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BBB arrisca ter o pior de dois mundos aderindo a novo sistema de votação

Público reclama que programa foi sequestrado pelas torcidas, mas divisão por CPF e 'voto da torcida' pode acelerar queda

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São Paulo

A Globo confirmou nesta semana que a próxima edição do Big Brother Brasil terá um sistema duplo de votação. A emissora manterá o método antigo, em que o espectador pode votar quantas vezes quiser, de graça, pelo site G1. Mas também introduzirá o voto por CPF, em que o usuário terá de fornecer o número do documento. Uma vez verificado, ele poderá votar uma única vez por paredão.

O resultado final será a média ponderada dos dois formatos, com cada um deles tendo peso de 50%. Dessa forma, a emissora busca atender a uma demanda de boa parte do público, que sente que a votação do programa foi "sequestrada" por torcidas cada vez mais fanáticas e agressivas.

Tadeu Schmidt, o apresentador do BBB 23
Tadeu Schmidt, o apresentador do BBB 23 - Paulo Belote/Divulgação

Exibido desde 2002, o BBB sempre mobilizou sua audiência. Grupos mais ou menos organizados, muitas vezes comandados por familiares de um participante, conseguiam que o jogador escapasse de sucessivos paredões. Mas não tinham força para garantir a vitória de ninguém, especialmente quando ainda se pagava para votar por telefone.

O voto gratuito pela internet mudou a dinâmica do jogo. As torcidas se tornaram cada vez mais aguerridas, dispostas a varar noites votando para eliminar os rivais de seus favoritos. Algumas passaram a se comportar feito milícias digitais, infernizando virtualmente qualquer um que enxergassem como inimigo.

Em 2021, a paraibana Juliette Freire amealhou uma base tão beligerante de fãs —os autodenominados "cactos"— que eles mesmos se definiam como uma facção. Os cactos defenestraram Gil do Vigor, tido como o mais forte concorrente de Juliette, e ainda deram a ela incríveis 90,15% dos votos na grande final.

No ano seguinte, Arthur Aguiar se sagrou campeão do BBB 22. O ator e cantor entrou na casa com a vantagem de já ser razoavelmente conhecido, mas só vinha frequentando as manchetes por causa de seus sucessivos casos extraconjugais.

Mesmo tendo traído pelo menos 16 vezes sua então mulher, a influenciadora Maíra Cardi, Aguiar conquistou uma legião de admiradores —composto, em sua maioria, por mulheres.

Esses fãs chamam a si mesmos de "pães", por causa da quantidade de pão que seu ídolo consumiu ao longo da temporada, e deram a ele uma vitória folgada. Mas tal triunfo não se traduziu em popularidade. Mais de um ano depois, Arthur Aguiar continua sem lançar nenhum projeto relevante.

Algo semelhante pode estar acontecendo com Amanda Meirelles, a médica paranaense que venceu o BBB 23. Sua personalidade tranquila fez com que muitos vissem nela alguém absolutamente normal, "gente como a gente".

Mesmo se comportando com uma "planta" —o apelido dado aos jogadores que não se envolvem muito no jogo— Meirelles foi a campeã da edição, empurrada por seus "amanders". Ela agora busca convites para apresentar algum programa, o que ainda não aconteceu.

Depois de alguns anos em que os números de audiência caíram, o BBB viu sua repercussão crescer novamente em 2020. As razões foram várias. Para começar, a pandemia foi decretada já com o programa no ar. Confinados em casa, os espectadores descobriram que podiam se conectar pelas redes sociais para comentar o reality.

Além disso, a entrada de semifamosos na disputa agitou a dinâmica, e temas relevantes como machismo e racismo foram discutidos para valer a partir do programa.

Foi neste BBB 20 que um paredão entre a cantora Manu Gavassi e o empresário Felipe Prior atingiu a marca de 1,5 bilhão de votos, o recorde absoluto para uma atração do gênero. A Globo sempre fez questão de ostentar esses números altíssimos como autênticos troféus. Só isso explica a manutenção do voto da torcida, que permite um número ilimitado de votos por pessoa.

Mas a emissora também pretende manter alguma credibilidade para o BBB, além de segurar o interesse dos que não são fanáticos. Por isso, o voto único, por CPF.

Ou seja, a emissora quer o melhor de dois mundos. No entanto, se arrisca a ter o pior. As milícias digitais continuarão à toda, e o espectador comum pode achar o novo sistema complicado demais. Uma aposta perigosa, que tende a acelerar a decadência do programa.

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