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Achado após séculos, livro é introdução ideal à literatura medieval

Medievalista italiano Emanuele Arioli encontrou fragmentos de 'Segurant, o Cavaleiro do Dragão' em 29 manuscritos diferentes

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Alex Castro

Escritor, é autor de 'Atenção.' e 'Mentiras Reunidas'

Segurant, O Cavaleiro do Dragão: O romance perdido da Távola Redonda

  • Preço R$ 79,80 (256 págs.); R$55,90 (ebook)
  • Autoria Emanuele Arioli
  • Editora Vestígio
  • Tradução Emanuele Arioli

O Cavaleiro do Dragão

  • Preço R$ 84,90 (104 págs.); R$59,90 (ebook)
  • Autoria Emanuele Arioli, Emiliano Tanzillo
  • Editora Nemo
  • Tradução Renata Silveira

Segurant, o Cavaleiro do Dragão

  • Preço R$ 69,80 (72 págs.); R$ 48,90 (ebook)
  • Autoria Emanuele Arioli, Emiliano Tanzillo, Alekos
  • Editora Yellowfante
  • Tradução Emanuele Arioli

Não é todo dia que se encontra —e se publica— um texto medieval perdido há séculos. Em 2010, o italiano Emanuele Arioli encontrou o texto de "Segurant, o Cavaleiro do Dragão" em um manuscrito francês do século 13.

Um homem está posicionado em um arco de pedra, vestindo um casaco cinza e uma blusa preta. Ele tem as mãos nos bolsos e está olhando para frente, com uma expressão séria. O fundo mostra uma paisagem com colinas e um céu nublado.
Medievalista Emanuele Arioli em cena do documentário 'Cavaleiro do Dragão: o romance perdido da Távola Redonda' - Divulgação

Como a narrativa estava incompleta, ele partiu em uma peregrinação digna de um herói medieval pelos arquivos da Europa buscando pelo resto. Encontrou fragmentos da história em outros 28 manuscritos, assim como versões alternativas e continuações posteriores dos séculos 14 e 15, e as reconstituiu em uma narrativa coerente.

Em 2019, publicou na França uma edição crítica do texto, em dois volumes em francês antigo. E, ano passado, saíram também uma versão em um único volume, traduzida para o francês moderno; um livro infantojuvenil, narrado pelo próprio Arioli com a história da busca pelo manuscrito; e uma graphic novel que adapta livremente a história, preenchendo suas muitas lacunas com criatividade.

Os três últimos estão sendo lançados agora no Brasil pela editora Autêntica em seus diferentes selos: o romance, pela Vestígio; o infantojuvenil, pela Yellowfante, e a graphic novel, pela Nemo.

Foi o próprio Arioli quem traduziu o texto para o português. Apaixonado pelo Brasil, ele morou no Rio de Janeiro durante a pandemia e foi professor visitante da UFRJ em 2022.

O autor explica que não é fácil encontrar tradutores do francês antigo e, portanto, quaisquer traduções internacionais seriam feitas a partir de sua versão em francês moderno, ou seja, seriam traduções da tradução. Como forma de evitar esse ruído, ele traduziu diretamente do francês antigo para o italiano, espanhol, inglês e português.

Para obter o sabor e o ritmo do português medieval, usou como base "A Demanda do Santo Graal", texto lusitano do século 15. Para adicionar brasilidade aos diálogos, usou vários cordéis de temas medievais.

O universo artúrico é a versão medieval do universo expandido da Marvel. Uma versão sem direito autoral e que se manteve relevante por séculos. Qualquer autor europeu da época podia criar um novo cavaleiro da Távola Redonda ou inventar novas versões ou aventuras dos antigos cavaleiros. O cavaleiro Segurant é mencionado de passagem em várias obras artúricas, mas só desta narrativa ele é o protagonista.

Arioli especula que Segurant é provavelmente inspirado no herói nórdico Sigurd ou Siegfried, também famoso por ser matador de dragões. Usando termos de hoje, poderíamos considerar "Segurant, o Cavaleiro do Dragão" como um "crossover" entre os universos expandidos nórdico e artúrico.

Mas Segurant não é um cavaleiro medieval idealizado como Roland ou Amadís. Ele não tem uma amada perfeita para cortejar, como Lancelot. Dinadan, um dos companheiros de aventuras de Segurant, zomba dele de forma tão desrespeitosa que teria sido morto por outro cavaleiro mais sério.

Segurant é enorme e tem um apetite descomunal, grotesco —como os gigantes Gargantua e Pantagruel da obra homônima de Rabelais, já do século 16. Outro de seus companheiros, Palamedes, enlouquece e sai em fúria pela floresta —como depois enlouqueceria o protagonista de "Orlando Furioso", de Ariosto.

Talvez mais importante, seu grande nêmesis, o dragão, é uma ilusão criada pela Fada Morgana para distraí-lo —como os moinhos contra os quais investe Dom Quixote, no século 17.

Ou seja, Segurant, apesar de transitar no mundo dos cavaleiros medievais idealizados, já antecipa várias das futuras correntes literárias que desembocariam no romance contemporâneo. Este texto —até ontem desconhecido e de leitura imperdível— é um degrau importante, quase um elo perdido, na cadeia que leva dos livros de cavalaria medievais aos filmes da Marvel.

Hoje em dia, quando os novelões realistas do século 19 parecem cada vez mais caretas e formulaicos, os textos da Idade Média compartilham do frescor da melhor literatura contemporânea.

"Segurant, o Cavaleiro do Dragão", com sua estrutura fragmentária, falsos começos e versões alternativas, pode ser uma perfeita introdução a uma literatura que, apesar de antiga, parece mais próxima de Bolaño e Borges do que de Balzac e Brontë.

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