Folha indica os melhores álbuns de 2023 segundo críticos; veja lista

Destaques são disco em que Xande de Pilares canta Caetano Veloso e a sofrência latina do cantor mexicano Peso Pluma

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Da esq. para a dir., o cantor mexicano Peso Pluma, a americana Caroline Polachek, o sambista Xande de Pilares e a violonista Gabriele Leite

Da esq. para a dir., o cantor mexicano Peso Pluma, a americana Caroline Polachek, o sambista Xande de Pilares e a violonista Gabriele Leite Divulgação

São Paulo

A Folha convidou seis profissionais envolvidos com a cobertura e a crítica de música para indicar, cada um deles, cinco dos melhores discos que ouviram este ano.

A única exigência foi que os convidados selecionassem álbuns inéditos, excluindo relançamentos. Os escolhidos incluem, portanto, discos feitos por artistas em vários países do mundo, indiscriminadamente.

Da esq. para a dir., o cantor mexicano Peso Pluma, a americana Caroline Polachek, o sambista Xande de Pilares e a violonista Gabriele Leite
Da esq. para a dir., o cantor mexicano Peso Pluma, a americana Caroline Polachek, o sambista Xande de Pilares e a violonista Gabriele Leite - Divulgação

O resultado é uma lista diversa de 29 álbuns que incluem dos mais diversos gêneros e estilos, do rap ao samba, da MPB à música experimental, do country ao soul, do pop ao rock. Apenas dois álbuns foram citados mais de uma vez —"Xande Canta Caetano", de Xande de Pilares, e "Génesis", do cantor mexicano Peso Pluma.

A lista completa segue abaixo, em ordem alfabética.

AMANDA CAVALCANTI

Crítica de música

Hood Hottest Princess
Sexyy Red. Gravadora: Open Shift/Gamma

Sempre ligeiramente fora da batida, Sexyy Red foi uma das maiores revelações do rap americano nesse ano e com motivo —para além dos hits "Pound Town" e "SkeeYee", a rapper juntou uma coleção de faixas que demonstram sua energia voraz no microfone num tributo ao dirty south.


Breu Eterno
Falsa Luz. Gravadora: Galafoice

Entre a luz e a escuridão, a banda mineira Falsa Luz compõe como um grupo punk, mas adiciona a estética atmosférica do black metal. Formado durante a pandemia, o grupo ainda carrega em seu som a sensação de enclausuramento e desespero.


10,000 Gecs
100 gecs. Gravadora: Dog Show Records/Atlantic Records

A dupla Laura Les e Dylan Brady reúne todo o lixo da cultura pop —nu metal, ska, pop punk, EDM, ou electronic dance music— para fazer os hinos dos outsiders. Mais do que tudo, é um disco dinâmico e que não perde de vista a diversão.


Génesis
Peso Pluma. Gravadora: Double P Records

A super-estrela latina da vez faz jus à sua fama com um disco longo, de 17 faixas e quase uma hora, mas que soa conciso e pensado a cada passo. O mexicano colocou algumas das melhores rimas do ano em seus "corridos tumbados" e ainda emplacou um megahit com "Lady Gaga".


Why Does the Earth Give us People to Love?
Kara Jackson. Gravadora: Independente/September Recordings

Inspirada pela morte de uma amiga, a poetisa americana jovem e premiada Kara Jackson fez um disco de estreia cheio de baladas folk sobre mortalidade e amor.


BÁRBARA BLUM

Repórter

Desire, I Want to Turn Into You
Caroline Polachek. Gravadora: Perpetual Novice

Lançado no auge do verão brasileiro e no dia dos namorados do hemisfério norte, o disco maximalista fala sobre as paixões arrebatadoras com um som pop barroco e rebuscado. Divertido, apaixonante e cafona na medida.

Praise a Lord Who Chews but Which Does Not Consume
Yves Tumor. Gravadora: Warp Records

Uma das figuras excêntricas da música hoje —ninguém crava sua idade, por exemplo—, é conhecido por fazer uma mistureba de rock, R&B e eletrônico que funciona bem. No novo álbum, a religiosidade envereda para uma visão gótica de divindade, bem contemporânea.


The Land Is Inhospitable and So Are We
Mitski. Gravadora: Dead Oceans

A cantora americana já é aclamada pelas suas composições há, pelo menos, uma década, além de ser hit no TikTok. Mais acústico e country, o novo álbum continua chorando as dores da mulher romântica com maestria.


Maps
Billy Woods & Kenny Segal. Gravadora: Backwoodz Studioz/Fat Possum Records

Lançamento do hip-hop independente americano que foge da ostentação com batidas bem mais lentas do que aquelas em que o trap vem apostando. Rap de nerd, reflexivo e cabeçudo que une dois mestres dessa abordagem.


O Amor, o Perdão e a Tecnologia Irão nos Levar Para Outro Planeta
FBC. Gravadora: Do Padrim Entretenimento

Diferente do antecessor "Baile", que deu tom do revival miami bass, o novo disco de FBC acumula menos milhões de plays em suas faixas, que são menos populares individualmente, mas formam um conjunto disco dançante delicioso.

CARLOS ALBUQUERQUE

Crítico de música

Canto Coral Afro-brasileiro
Os Tincoãs. Gravadora: Sanzala Cultural

Gravado em 1983 e lançado 40 anos depois, o disco "perdido" dos Tincoãs faz um entrelace entre os canaviais de Cachoeira, na Bahia, com as plantações de algodão do sul dos Estados Unidos. Gospel afro-brasileiro, vindo de uma mágica fenda no espaço-tempo.

Sundown
Eddie Chacon. Gravadora: Stones Throw Records

Meditativo, aveludado, com ecos do soul-jazz de Lonnie Liston Smith e Pharoah Sanders, "Sundown" traz o retrato sereno de um artista que abraça, e não briga, com a maturidade, e cuja voz carrega as marcas de quem aprendeu que subir e descer faz parte da vida.


Madre
Sofia Kourtesis. Gravadora: Ninja Tune

O luminoso álbum de estreia da produtora peruana, radicada na Alemanha, celebra a vida, com um pé na pista e outro nas ruas. O disco é dedicado à mãe de Sofia, que luta contra um câncer, e "a todas as pessoas LGBTQIA+ que são mães em suas comunidades", diz ela no encarte.


Xande Canta Caetano
Xande de Pilares. Gravadora: Gold Records/Uns Produções

Revelação é ouvir Caetano Veloso numa imaginária roda de samba puxada com elegância por Xande de Pilares e lindamente organizada por Pretinho da Serrinha. Um registro emocionante, como o próprio Caetano demonstrou.

Belezas São Coisas Acesas por Dentro
Filipe Catto. Gravadora: Joia Moderna

Filipe Cato acende Gal Costa por dentro de si mesma, numa sequência minimalista e, ao mesmo tempo, incendiária, de versões cheias de personalidade. Uma joia moderna.


FELIPE MAIA

Crítico de música

12
Ryuichi Sakamoto. Gravadora: Milan/Commmons

Quando lançado, em janeiro, "12" surgiu como mais um álbum da já prolífica carreira do compositor japonês. A obra dodecagonal, feita de peças minimalistas ao piano, paisagens sonoras e até mesmo ruídos de respiração, é um diário íntimo que se agigantou meses depois: em março, Sakamoto morreu vítima de câncer. "12" é seu crepúsculo póstumo.

Jesus Ñ Voltará
Mateus Fazeno Rock. Gravadora: Independente

Reforçando um bem-vindo germe na música brasileira —a de que o rock é música negra—, Mateus e banda usam overdrives e revolta como massa da mistura que vai de funk a dub. Nas letras, é cronista e niilista tal um pós-punk de favela em um Brasil abrasivo. Mateus não é nostálgico nem tampouco se nutre de esperança naïf. Segue em frente, com amor e ódio.


Fountain Baby
Amaarae. Gravadora: Golden Angel/Interscope Records

A ganesa-americana Amaarae é prova de que há mais do que hits na intensa maré do afrobeats, batendo cada vez mais forte no lado norte-americano do Atlântico Negro. Em "Fountain Baby", a jovem artista de voz angelical faz pop sem optar por fórmulas e apresenta ao mundo sua própria perspectiva do movimento alté— estilo de vida e música contemporâneos alternativos do oeste africano.


Génesis
Peso Pluma. Gravadora: Double P Records

Nascido no México, crescido nos Estados Unidos, Peso Pluma é símbolo de uma América Latina que se embrenha no Norte global. Em "Génesis", o "Doble P" conecta tradição e modernidade sem galho. Faz música que remonta ao cancioneiro da sofrência centroamericana, de corridos, rancheras e norteñas, e desemboca no hip-hop, no estilo e na prosódia.

O músico mexicano Peso Pluma durante o Grammy Latino de 2023, em Sevilha, na Espanha
O músico mexicano Peso Pluma durante o Grammy Latino de 2023, em Sevilha, na Espanha - JORGE GUERRERO/AFP

A Lenda
DJ Blakes. Gravadora: Love Funk Records/24por48

Para cada artista que se diz embaixadora do funk no estrangeiro, há vários ganhando o mundo —especialmente DJs, caso de Mu540, K, Ramon Sucesso, Vhoor e Blakes. Este último conseguiu a proeza de encapsular a babel sonora do Helipa, principal baile funk de São Paulo, em um álbum que atravessa subgêneros como automotivo e agressivo e supera as pétreas ideias de canção e faixa ao deturpar ritmo, melodia e harmonia.


GUSTAVO ALONSO

Crítico de música e colunista da Folha

Interessante e Obsceno
Martins. Gravadora: Deck

Martins é com certeza o melhor músico da atual cena pernambucana. Infelizmente ainda relativamente pouco conhecido no Sudeste, Martins combina inventividade com suavidade e ternura. Múltiplo instrumentista, cantor de raro talento, é compositor que chama a atenção pelo tom direto mas sem obviedade. A canção título do disco é um dos melhores achados da música brasileira em muito tempo.


Gali Galó
Gali Galó. Gravadora: Independente

Gali Galó é hoje o principal nome do queernejo, vertente do sertanejo que abriga cantores da comunidade LGBTQIA+. O disco transborda militância de gênero e sexualidade sem perder qualidade técnica. "Na Frente dos Bois", uma rara união de simplicidade, singeleza e multiplicidade de sentidos, enriquece o valor artístico da obra de Gali Galó.


Xande Canta Caetano
Xande de Pilares. Gravadora: Gold Records/Uns Produções

Um disco que fundiu mundos. É uma obra que mira o belo que há nas canções de Caetano. "O Amor", acompanhada por um bonito acordeon, chama a atenção.

O cantor Xande de Pilares em ensaio de divulgação do disco 'Xande canta Caetano'
O cantor Xande de Pilares em ensaio de divulgação do disco 'Xande canta Caetano' - Divulgação

Decretos Reais vol. 2
Marília Mendonça. Gravadora: Som Livre

Um álbum póstumo digno do legado da rainha da sofrência. "Decretos Reais vol. 2" mistura clássicos da sofrência nacional com o lançamento da segunda música mais tocada do ano no Spotify, a maravilhosa "Leão".

Escândalo Íntimo
Luisa Sonza. Gravadora: Sony

O disco que trouxe maturidade à obra Luisa Sonsa e o reconhecimento para além de sua bolha de fãs. A bela bossa "Chico" é um achado. A letra da canção é antiga em vários sentidos, romântica-submissa como as mulheres da canção do famoso Buarque, com pitadas de questionamento à pós-modernidade atual. Sonza parece ser uma das primeiras de sua geração a ter entendido os conselhos de Nelson Rodrigues: "Jovens, envelheçam!"


SIDNEY MOLINA

Músico, professor e crítico de música

Coração Bifurcado
Jards Macalé. Gravadora: Biscoito Fino

A poesia musical de Jards Macalé segue inteira e intensa neste álbum dedicado aos amores do amor. Para ele, inconformismo e guitarras distorcidas não excluem introspeção e sofisticação harmônica.

Sinfonia dos Orixás
Almeida Prado. Gravadora: Naxos. Interpretação: Osesp. Regência Neil Thomson

O misticismo libertário do compositor santista Almeida Prado (1943-2010) cultua sinfonicamente os orixás e explora múltiplas técnicas vocais em "Pequenos funerais cantantes". A interpretação de excelência é da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) com regência de Neil Thomson.


Negra Ópera
Martinho da Vila. Gravadora: Sony

No morro "não tem beleza pra se ver", e "a gente morre sem querer morrer". A trágica canção "Acender as Velas", de Zé Keti (1921-99), em interpretação de Martinho em dueto com Chico César, resume a proposta de "Negra Ópera", um álbum sobre a morte fortuita, desnecessária.

Ná Ozzetti canta Zécarlos Ribeiro
Ná Ozzetti. Gravadora: Tratore

Música "pra você que não me encara / fingindo que não me vê". Oriundo do Grupo Rumo —que já tinha no palco a intérprete magna Ná Ozzetti— Zécarlos Ribeiro mostra, pela primeira vez fora da banda que o consagrou, seu lirismo estranho, feito da junção da entoação falada com as curvas urbanas.

Territórios
Gabriele Leite. Gravadora: Rocinante

Álbum de estreia da violonista paulista de 24 anos, que enfrenta com categoria três obras centrais do repertório do instrumento, às quais adiciona uma versão de Villa-Lobos. Destaque para a "Sonata", de Sérgio Assad, interpretada com consciência rítmica perfeita e sonoridade mágica.

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