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Scorsese resgata cantor do New York Dolls que influenciou Bowie

Diretor pincela carreira de David Johansen, figura carismática de banda de rock esquecida ao longo dos anos

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Personality Crisis: One Night Only

  • Quando In-Edit: sex. (23), às 20h30, no Cinesesc
  • Classificação Não indicada
  • Produção Estados Unidos, 2022
  • Direção Martin Scorsese e David Tedeschi

Não é nenhum segredo o grande amor de Martin Scorsese, diretor de "Taxi Driver", "Os Bons Companheiros" e "Os Infiltrados", pelo rock’n’roll. Após passar anos escolhendo as melhores músicas dos Rolling Stones, Eric Clapton, Donovan e muitos outros para seus filmes repletos de violência, ele mergulhou de vez no assunto com o documentário "No Direction Home", de 2005, sobre a vida de Bob Dylan até 1966.

Voltou ao cantor em 2019, com "The Rolling Thunder Revue", mas antes dissecou a vida do beatle George Harrison em "Living in the Material World". de 2011, e filmou um show Mick Jagger e companhia em 2008, no chamado "Shine a Light". Em 1978, já havia registrado o show de despedida da The Band, no seminal "The Last Waltz".

David Johansen em cena do documentário 'Personality Crisis: One Night Only'
David Johansen em cena do documentário 'Personality Crisis: One Night Only' - Divulgação

Pois enquanto se prepara para a estreia de "Killers of the Flower Moon", no segundo semestre, Scorsese volta ao trilho do documentário musical e lança "Personality Crisis: One Night Only", sobre David Johansen, com a ajuda da codireção de David Tedeschi. Está em cartaz em São Paulo só nesta sexta (23), durante o festival In-Edit.

Artista muito menos conhecido do que os outros que Scorsese já retratou, David Johansen foi o cantor e compositor de uma banda nova-iorquina que influenciou muita gente, mas nunca atingiu o sucesso comercial. Estamos falando de Velvet Underground? Não, do New York Dolls, uma banda que transitava na mesma área de subcultura erótica e LGBT da banda de Lou Reed.

O New York Dolls apareceu um ano após a dissolução do Velvet, em 1971, e lançou dois álbuns, em 1973 e 1974. O primeiro deles tem "Personality Crisis", sua música mais conhecida e que dá nome ao filme de Scorsese.

Além de se chamarem bonecas de Nova York, os músicos se vestiam como mulheres, ou ainda, como prostitutas, com vestidos, tops, salto altos e muita maquiagem. Era o mais puro punk glam, que influenciou de Ramones a Kiss, de T. Rex a David Bowie, que, aliás, os assistiu muitas vezes.

Mas "Personality Crisis: One Night Only" não é um documentário sobre a trajetória de New York Dolls ou a vida de Johansen. Apresenta apenas algumas pinceladas biográficas enquanto alterna um show do cantor feito em janeiro de 2020 no Café Carlyle, tradicionalíssimo clube de jazz que fica em um hotel de luxo em Manhattan.

O show é excelente. Johansen canta músicas de toda sua carreira e elas se adequam muito bem ao ótimo grupo de jazz que o acompanha. As canções são boas e emocionantes, surpreendentes até. Na plateia, a blondie Debbie Harry e outras figuras na Nova York dos anos 1970.

Entre cada canção, Scorsese exibe histórias interessantes, usando basicamente entrevistas antigas para redes de televisão, nos quais Johansen conta causos do New York Dolls. Uma boa parte desse material de arquivo vem da filha do músico, que aparentemente andou entrevistando e filmando o pai por anos.

No final das contas, "Personality Crisis" decepciona um pouco porque parece desperdiçar o personagem nessa falta de profundidade biográfica. As mortes de dois integrantes da banda, por exemplo, são contadas em uma frase cada uma.

Lou Reed nem sequer é mostrado, o que parece incompreensível, dadas a sua enorme importância para o underground nova-iorquino a partir dos anos 1960 e as similaridades de energia, agressividade e afronta social entre os grupos que os dois lideraram.

Por outro lado, há bons achados. Um deles é com Morrissey, que viria a formar os Smiths na Inglaterra dos anos 1980. Ele conta como descobrir os New York Dolls aos 13 ou 14 anos mudou sua vida e o fez ficar obcecado pela banda. Legal também ver o arrogante inglês tietando seu ídolo americano em algumas imagens de arquivo.

A apresentação na noite em que Scorsese filmou —se é que foi apenas uma noite— também comemorava o aniversário do artista, mas, salvo engano, sua idade não é trombeteada ali —70 anos.

Hoje com 73, Johansen não é nem nunca foi um grande cantor. Nem mesmo tem uma voz marcante. Desafina diversas vezes no filme. Mas tem presença de palco, uma barbicha para lá de engraçada e um topete mais ou menos da mesma altura do Empire State Building. Uma figuraça que vale conhecer.

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