida é o Espaço Folhinha, que receberá todos os dias autores de livros infantis como Antonio Prata, Kiusam de Oliveira e Ilan Brenman para conversar com as crianças, além de promover contação de histórias toda manhã, às 10h, e shows de Hélio Ziskind, no sábado, e do palhaço Hugo Possolo, no domingo. Será no estande da Folha, que é parceira do evento.

É mais amplo também o cardápio dos expositores nas tendas que circundam a praça, que saltaram de 127 para 154 de um ano a outro. Ou seja, há maior diversidade de editoras e projetos literários de todo tipo mostrando seu trabalho ao público —e Paulo Werneck destaca o aumento na quantidade de livrarias, o que indica que elas não têm enxergado o evento como antagonista.

Mesmo que o comércio seja parte fundamental da feira, ela não prioriza os descontos massivos para atrair leitores, diferentemente de outras que costumam enfurecer o mercado livreiro. A decisão de baixar preços ou não cabe a cada um dos expositores.

Nos retoques finais, Werneck lembra que ouviu reclamações de escassez de café e comida, o que procurou sanar. "Afinal, livro sem café não dá."

A Feira do Livro


veja a programação completa

QUARTA, 7

19h
Tom Phillips, Hanna Limulja e Xavier Bartaburu

QUINTA, 8

10h
Bela Gil e Néli Pereira

11h45
Max Lobe e Abdellah Taïa

12h15 - Homenagem a Pelé
Luiz Antonio Simas e Lorenzo Mammì

13h30 - Interlúdio Musical
Hermínio Bello de Carvalho e Joyce Moreno

15h
Luiz Antonio Simas e Bianca Tavolari

17h
João Silvério Trevisan e Renan Quinalha

17h15
Ligia Fonseca Ferreira e Hebe Mattos

19h
Sueli Carneiro e Bianca Santana

SEXTA, 9

10h
Ginevra Lamberti e Camila Appel

11h45
Antônio Bispo dos Santos e Bianca Tavolari

12h15
Conrado Corsalette e Natália Viana

13h30
Maria Stockler Carvalhosa e Isabel Teixeira

15h
Patricia Hill Collins

15h15
Pedro Cesarino, Aparecida Vilaça e Rita Carelli

17h
Jericho Brown

17h15
Ynaê Lopes dos Santos e Marcio Farias

19h
Geovani Martins e Luiza Romão

SÁBADO, 10

10h
Txai Suruí e Jerá Guarani

11h45
Geni Guimarães e Eliane Marques

12h15
Eugênio Bucci

13h30 - Interlúdio Musical
Arthur Nestrovski e Celso Sim

15h
Richard Zenith e Lira Neto

15h15
Samir Machado de Machado e Antônio Xerxenesky

17h
Fatima Daas e Diogo Bercito

17h15
Fernando Romani Sales, Mariana Celano de Souza Amaral e Marina Slhessarenko Barreto

19h
Itamar Vieira Junior e Ana Maria Gonçalves

DOMINGO, 11

10h
Cida Bento e Winnie Bueno

11h45
Milton Hatoum e Roberta Martinelli

12h15
Bob Wolfenson e Renato Parada

13h30 - Interlúdio Musical
Paula Lima, Tiê e Tulipa Ruiz (homenagem a Rita Lee)

15h
Aline Motta, Felipe Charbel e Paulo Roberto Pires

15h15
Pablo Katchadjian

16h
"Autografaço" de escritoras

17h
Edição ao vivo do podcast Foro de Teresina, com os jornalistas Fernando de Barros e Silva, José Roberto de Toledo e Thais Bilenky

17h15
Pedro Vinicio e Laerte

19h - Encerramento: Um Grande Dia para as Escritoras
Esmeralda Ribeiro, Natália Timerman, Paula Carvalho e Giovana Madalosso

convidados do espaço folhinha

QUINTA, 8

14h
Marcelo Duarte

17h
Ilan Brenman

SEXTA, 9

14h
Salvador Nogueira

17h
Kiusam de Oliveira

SÁBADO, 10

14h
Hélio Ziskind

17h
Antonio Prata

DOMINGO, 11

16h
Hugo Possolo

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