Descrição de chapéu Livros

Livro retrata móvel moderno brasileiro nas galerias e nas casas de colecionadores

'Horizonte Ampliado', de Jayme Vargas e Ruy Teixeira, documenta acervos de período celebrado do design nacional

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Nas últimas duas décadas, o móvel moderno brasileiro passou por um processo de revalorização, depois de ser meio deixado de lado nos anos 1980 e 1990. O mercado de dentro e de fora do país agora olha com interesse renovado para poltronas, cadeiras e sofás que atestam a originalidade do modernismo local.

Junto à esta perspectiva fresca, acervos se formaram e surgiram galerias especializadas em comercializar peças de Sergio Rodrigues, Joaquim Tenreiro, Zanine Caldas e Lina Bo Bardi, para citar alguns dos principais designers modernos do Brasil.

Poltrona Rio, de Jean Gillon (1965), parte da coleção do artista Rodrigo Bueno
Poltrona Rio, de Jean Gillon (1965), parte da coleção do artista Rodrigo Bueno - Ruy Teixeira/Divulgação Editora Olhares

"Nos últimos anos, o colecionismo ganhou sistematização, reflexão. A maneira com que os móveis são incluídos nas casas e nas galerias passou a ter bastante cuidado", diz o pesquisador Jayme Vargas, um dos organizadores de um livro recém-lançado sobre o atual estado do móvel moderno brasileiro.

"Horizonte Ampliado - Design Moderno Brasileiro" é o registro das visitas de Vargas, acompanhado do fotógrafo Ruy Teixeira, a 16 coleções e galerias no Brasil e no exterior voltadas à preservação, à difusão e à comercialização de peças do período mais celebrado do design brasileiro, que compreende desde a década de 1930 até mais ou menos a de 1970.

Cada acervo apresentado é descrito em um texto curto de tom ensaístico de Vargas e ilustrado com fotos de Teixeira. O livro traz acervos mais fáceis de serem acessados, como os das galerias paulistanas Apartamento 61, Passado Composto Século XX e Herança Cultural, mas também entra na casa de personalidades do setor cultural para mostrar como seus móveis dialogam com as suas coleções de arte.

No apartamento do joalheiro Rafael Moraes, um carrinho de chá de Joaquim Tenreiro dos anos 1960 é fotografado junto à uma escultura recente de Sonia Gomes. Na coleção do casal Fernanda Feitosa e Heitor Martins a poltrona Dinamarquesa, de Jorge Zalszupin, aparece junto à uma obra de Tunga e a dois metaesquemas de Helio Oiticica.

Embora os cenários das fotos tenham sido produzidos, o leitor vê os móveis em ambientes reais —não em um fundo branco infinito, como se fosse um catálogo de vendas— e entende como os colecionadores se relacionam com suas peças.

Estão retratadas tanto peças bastante conhecidas, como a poltrona Jangada, de Jean Gillon —parte da coleção do artista Rodrigo Bueno—, quanto preciosidades, como uma escrivaninha rara que Lina Bo Bardi fez para seu marido, Pietro Maria Bardi, pertencente ao acervo da galerista Luisa Strina.

Ao longo do livro, saltam aos olhos os traços do modernismo à brasileira, de desenho limpo e uso abundante de madeiras nobres num momento em que isso era permitido. Teixeira, o fotógrafo, lembra que muitos designers brasileiros se inspiraram na Bauhaus, mas fizeram adaptações locais, como deixar os assentos mais largos e as cadeiras, mais baixas.

Poltronas Saci (1965), de Jean Gillon, parte da coleção de Rodrigo Bueno
Poltronas Saci (1965), de Jean Gillon, parte da coleção de Rodrigo Bueno - Divulgação/Editora Olhares

Vargas, o pesquisador, destaca que a escola do design moderno brasileiro é uma das principais no cenário internacional, devido à alta qualidade do desenho e ao fato de haver um punhado de designers reconhecidos —não apenas um ou dois.

O livro aborda também galerias estrangeiras que difundiram o móvel brasileiro no exterior, a exemplo da Espasso, de Nova York, e da Nilufar, em Milão, um sinal da maturidade do mercado. O aumento da demanda significou também que os preços subiram e que agora não raro uma cadeira da época custa tanto quanto uma obra de arte.

"Eu vejo o mobiliário como obra de arte —na minha casa, os móveis são colocados com o mesmo cuidado com que são pendurados os quadros ou colocadas as esculturas. Para mim são manifestações artísticas do mesmo nível de uma pintura ou de uma escultura", diz o joalheiro Rafael Moraes. Ele acrescenta que busca procedência e "um viés afetivo" nas peças de mobiliário que tem, dentre as quais um raro sofá desenhado pelo artista Willys de Castro.

Por outro lado, há quem veja os móveis mais como itens do cotidiano. O galerista Alexandre Gabriel, cujo acervo aparece no livro, conta de seu sofá de Geraldo de Barros que já teve vários estofamentos por ter sido destruído por seus cachorros. "Não considero que tenho uma coleção e também não tenho só móvel moderno. Na verdade eu tenho uma casa", ele diz.

Horizonte Ampliado - Design Moderno Brasileiro

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.