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Artes Cênicas

Público ri de nervoso na irreverente 'Radojka', com Marisa Orth

Peça já montada em 12 países conta a história de duas cuidadoras que tentam sobreviver após a morte de idosa

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RADOJKA - UMA COMÉDIA FRIAMENTE CALCULADA

As reviravoltas e as situações absurdas presentes em "Radojka: Uma Comédia Friamente Calculada" provocam risos ora nervosos, ora libertadores no público da peça em cartaz no Teatro Faap.

O texto ágil dos uruguaios Fernando Schmidt e Christian Ibarzabal fez Marisa Orth rir muito durante a primeira leitura, o que ela revela não ser algo comum nas ocasiões em que recebe peças.

Foi o sinal para decidir participar da montagem dirigida por Odilon Wagner. Ele e a atriz Tania Bondezan foram os responsáveis por apresentar a obra a Marisa, que faz jornada dupla em São Paulo —em dias alternados, está em cartaz também com "Barbara", peça baseada no livro sobre alcoolismo da jornalista Barbara Gancia.

Marisa Orth e Tania Bondezan, as protagonistas da peça "Radojka" - Bruno Santos/Folhapress

Na comédia, Glória, vivida por Marisa, e Lúcia, interpretada por Tania, são duas cuidadoras de idosos que entram em pânico com a possibilidade de perder o emprego após a morte da octogenária Radojka, uma sérvia que mora longe da família e é mantida pelo filho por meio de um pagamento mensal.

O acidente doméstico que mata a velha dá origem a uma série de peripécias para as cuidadoras conseguirem manter o emprego e o dia a dia confortável no apartamento, reproduzido em detalhes no cenário.

O revezamento nos cuidados com a idosa é substituído por um troca-troca de pilantrices, justificadas pela necessidade de sobrevivência em um mercado de trabalho que rejeita as mulheres mais velhas e por argumentos bizarros, indefensáveis, mas também engraçados.

O cadáver em cena e a cumplicidade com as duas malandras provoca o riso nervoso e até uns gritinhos de apreensão na plateia. O non sense, entretanto, não impede as gargalhadas livres, mesmo em uma peça que aborda temas como o abandono familiar, a busca pela sobrevivência, a ganância e a morte.

Irreverente e sem preocupação com os engajamentos políticos contemporâneos, "Radojka" possibilita uma noite divertida, como se a metrópole lá fora não vivesse o caos provocado pela falta de energia elétrica, pelo medo da violência e por alertas de calor extremo e tempestades.

A química entre as atrizes, os diálogos quase sem pausa para respirar e as surpresas da narrativa colaboram para a leveza da obra.

Marisa encontra em Tania uma parceira ideal para o jogo teatral proposto em "Radojka", uma peça montada em 12 países e premiada na Argentina e no México. As duas não titubeiam nas trocas de farpas, fingimentos e trapaças.

É interessante assistir "Barbara" e "Radojka" com poucos dias de diferença e perceber as coincidências entre a jornalista que aparece na primeira montagem e a cuidadora da segunda: o sarcasmo, a ironia, uma certa falta de paciência com quem não aparenta ser muito esperto parecem incorporados em Marisa.

Já Tania, que fez sucesso em novelas do SBT, abrasileira o texto uruguaio ao fazer piada com o nome da emissora e ao citar um dos bordões da apresentadora Ana Maria Braga, da Globo.

Em um mundo que encaretou, como diz Marisa, não é pouco entreter com leveza e deixar a sensação de que o espetáculo poderia durar um pouco mais.

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