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'O Sequestro do Voo 375' é blockbuster à brasileira que quer bombar com crime real

Caso dos anos 1980 foi recriado dentro de avião de verdade, em filme que tem grande orçamento e muita ambição

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São Paulo

Foi ainda com pistas de aeroporto que pareciam simuladores de voo do início dos anos 2000 e paisagens pouco verossímeis no abrir da janelinha que "O Sequestro do Voo 375" começou a ser exibido para a imprensa. O filme, que chega agora aos cinemas, teve uma pós-produção onerosa, em relação a tempo e dinheiro.

Ficou pronto na iminência de ser exibido no último Festival do Rio, já com pistas de pouso e céus críveis o suficiente para que o público achasse que o avião no qual a trama se passa levantou voo. Pode até não ser o caso, mas as gravações ocorreram, de fato, dentro de uma aeronave, emprestada de um colecionador que manteve o Boeing dos anos 1980 preservado em sua fazenda.

Cena do filme 'O Sequestro do Voo 375', de Marcus Baldini
Cena do filme 'O Sequestro do Voo 375', de Marcus Baldini - Divulgação

Após um acordo de restaurá-lo em troca de montar ali um set de filmagem, outro desafio se impôs. A aeronave foi desmontada, colocada em uma frota de caminhões e levada de Goiás aos históricos estúdios Vera Cruz, na Grande São Paulo.

"O Sequestro do Voo 375" acompanha o piloto Fernando Murilo de Lima e Silva. Em 1988, ele conduziu uma série de manobras arriscadas para tentar desestabilizar Raimundo Nonato Alves da Conceição, que queria sequestrar um voo comercial da Vasp para arremessá-lo contra o Palácio do Planalto, numa resposta à crise vivida pelo Brasil e às políticas do então presidente José Sarney.

O caso foi estudado à exaustão, já que o comandante teria feito um tonneau, como é chamado o giro completo sobre o próprio eixo, manobra de caças que em teoria uma aeronave de grande porte jamais conseguiria realizar.

No set, uma das partes do avião foi acoplada a um maquinário que a girava em 360° durante as filmagens. Assim, atores precisaram tomar remédio para enjoo e ficar de ponta cabeça para gravar o clímax da história, enquanto jornais, bolsas e itens com o logo da Vasp, recriados a partir de imagens da época, voavam ao redor.

Parcialmente esquecido, o caso foi estudado à exaustão pelo diretor Marcus Baldini e a produtora Joana Henning, da Escarlate, que também se arriscou ao assumir um projeto do tamanho de "O Sequestro do Voo 375". O orçamento na casa dos R$ 15 milhões fica próximo dos recordistas do cinema nacional, e a expectativa é que o longa leve um público volumoso às salas de cinema.

"Esse é um filme que pensamos com o potencial de ter audiência grande. Vindo de uma época em que dois, três, quatro, cinco milhões aconteciam com certa frequência [nas bilheterias nacionais], adoraríamos contribuir para essa escadinha de retomada da confiança no cinema brasileiro", diz Baldini.

"É um filme que subiu um patamar de investimento e assumiu um risco, com um cinema-catástrofe, que não tem cultura no Brasil, então é um projeto que merece fazer parte dessa retomada. Seria importante para a indústria", acrescenta Henning.

Desde a pandemia, o cinema nacional não emplaca um grande hit do tamanho das comédias que, antes, não precisavam de muito esforço para rodar o Brasil com salas cheias. Há grande expectativa no setor, agora, para saber que título vai alçar voo para romper com a sensação de que há resistência na volta do brasileiro aos cinemas para ver suas próprias produções.

Para o diretor e a produtora, o trunfo de "O Sequestro do Voo 375" é ser um filme de gênero, nos moldes de uma grande trama de ação hollywoodiana. O projeto em si é faustoso o suficiente para ser comparado ao cinema americano, e tem dedo da Star Original Productions, selo da Disney para filmes nacionais, no financiamento.

Tentou fugir, no entanto, de um maniqueísmo encontrado sem grande esforço nos grandes espetáculos de ação produzidos lá fora. Não é como se o sequestrador fosse puramente um vilão. No filme, o espectador é levado a compreender que sua situação de abandono social o levou ao sequestro –mas ele é claramente despreparado para isso, está emocionalmente abalado e mal sabe o que está fazendo.

"Esse aprofundamento da complexidade das relações entre os personagens, dentro de um thriller, é uma coisa que me agradou, porque deu um lugar brasileiro, uma conexão emocional para o filme, para além da espetacularização que a ação oferece", diz o diretor.

Cena do filme "O Sequestro do Voo 375", de Marcus Baldini
Cena do filme 'O Sequestro do Voo 375', de Marcus Baldini - Divulgação

"Baldini trouxe para o projeto o conceito de traição. Murilo foi traído pela Vasp após [participar de] uma greve, Nonato foi traído pela questão social do país, os militares foram traídos pela chegada da democracia, a democracia foi traída pela ameaça dos militares. Isso cria uma tensão permanente entre os personagens", completa Henning.

Diretor e produtora dizem ainda que sentiram alívio ao notar que a filha de Salvador Evangelista, copiloto morto durante o crime, não se incomodou com a humanização do sequestrador, vivido nas telas por Jorge Paz.

Também estão no elenco Danilo Grangheia e César Mello, como o primeiro e o segundo em comando, e Juliana Alves, Wagner Santisteban, Diego Montez e Arianne Botelho, na tripulação.

O Sequestro do Voo 375

  • Quando Estreia nesta quinta-feira (7), nos cinemas
  • Classificação 14 anos
  • Elenco Danilo Grangheia, César Mello e Jorge Paz
  • Produção Brasil, 2023
  • Direção Marcus Baldini
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