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Como Banana Yoshimoto mescla Studio Ghibli e 'Amélie Poulain' em livro

Protagonista do japonês 'Doce Amanhã' enxerga espíritos para entender que a vida transcende a morte

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Doce Amanhã

  • Preço R$ 59 (128 págs.)
  • Autoria Banana Yoshimoto
  • Editora Estação Liberdade
  • Tradução Jefferson José Teixeira

Um romance recheado de espíritos que habitam espaços urbanos como uma mistura de Studio Ghibli com "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain". Assim é "Doce Amanhã’’, da escritora japonesa Banana Yoshimoto.

mulher asiática de meia idade com cabelo preto e roupas em roxo e cinza
A escritora japonesa Banana Yoshimoto, autora de 'Doce Amanhã' - Fumiya Sawa/Divulgação

Na obra, a barreira que separa os vivos dos mortos é diáfana, e um léxico abundante em termos que remetem à transparência, impermanência e fugacidade ajuda a criar a aura de verossimilhança. Resulta muito natural, assim, que a protagonista enxergue a energia que certos objetos emanam ou almas ocupando seus antigos lugares.

A história é narrada em primeira pessoa pela voz cândida de Sayo, uma jovem mulher vítima de um acidente de carro com o namorado Yoichi, mas só ele morre.

O livro não escapa de narrar o luto da personagem, tema que parece recorrente no mercado editorial de um mundo com epidemias, guerras e desastres. Some-se a isso certa tendência literária de escrita memorialística sobre famílias e o luto será um assunto praticamente incontornável.

Mas Yoshimoto é hábil em falar do assunto de uma maneira muito peculiar que enche de esperança os que ficam. A ficção não precisa educar ou orientar. No posfácio, porém, a escritora conta que escreveu pensando em ajudar os afetados —vivos ou mortos— pelo terremoto da região de Fukushima em 2011.

Fornecendo uma perspectiva do pensamento oriental, incluindo o budismo, Yoshimoto realiza um livro que é puro conforto sem ser piegas. Sua estratégia é a valorização da vida. "Estar vivo ou morto dá no mesmo. Todos temos realmente tudo dentro de nós", diz a personagem, sem nada de cinismo em seu raciocínio.

No acidente, ela foi perfurada por uma barra de metal que o namorado usaria para fazer uma escultura. O ferimento, de difícil recuperação, serve como metáfora para o portal que se abriu para ela a partir de sua experiência de quase morte.

No mundo dos mortos, é recebida pelo cachorro de estimação e pelo avô, que recomenda: "Volte ao mundo dos vivos para aprender melhor a viver". Seguindo o conselho, vai descobrindo que a vida não depende, necessariamente, da matéria.

Todos estão vivos, mesmo que na memória, no legado do trabalho (no caso do avô e do namorado, ambos escultores, em suas obras de arte) ou até mesmo nos altares budistas para os mortos.

A expressão dos sentidos da narradora, descrevendo o que vê, escuta e sente, torna tudo mais bonito e transcendente, coberto por uma névoa de vitalidade. Ela chega a se sentir parte integrante da paisagem natural de Quioto, onde fica o ateliê do namorado —uma das chaves para entender que a vida é um todo, incluindo a natureza, não apenas da existência humana.

Sayo demonstra genuína gratidão por estar viva e passa a valorizar aquilo que antes era banal. "O ruído da água borbulhando dentro da cafeteira ressoou e o aroma do café se espalhou. O som se assemelhava a uma suave oração", relata a narradora. Afinal, como a personagem aprende, "viver é algo simplesmente extraordinário".

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