Morreu aos 92 anos, neste domingo (14), Lygia de Azeredo Campos, poeta e mulher do autor Augusto de Campos. Ela estava internada no hospital Samaritano, mas a família não confirmou a causa da morte.
Presença expressiva no grupo de poesia concreta, interlocutora e colaboradora de pesquisas de Augusto, teve uma produção poética bissexta e participou de revistas e exposições. Lygia será enterrada no início da tarde desta segunda-feira, no Cemitério do Araçá, após um velório com amigos e familiares.
Nascida em 15 de junho de 1931, no Rio de Janeiro, onde frequentou o curso de letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Lygia acompanhou debates sobre poesia moderna e aproximou o poeta Ronaldo Azeredo, seu irmão, das experiências do Grupo Noigandres de São Paulo.
Suas vivências estariam no centro da renovação da poesia brasileira no século 20. Em 1954, ela se casou com Augusto de Campos, no Rio. Sua irmã Ecila se casaria com o poeta, tradutor e ensaísta José Lino Grünewald.
Na plaquete "Passos e Expassos", publicado pela Galileu Edições, em 2019, sua antologia organizada por Augusto e editada por Jardel Cavalcanti, ela expôs a relação intensa com a arte poética. "O ambiente em que vivenciei a poesia sempre foi o da poesia concreta e visual, em face do meu relacionamento profundo com os seus principais protagonistas brasileiros", escreveu.
"Dentro desse contexto, as formas visuais que aparecem em alguns poemas surgiram espontaneamente da liberação sintática das palavras, e me pareceram enriquecer os textos, propiciando leituras diversas. Por outro lado, em meus poemas, a grafia manuscrita, pessoal, traduz ao mesmo tempo essa vivência e a minha despretensão".
A plaquete incorporou o poema "adormeço. mereço?/ meço as palavras. me-/ ço o tempo, envelheço". Na revista "Código" nº 5, apareceu seu "poema-beijo para augusto", de julho de 1979, no qual inscreveu no meio de uma marca de batom vermelho: "como foi/ como é/ como flor/ como amor/ como amiga/ como vida".
Em 1953, ela foi a inspiradora do poema em cores "lygia fingers", incorporado à série "Poetamenos", de Augusto, seu então namorado. Posteriormente, o próprio Augusto gravaria a obra, e integraria o disco "Trem dos Condenados", de Marcus Vinicius. O poema "ly", da coletânea "Despoesia", também foi dedicado a ela pelo marido.
Lygia chegou a integrar a exposição "Brazilian Visual Poetry", com curadoria de Regina Vater, no Mexic-Arte Museum em Austin, no Texas, em 2002. Em "Pagu: Vida-Obra" (1982), Augusto registra a colaboração da esposa na pesquisa e seleção de informações sobre a escritora modernista.
"Lygia era uma mulher forte e ao mesmo tempo delicada. Trocamos muita correspondência no tempo em que morei em Salvador", conta a artista visual Lenora de Barros. "Ela adorava Bachelard. As melhores lembranças dessas nossas trocas, conversas".
Em seu apartamento em Perdizes, o casal sempre recebeu amigos e jovens artistas e escritores para longas conversas sobre literatura, política e criação poética. No livro "Verdade Tropical", Caetano Veloso descreve o ambiente "de uma sensibilidade a um tempo aberta e meticulosa" na sala de Lygia e Augusto.
"Ali ouvíamos Charles Ives, Lupicínio, Webern e Cage, e falávamos da situação da música brasileira e dos festivais. Nós, os jovens tropicalistas, ouvíamos muitas histórias de personagens do movimento dadá, do modernismo anglo-americano, da Semana de Arte Moderna brasileira e da fase heróica da poesia concreta", lembrou o músico.
Lygia deixa seu marido, sua irmã Ercila, dois filhos (Roland e Cid), três netos (Julie, Theo e Raquel) e uma bisneta (Lara). "Era uma pessoa de uma sensibilidade imensa. Sempre muito carinhosa, me ensinou o que era o amor", diz a neta Julie Bozon.
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