Como cadeiras modernistas deram o pontapé inicial no design feito no Brasil

Exposição em Belo Horizonte reúne conjunto de peças de 1920 a 1980 incluindo raridades de Jorge Zalszupin e Lina Bo Bardi

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Belo Horizonte

Uma das formas de compreender o nascimento do design brasileiro é olhar para as cadeiras produzidas no país durante o modernismo. O desenho limpo, o conforto para o corpo e a valorização dos materiais empregados na fabricação criaram uma linguagem única para os móveis de meados do século 20.

Agora, uma exposição na Casa Fiat de Cultura, em Belo Horizonte, reúne uma coleção de cerca de 50 cadeiras e poltronas produzidas entre as décadas de 1920 e 1980, período que compreende o início, o auge e o fim do período moderno.

É um panorama histórico do móvel brasileiro, com exemplares de peças feitas para residências, escritórios e os palácios de Brasília. A mostra celebra os 80 anos do conjunto moderno da Pampulha, na capital mineira.

Poltrona FDC-1, desenhada por Flavio de Carvalho nos anos 1950
Poltrona FDC-1, desenhada por Flavio de Carvalho nos anos 1950 - Divulgação

"O modernismo para o Brasil significou um grande salto", afirma o professor João Caixeta, organizador da mostra. Foi um período em que começou a se prezar pelo conforto no sentar aliado à preocupação estética. Exemplo deste pensamento é uma cadeira de Giuseppe Scapinelli, de 1950, com estrutura de madeira caviúna em que os braços têm uma delicada curvatura.

Como é de se esperar, estão expostos alguns modelos clássicos, a exemplo da poltrona Moleca, de Sergio Rodrigues —uma versão menor de sua poltrona Mole, feita para exportação—, um exemplar vintage da poltrona Jangada, de Jean Gillon, com o charme do couro gasto, e um modelo reeditado da Banqueta Alta, de Oscar Niemeyer, peça que estabelece um diálogo com sua arquitetura de curvas.

Uma das estrelas da mostra é uma cadeira de três pés de Jorge Zalszupin feita sob encomenda de uma família mineira para a sala de jantar, na década de 1950. O móvel tem assento de madeira modelada como se fosse uma folha de papel com as pontas dobradas, não teve edição comercial e não se encontra na literatura sobre o tema, segundo o organizador da exposição.

Outra peça rara é uma cadeira vintage de Lina Bo Bardi do final da década de 1940. Chamada de Tripé, seu assento de couro vaqueta lembra as redes indígenas, "um dos mais perfeitos instrumentos de repouso", segundo a designer, conhecida por valorizar as tradições brasileiras em suas peças.

A mostra sublinha o papel de designers estrangeiros que emigraram para o Brasil na criação do vocabulário do móvel moderno, como Bo Bardi e Scapinelli, italianos, e Zalszupin, polonês.

"Eles chegam com vontade de inovar num momento em que o Brasil está se reinventando esteticamente, se recolocando no mundo", afirma a historiadora Clarita Gonzaga, educadora da Casa Fiat de Cultura. "Chega um pulso de inovação num país que está abraçando a inovação."

Pioneiros do Design Brasileiro - Cadeiras Modernistas

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