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Jennifer Lawrence liberta seu corpo em filme em que namora adolescente

'Que Horas Eu te Pego?' é comédia besteirol de amadurecimento que ganha volume na atuação da atriz, que abraça sua idade

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Que Horas Eu te Pego?

  • Onde Nos cinemas
  • Classificação 16 anos
  • Elenco Jennifer Lawrence, Andrew Barth Feldman e Matthew Broderick
  • Produção Estados Unidos, 2023
  • Direção Gene Stupnitsky

Jennifer Lawrence tem 1,75 metro. Ela é considerada alta, mas também não é tão alta assim. Um porte médio, por assim dizer, na medida para seus papéis.

Em "Que Horas Eu te Pego?", porém, ela surge com um tamanho exagerado, desproporcional às medidas reais. Os sapatos de salto alto, constantes no filme, impulsionam essa visão, assim como os enquadramentos. Mas essa sensação parte da própria atriz, com uma atuação que sugere ora o desengonçado, ora o inadequado.

Que Horas Eu te Pego?
A atriz Jennifer Lawrence em cena de 'Que Horas Eu te Pego?' - Macall Polay/Divulgação

O filme também nasce dessa percepção, pelo corpo da artista e pela premissa insólita. Nela, uma jovem adulta chamada Maddie, vivida por Lawrence, se descobre afogada em dívidas que podem custar a casa de sua mãe, que morreu.

Quando seu carro é confiscado pela prefeitura, ela decide responder um anúncio online, em que um casal oferece um veículo a qualquer mulher que tirar a virgindade do filho de 19 anos. É para o tirar do ninho, os pais dizem, pois o menino vai estudar na Universidade Princeton.

Como a atriz, Maddie tem 32 anos de idade, e o filme acontece a partir desse disparate, com um quê de surreal, do casal. Daí vem a decisão da narrativa em mostrar Lawrence mais alta. A cena de seu primeiro esbarrão com o menino, batizado Percy e feito por Andrew Barth Feldman, é construída a partir disso.

Ela vai encontrar o garoto num canil, onde ele trabalha, e o vê encolhido no chão, cuidando de um cachorro salsicha. Então Maddie, quase tocando o teto de tão alta, se aproxima de Percy em passos que presumem alguma sensualidade, perguntando se pode mexer no salsicha dele —um trocadilho proposital.

O mesmo acontece quando Maddie é levada por Percy a uma salinha para uma avaliação de aptidão para adotar um cãozinho —a desculpa inventada para a moça estar ali. Suas jogadas sensuais se perdem no momento em que ela precisa se sentar em um sofá rebaixado perante uma mesa de pés grandes.

O efeito é que a atriz, gigante, fica só com a cabeça visível na cena. O moleque, por sua vez, aparece com o torso inteiro, mesmo sendo pequeno e magricelo. A composição resulta em uma cena ótima, de risadas fáceis.

Esse humor físico de "Que Horas Eu te Pego?", que deforma o corpo da atriz enquanto mostra o ofício da sedução, não vai muito além disso. Contexto é tudo. A história se passa em Montauk, cidade à beira do mar e próxima de Nova York. O lugar é ideal para as férias de verão dos cosmopolitas, que ameaçam a casa de Maddie, bem localizada e com um espaço amplo.

Todo ano, em meados de junho, Maddie tem de lutar para pagar as contas e evitar as dívidas que a podem fazer ser enxotada de casa. Mais tarde, o público descobre que ela faz isso por uma relação mal resolvida com o pai, que a abandonou na barriga da mãe.

Esse drama, misto de gentrificação com trauma familiar, é pareado com o de Percy, que vive o extremo oposto com os pais corujas que são ricaços. O filme então segue o caminho —um tanto tedioso— da parábola do amadurecimento.

A história não afunda graças a Lawrence. A atriz rapta o filme e o modela a partir de sua figura. Nesse caso, literalmente. Ela brinca não só com a altura, mas com o próprio corpo amadurecido, dentro de uma produção que a força a interpretar uma pessoa muito mais jovem do que ela pode ser.

Assim, os saltos e patins que tanto forçam a artista a aparecer corcunda, como se estivesse encurralada pelo teto, são acompanhados de vestidos tubinho com o decote baixo. Um look típico de adolescente, rosa e de lantejoulas brilhantes, é cômico no corpo de uma atriz de 32 anos.

Mas a quantidade de pele exposta permite ao público ver a atriz como ela é. O que parece ser o ponto. De repente, a inadequação não é só de Lawrence e do papel que sua personagem desempenha, mas do olhar do espectador, que a rejuvenesce em causa própria.

O filme tem até uma cena em que ela aparece toda nua, despida também de sua sexualidade, em meio a uma briga feia com um trio de adolescentes.

Esse tipo de performance física, que lembra as atuações de Jerry Lewis, se tornou recorrente na carreira da artista, que voltou de um hiato no ano retrasado. Seus últimos dois trabalhos, o drama "Passagem" e a sátira "Não Olhe para Cima", deixam evidente o interesse por papéis que exigem entrega completa do corpo.

Em "Que Horas Eu te Pego", Lawrence refina esse trabalho, reivindicando o controle de seu corpo. A atuação, por sua vez, eleva a dignidade do besteirol. Assim, todos ganham.

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