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De baixo custo e sem grandes estrelas, terror é espaço lucrativo de testes

Gênero deve ser levado a sério como estratégia para atrair espectador ao cinema, diz autora

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Em 2017, “It – A Coisa” se tornou o filme de terror mais lucrativo da história, com uma bilheteria de mais de US$ 300 milhões só nos EUA; “Corra!” tomou a terceira posição do ranking e ainda garantiu um Oscar de roteiro original para Jordan Peele, além de mais três indicações nas principais categorias da premiação. Hollywood entendeu o recado e garantiu um 2018 assustador com títulos como “Um Lugar Silencioso”, “Halloween”, “A Freira” e “Hereditário”.

Dirigido por John Krasinski, o primeiro faturou mais de US$ 188 milhões na bilheteria americana, com orçamento de apenas US$ 17 milhões. Competindo com megaproduções da Marvel e outras franquias consagradas, como “Missão: Impossível” e “Jurassic World”, é a 12ª maior bilheteria do ano e um dos raros filmes originais entre os 20 primeiros colocados, salvando a Paramount de uma série de fracassos.

Nos EUA, “Halloween” quebrou vários recordes: melhor bilheteria de estreia de toda a franquia (inclusive o original de 1978), melhor estreia de um terror com uma mulher como protagonista, melhor estreia com uma atriz acima dos 55 anos e a segunda maior estreia de terror de todos os tempos, atrás apenas do fenômeno “It – A Coisa”. Sua multidão de espectadores também colaborou com o melhor mês de outubro da história do cinema.

Apesar de muitas críticas negativas, “A Freira” foi mais um trunfo comercial da produtora Blumhouse. Com um orçamento de US$ 22 milhões, faturou mais de US$ 117 milhões nas bilheterias americanas, disparando na frente dos outros títulos relacionados ao universo “Invocação do Mal”, o original de 2013. Em 19 países, incluindo o Brasil, conquistou a melhor estreia de terror de todos os tempos.

Em escala menor, mas com conquistas consideráveis, “Hereditário” foi destaque do Festival de Sundance e rendeu boatos de uma possível (ainda que improvável) indicação ao Oscar para a atriz Toni Collette. 
A obra de estreia de Ari Aster superou “A Bruxa” (2015), até então o terror mais bem-sucedido da produtora independente A24 —a mais nova parceira do futuro serviço de streaming da Apple e que é também responsável por dramas premiados, como “Moonlight: Sob a Luz do Luar”.

mulheres vestem trapos vermelhos em uma espécie de coreografia
Dakota Johnson, Mia Goth e Olivia Ancona estão no filme "Suspiria" (2018), de Luca Guadagnino - Divulgação

Ovacionado no último Festival de Veneza, “Suspiria” deve estrear só em 2019 no Brasil. Baseado na obra-prima de Dario Argento, de 1977, o filme tem direção do italiano Luca Guadagnino, o mesmo do delicado “Me Chame pelo Seu Nome”, vencedor do Oscar de roteiro adaptado e indicado em outras três categorias.

Na cerimônia deste ano, vimos o cineasta mexicano Guillermo del Toro receber as estatuetas de melhor diretor e melhor filme por “A Forma da Água”, um romance com inspiração em “O Monstro da Lagoa Negra”, clássico de 1954. A história da faxineira muda que se apaixona por uma criatura aquática é uma declaração de amor ao gênero favorito de Del Toro: o terror.

Com produções mais voltadas ao mercado, ou de viés artístico, seja com histórias originais, refilmagens ou sequências, 2018 comprovou que o terror deve ser levado a sério, tanto pelos produtores quanto pela crítica, como uma estratégia para atrair o espectador de volta à sala de cinema.

De baixo custo e sem necessidade de grandes estrelas para atrair bom público, o gênero é como um lucrativo laboratório de experiências, sempre à beira de uma nova descoberta.

Cineastas como Roman Polanski (“O Bebê de Rosemary”), William Friedkin (“O Exorcista”) e Steven Spielberg (“Tubarão”) devem suas carreiras, em parte, à liberdade do cinema de gênero, que lhes permitiu experimentar diferentes técnicas de roteiro, fotografia, edição e efeitos especiais.

Também foi o terror que abriu as portas para atores como Tom Hanks, Kevin Bacon, Leonardo DiCaprio e Charlize Theron.

Com a previsão das estreias de “It: A Coisa – Capítulo 2”, das refilmagens de “Cemitério Maldito” e de “O Grito”, além dos originais “A Maldição da Chorona” e “Nós”, novo filme de Jordan Peele, 2019 promete ser mais um ano fértil para o gênero.

 
Na sequência de “It – A Coisa”, Andy Muschietti retorna à direção para contar a história do “Clube dos Perdedores”, grupo de personagens criados pelo escritor Stephen King, 27 anos após o primeiro confronto com o palhaço Pennywise. Com o sucesso do primeiro filme, a sequência conseguiu atrair atores conhecidos, como Jessica Chastain e James McAvoy.

Também inspirado na obra de King, “Cemitério Maldito” tem a direção de Kevin Kölsch e Dennis Widmyer, dupla que conquistou a Paramount com o independente “Starry Eyes”, de 2014. Já Nicolas Pesce foi contratado pela Sony para refilmar “O Grito” graças às críticas positivas que recebeu por “Os Olhos da Minha Mãe” (2016), um terror todo em preto e branco e com trilha sonora de fado português.

A nova aposta da Warner, “A Maldição da Chorona” é o filme de estreia de Michael Chaves, já escalado por James Wan, diretor e produtor de “Invocação do Mal”, para dirigir o futuro “Invocação do Mal 3” (sem previsão de lançamento). Jordan Peele, por sua vez, não tem interesse em sequências, mas voltará a discutir racismo com “Nós”, pela Universal.

À medida que novos talentos são descobertos e assimilados pelos grandes estúdios, a responsabilidade de lidar com orçamentos mais polpudos pode, talvez, tolher a criatividade dos diretores mais artísticos, mas teremos de esperar para ver (por dedos entreabertos).


Ieda Marcondes é formada em cinema com pós-graduação em jornalismo cultural, é crítica de cinema.

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