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Marcos Augusto Gonçalves

Rato pariu um rato, e governo Bolsonaro acabou

Atos foram proporcionais à dimensão moral e política de seu idealizador

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Marcos Augusto Gonçalves

Editor da Ilustríssima e editorialista. Foi editor da Ilustrada, de Opinião e correspondente em Milão e em Nova York

Seria um erro dizer sobre as manifestações do 7 de Setembro que a montanha pariu um rato.

Para início de conversa, não há mais montanha. A onda bolsonarista de 2018 passou, e a popularidade do presidente murchou nas pesquisas, acompanhando os desastres de seu governo. Continua a haver, contudo, dentre os 25% a 30% que bem avaliam sua atuação, uma base bovina mobilizada e mobilizável, como se viu no rodeio bananeiro e patético de Brasília, com direito a Nelson Piquet no papel de piloto do atraso, e no cortejo da Paulista.

O presidente Jair Bolsonaro discursa na avenida Paulista no feriado da Independência
O presidente Jair Bolsonaro, cercado por apoiadores, discursa na avenida Paulista no feriado da Independência - Danilo Verpa/Folhapress

Mais adequado, portanto, nesse caso, dizer que o rato pariu um rato. A imagem é sugestiva não apenas pelas reverberações morais e políticas que evoca, mas também pela proporcionalidade entre criador e criatura.

O que se viu na Esplanada e em São Paulo foram manifestações compatíveis com a estatura de quem as concebeu. Uma tentativa assustada de assustar as instituições, na qual o presidente, na impossibilidade de apresentar qualquer coisa de útil e crível ao país, se ofereceu em tom sacrificial ao rebanho fanático e aparvalhado.

Desconectado da realidade, mentalmente desequilibrado, acossado pela possíblidade de ser preso ou tornar-se inelegível, Bolsonaro passou o dia em surto, a brincar de soldadinho de chumbo, andar de helicóptero, atacar o Estado de Direito e dizer que não vai obedecer mais determinações de seu fantasma dileto, o ministro Alexandre de Moraes, do STF.

Bolsonaro sempre foi um erro monstruoso, que contou com apoio da massa idiotizada e de gente que teve todos os meios para estudar e se preparar para exercer uma liderança civilizatória, mas que insiste em atalhos oportunistas e optou por atuar nas entidades empresariais, na mídia e nas instituições políticas para eleger o capitão fascistoide —aquele que, como se repetia enganosamente, iria apenas cuidar da pauta conservadora de costumes enquanto Paulo Guedes providenciaria a revolução liberal.

Menos mal que as manifestações deste 7 de Setembro não tenham dado ao presidente o anabolizante que poderia eventualmente animá-lo a seguir com o golpe que tanto anuncia e tanto deseja. Foram bem simbolizadas por aquele pênis inflável verde e amarelo que apareceu na Paulista e circulou em fotos pelas redes. Foi a isso que se reduziu o governo.

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