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'Extra Bold' é manual para iniciantes rumo ao design feminista e antirracista

Livro de Ellen Lupton reúne verbetes e ensaios sobre cânone branco e europeu da disciplina e prega subversão de valores

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São Paulo

Associado à estética clean, de fontes perfeitas —caso da idolatrada Helvetica, que ganhou até um documentário—, o design gráfico costuma ser taxado de asséptico. Essa assepsia, porém, está longe de ser neutra e conserva uma série de valores, defendem as autoras do livro "Extra Bold: um guia feminista, inclusivo, antirracista, não binário para designers".

Escrito a muitas mãos em forma de manual, repleto de verbetes e ensaios por Ellen Lupton, Jennifer Tobias, Josh Halstead, Kaleena Sales, Farah Kafei, Leslie Xia e Valentina Vergara, o livro atesta que o design gráfico peca pelo seu eurocentrismo, pela falta de mulheres e pela recusa de estéticas não brancas.

A designer Ellen Lupton, autora de 'Extra Bold'
A designer Ellen Lupton, autora de 'Extra Bold' - Divulgação

"O processo de se aproximar da branquitude no design gera sensações de satisfação, já que designers são ensinados a evitar uma estética específica a uma cultura e aprendem a produzir para audiências mainstream, governadas por princípios eurocêntricos", escreve Sales.

Mas, segundo Lupton, havia a necessidade de rever a estética dominante, principalmente porque uma grande quantidade de estudantes de artes e design é mulher. "Apesar disso, homens brancos ainda dominam o topo da profissão em termos de salário e influência."

O livro, como um bom guia, começa do básico e explica conceitos como feminismo, racismo e capacitismo de formas bastante didáticas. Lupton diz que partiu desses pontos por não entender tanto esses conceitos ela mesma.

A abordagem acabou sendo útil. Segundo Otávio Nazareth, editor da Olhares, a decisão de publicar o livro no Brasil veio porque a necessidade de diversificar o design marca o mercado hoje. "Já há o interesse dos escritórios de design de incorporar a diversidade e o livro pode ajudar na visualização das muitas possibilidades e demandas", diz.

Essa mudança reflete no produto final. Para Lupton, o fato de o ensino de design ser centrado em instituições europeias, como a Bauhaus, e no modernismo suíço —duas referências monumentais do design gráfico— dificulta a valorização de outras referências criativas, como o hip-hop e a arte africana.

O hip-hop e seus ornamentos dourados e estampas extravagantes costuma ser dispensado, classificado de forma pejorativa como "gueto", e considerado poluído, contam as autoras no livro.

É um visual que bebe de uma cultura das ruas, diferentemente da venerada Bauhaus alemã, advinda do aço, do concreto, das cores primárias e da simplicidade. "Queremos criar o prédio puramente orgânico, livre de inverdades e ornamentos, que emana suas leis internas", disse Walter Gropius, o fundador da escola.

Segundo Lupton, é no ensino do design que a mudança deve começar, como foi com a então revolucionária Bauhaus do início do século 20. Ela diz que o livro acendeu a faísca de outras publicações sobre deficiência e diversidade no design. "A mudança não vai acontecer da noite para o dia. Todos devem participar."

Extra Bold: um guia feminista, inclusivo, antirracista, não binário para designers

  • Preço 149
  • Autoria Ellen Lupton, Jennifer Tobias, Josh Halstead, Kaleena Sales, Farah Kafei, Leslie Xia e Valentina Vergara
  • Editora Olhares

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